Capítulo 5. Livre

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MIAMI
Outubro, 2004

A sensação de vitória e liberdade ao passar por aquela ponte foi única. Em nenhum outro momento da minha vida, até aquele momento, eu tinha sentido algo parecido com aquilo, o sentimento de ter conquistado a liberdade enganando especialistas era algo poderoso, indescritível. Eu me sentia indestrutível. Se eu tinha conseguido enganar psicólogos e psiquiatras, eu conseguiria fazer com que todos acreditassem na minha mudança.

Bom, isso é o que eu achava. Mas descobriria que uma pessoa não ia acreditar na minha farsa. Uma pessoa que desconfiaria até da minha sombra e, se essa pessoa descobrisse que eu estava mesmo enganando a todos e os meus planos, poderia colocar tudo a perder.

Levei apenas um pouco mais de uma hora para chegar à Miami. A clínica ficava em Key Largo. Mas isso eu já tinha descoberto quando Michael ainda estava na clínica.

O carro parou em frente à minha casa e eu saltei depois de pagar a corrida. Peguei a minha bagagem e olhei para a casa, feliz de poder voltar. Andei pelo passeio do jardim e parei na porta tocando a campainha. Pelo horário, meus pais deveriam estar almoçando. Demorou apenas alguns segundos para a porta se abrir e meu pai me olhar surpreso.

— Oi – disse sorrindo e então ele fez algo que eu não esperava que ele fizesse. Ele me puxou pelos ombros e me abraçou com força.

Meu pai não era de demonstrar vulnerabilidade ou tanto afeto. Ele sempre foi um homem sério, de porte e atitudes determinantes, que não se deixava abalar por nada. E apesar de ter feito o que fez, de ter me internado contra a minha vontade, de ter se mantido firme ao me levarem dali, eu sabia que ele tinha sofrido com aquilo. Sabia que ele tinha feito aquilo apenas porque ele estava preocupado comigo, que ele queria o meu bem-estar. Mesmo com toda a raiva que eu senti nas primeiras semanas naquela clínica, eu senti falta dele. Porém, eu tinha que seguir com o meu fingimento. Meu pai não poderia saber nunca que o tratamento que me obrigou a fazer não tinha surtido efeito e todo o seu esforço tinha sido em vão.

— Me desculpa – pedi ainda abraçado a ele –, me perdoa, eu...

— Não. Não me peça isso. Sou eu quem deveria te pedir isso. Mas eu só...

— Eu sei. Você só queria o meu bem. Só fez isso porque estava preocupado comigo e me ama. – Me soltei dele e o olhei. Ele assentiu visivelmente emocionado. Eu, é claro, já estava com lágrimas descendo pelo meu rosto. – Eu deveria era te agradecer. Eu estava mesmo precisando disso. – Enxuguei as lágrimas e suspirei. – Agora eu sei que eu não estava sendo eu mesmo e precisava de ajuda. Agora eu estou bem. Graças a você.

— Meu filho. – Ele tocou em meu rosto e me abraçou novamente, aliviado. – Como é bom ouvir isso.

Com certeza eu não ia precisar convencer tanto o meu pai de que eu tinha mesmo mudado com o tratamento e voltado a ser como era antes.

— Richard, a comida está esfriando. Quem está na porta? – Ouvi a voz de minha mãe vindo dos fundos e apareceu no corredor.

— Eu! – falei sorrindo me soltando de meu pai e olhei para ela abrindo os braços.

Minha mãe soltou um grito estridente, um grito que só ela sabia dar quando ficava feliz ao extremo.

— Oh meu Deus! – Ela veio correndo repetindo a mesma frase sem parar até chegar a mim e me abraçar tão apertado que eu senti os meus ossos estalarem. – Meu filho voltou! Meu bebê voltou!

— Mãe, você está me esmagando – falei rindo e abracei a levantando do chão.

— Meu príncipe voltou! – exclamou e beijou o meu rosto.

Obsessão: Los Angeles - Vol. 2Where stories live. Discover now