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Fechei o portão devagar e peguei na mão do Theo que estava terminando de beber o suco de caixinha.

Passei pelos meninos que estavam de segurança do outro lado da rua sorrindo educada pra todos eles, os mesmos até falaram com o Theo, mas ele não respondeu e fechou a cara pra eles.

Anna: Theo já falei pra parar com essa mania de não falar com as pessoas, isso é feio - peguei na mão dele caminhando pela rua.

Theo: não quero - parei virando pra ele.

Anna: agora deu pra me responder?

Theo: eu quero meu pai - fez birra soltando a mão da minha e batendo o pé.

Anna: não é por ele não está aqui que você vai ficar me respondendo, não mesmo. Já falei que não é tudo no seu tempo não

Peguei na mão dele outra vez sem da muita atenção para a palhaçada dele e voltei a andar pela rua.

Passamos por algumas casinhas coladas que antigamente não era pintadas, agora estão e até aumentaram também. Algumas pessoas que estavam sentadas no portão delas falaram com a gente e acenei sorrindo de volta.

Theo: mãe o que é aqui? - me puxou mais pra frente apontando pra parte alta.

Anna: aquilo ali é um teleférico - agachei ficando do também dele e apontei pra mesma direção que ele - ele pega as pessoas daquela ponta lá - apontei para o início - ele trás elas pra aquela outra, passando por cima de toda essas casinhas

Theo: a gente pode ir? Vamos! - sorriu batendo uma mão na outra.

Anna: esse aí não funciona mais não. Colocaram quando o morro foi pacificado e esqueceram dele depois - levantei voltando a andar.

Algumas esquinas antes do campinho já dava pra vê as crianças gritando e correndo.

Nem sei que hora sai, mas pelo céu e o movimento do morro, já deve ser quase seis da noite.

Não estou nem conseguindo tocar no meu celular, ele está lá guardado na mochila desde que cheguei. Sei que vai ter uma enxurrada de mensagens e ligações, e pra falar a real, não estou nem um pouco com cabeça pra ler e nem ouvi nada de lá.

Minha vida agora não é mais a mesma, e o meu passando na penha tem que ficar por lá mesmo, se não eu não ando pra frente.

Theo: mãe! - olhei pra baixo vendo ele esticando o braço apontando para dentro do campinho. As crianças jogando - bola

Quando eu ia responder, ouvi uma voz masculino chamar meu nome, olhei pra trás procurando e parei no Daniel.

Foguete: Anna! - abriu um braço e o outro segurava a bola de baixo.

Anna: oi Daniel - sorri soltando a mão no Theo e abraçando ele, senti o beijo no topo da minha cabeça e sorri me sentindo bem - tudo bem?

Foguete: tudo..... Esse é teu menino? - me soltou e olhou pro Theo - fala aí muleque - passou a mão bagunçando os cabelos dele - tranquilo?

Theo resmungou passando a mão nos cabelos arrumando e olhou pro Daniel emburrado.

Anna: fala com ele filho - negou com a cabeça, fez bico e cruzou os braços - liga não Daniel

Foguete: fala comigo caralho - sorriu bagunçando outra vez o cabelo dele - tá emburrado por que? Qual foi

Theo: para! - passo a mão no cabelo - é sua? - se referiu a bola debaixo do braço do Daniel.

Foguete: é minha, mas não vou te emprestar enquanto tu não desfazer esse bico e falar comigo

Reprimi os lábios segundo o riso e passei a mão no cabelo bagunçado pelo vento. Theo desfez o bico e estendeu o braço pra ele abrindo a mão.

Theo: oi - falou seco e o outro apertou a mão dele firme balançando pra cima e pra baixo - agora a bola

Foguete: acho bom - riu da cara dele entregando a bola. Theo correu pra perto das outras crianças e logo já estava chutando a bola com eles - marrentão mané

Anna: não me puxou nessa parte - rimos. Fui um pouco pra trás, sentei em um banquinho um pouco distante do campo, mas dava pra vê meu filho. Coloquei a toalhinha no ombro e observei o Theo correndo de um menino enquanto chutava a bola.

Foguete: eai Aninha, como você está? - ele tinha saído mas logo voltou ficando parado do meu lado. Revirei o olho pelo apelido e ri - aninha, aninha

Ele sabe que eu não suporto o apelido, não por não gostar, mas quando eu era mais nova ele e o William usava pra me zoar.

Anna: vou nem te falar nada foguete - rimos.

Daniel se sentou do meu lado colocando a blusa no ombro, me olhou e desviou o olhar várias vezes como se quisesse me falar alguma coisa mas não sabe como.

Anna: o que foi Daniel, tá querendo falar o que? - cruzei os braços olhando em seus olhos.

Foguete: fico sabendo o que aconteceu lá na vila cruzeiro? - senti meu coração acelera no menos instante, descruzei meus braços lentamente parando minhas mãos na minha coxa.

Anna: o que aconteceu Daniel?

Foguete: Os cana entrou lá, matou muita gente, papo de mais de vinte cabeça

Anna: meu Deus...... - passei uma das mãos na boca e a outra esfreguei minha coxa - é ele?

Levantei o olhar outra vez tentendo me manter tranquila, mas é impossível quando se tem uma notícia assim.

Foguete: ainda não se sabe, eles não deram sinal de vida pra facção ainda

Ele me abraçou de lado deixando um beijo na lateral da minha cabeça, deitei no ombro dele me sentindo menos tensa.

Não sei se me sinto alivia, com medo, sei lá. Tem meu filho que não merece passar por isso, tem a vida do Heitor que por mais que fez o que fez, ainda é uma pessoa e cara..... Eu nem sei no que pensar se a notícia for que ele morreu.

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Amante Do Perigo  - Filipe RetWo Geschichten leben. Entdecke jetzt