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W I L L I A M
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Ret: não, porra! - gritei sem paciência - já falei que você não vai entrar. Não vou falar de novo Matheus

Ele saiu da sala batendo porta, dessa vez acho que ele para de me perturbar.

Foguete: Ret, o tio ligou - ele entrou na minha sala me entregando o baseado
- ele tá enviando convites pra família, o seu já chegou

Peguei a folha toda preta e quando abria dava pra ver as letras todas douradas. Com o lema da família e as informações.

Ret: ele não falou mais nada? - negou - deve ser sobre aquela droga lá

Foguete: pode ser, talvez seja pra anunciar algum membro novo

Ret: pode ser também - dei de ombros lendo o papel - tanto faz

Foguete: você acha que essa nova droga deles, vai vender bem aqui no morro? - ele sentou na cadeira enfrente a minha mesa - não ouvi falar muito sobre ela, você sabe como é?

Ret: não sei muita coisa, recebo as mesmas informações que você - entreguei o baseado pra ele.

Foguete: é esse coquetel, será que o pai finalmente vai revelar a indentidade?

Ret: eu acho que ele nunca vai revelar. Deve ser muito importante na mídia, não vai querer o nome associado a uma facção

Foguete: também pensei isso. Só o tio que deve saber quem ele é - ri quando vi o que estava escrito no papel - qual foi?

Ret: você foi convidado também - os olhos dele virou duas bolas de basquete de tão arregalados que ficou.

Foguete: tá brincando? - neguei - caralho, deixa eu ler

Ret: aqui ó - apontei pro nome dele - William e Daniel

Foguete: ué, eles podem saber nossos nomes? - me olhou confuso - pensei que era só pelo vulgo

Ret: dizem que o pai sabe nossa vida de cabo a rabo. Nome, sobrenome, até nosso passado mais obscuro

Foguete: nossa - falou surpreso - é como é lá? As pessoas vão bem arrumadas?

Ret: todo mundo vai dentro de um personagem - confessei - se vestem sério, andam sério, falam sério. Mas na verdade do lado de fora são totalmente diferente. Então respondendo sua pergunta, sim, eles vão bem arrumados e se comportam com classe

Foguete: você se inclui nessas descrições?
- riu.

Ret: talvez - relaxei o corpo na cadeira - todos querem causar uma boa impressão no pai, ele sempre está de olho nos seus

Foguete: então quando eu sair daqui vou comprar até roupa nova pra esse evento - peguei o baseado de volta - quero causar boas impressões

Ret: foguete - chamei antes dele sair - isso é sigilo total, ok? Não vai querer morrer, então não comenta com absolutamente ninguém

Foguete: silêncio total - fez movimento de zíper na boca e saiu.

Soltei a fumaça e olhei pra janela enorme que tenho na minha sala. Ela é toda de vidro fumê e tem a visão de uma boa parte da favela.

O dia tá ensolarado, bonito, deveria ter futebol hoje. Os meninos deveriam ser mais espertos quando forem marcar os jogos, sempre são marcado em dia de chuva.

Foguete: chefe, licença - fiz sinal com a mão mandando o mesmo entrar - a carga está em movimento

Ret: deixa eu ver - trouxe o computador onde passava câmeras de seguranças que foram hackeadas - quanto tempo até chegar no rio?

Foguete: na velocidade dele, só chega aqui amanhã

Complicado, amanhã já vão ter outras coisas pra serem resolvidas.

Ret: ok, continua monitorando cada movimento desse avião. Qualquer imprevisto, me avisa!

A porta foi fechada e novamente meu silêncio de paz pôde reinar.

Alguns papéis ainda faltava ser calculados, acabei esquecendo eles quando o Daniel entrou aqui.

Comecei a fazer as contas, vendo se os cálculos batem certos. Essas coisas prefiro que eu mesmo faço, já fui passado a perna duas vezes. Acho que agora aprendi. Tive que ficar mais esperto nesse assunto depois que entrei pra família.

A família é uma facção do rio onde é comandada por um grande homem pra sociedade. Esse que não pode por hipótese alguma, mostrar o rosto. Ele é o chamado
"o lá de cima". Tudo que fazemos ou querendo fazer, tem que ser aprovado por ele. Ele manda e desmanda apenas pela sombra. O único que já viu sua verdadeira indentidade, é o tio, seu braço direto. Nós, os de baixo, devemos sempre seguir as regras e ditaduras do grupo.

Matheus: tem como me emprestar uma grana aí? - ele outra vez entra na sala. Viro pra frente devagar e olhei em seu rosto. Abatido, magro, pálido. Drogas. - vai me emprestar?

Ret: onde comprou as drogas?

Matheus: que drogas? - ri ironicamente - não tô usando nada

Ret: não mente pra mim - batuquei a caneta na mesa - onde comprou as drogas?

Matheus: na boca sete. Agora vai me dar o dinheiro?

Ret: vai usar pra que?

Matheus: meu celular quebrou

Ret: outra vez? - afirmou de cabeça baixa - deixa que eu mando comprarem pra você

Matheus: não! Deixa que eu compro, não quero incomodar os cara só por causa de um celular que eu posso comprar

Ret: fica tranquilo, o celular vai chegar até você

Ele se virou saindo. Matheus é um menino bom, apenas se iludiu e se ilude até hoje com o que ver de fora. E fácil um adolescente crescer os olhos em coisas assim. Luxo, dinheiro, vida cara.

Me vejo bastante nele, já estive com os mesmo pensamentos. E se eu pudesse teria pensado maior, não teria passado metade do que passei pra chegar onde estou hoje. É isso que estou fazendo com ele.

A todo custo ele quer entrar pra essa vida, o problema é que ele pensa baixo, não almeja coisas grandes, não pensa em crescer, em um dia ter seu próprio império. Se desde do início eu tivesse mantido a meta no grande, talvez não teria me fodido tanto.

Ret: fogete - chamei ele pelo interfone - na minha sala, agora! - Segundos depois ele abre a porta - chama todos que estavam na boca sete ontem de noite

Foguete: pagamento ret?

Ret: sim - sorri imaginado o tipo de pagamento que seria - chama todos, sem excessão

Amante Do Perigo  - Filipe RetWhere stories live. Discover now