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M A T H E U S

- pó de dez! - gritou. Sentei na pedra do lado do muleque vendendo, coloquei a mochila no meu colo começando a tirar as drogas
- tranquilo MT? - olhei pra ele confirmando
- tá trabalhando aqui agora?

MT: não, tô aqui só hoje mesmo - ele afirma voltando a vender pra uma mulher que chegou.

Olho as cápsulas na minha mão contando quantas tem, no total tem cinquenta, acho que em uma hora eu consigo vender metade. Não tô acostumado a vender aqui na vk não, lá na penha já tenho os pontos fortes, os usuários que eu vendo certo, mas rei pediu pra ficar por aqui hoje que ele tinha fechado um negócio com o dono daqui.

- tem como tu ir ali entregar uma parada pra mim não? - corta o silêncio olhando pra mim - não tô podendo sair daqui agora não

MT: eu também não né, tô em horário de trampo - ele estala a língua no céu da boca, encarei ele levantando as sombrancelha sem entender - vai tu. É pra que?

- entregar o dinheiro da minha filha. A mãe dela me odeia, não dá pra gente se esbarrar se não dá merda - reprimi os lábios segurando a risada - tô falando cara. Pego minha filha na mão dos outros só porque ela não gosta de olhar na minha cara

Mt: É foda - estendo uma nota de cinco pro cara na minha frente - valeu aí - ele balança a cabeça guardando uma cápsula no bolso e sai descendo a rua.

- caralho, que mulher chata - resmunga desligando o celular e guardando no bolso. Olho pra ele curioso - toma no cú

MT: qual foi? - a cabeça descolorida dele balança negando - ela mandou mensagem?

- tá me perturbando pra mandar alguém levar o dinheiro logo que ela tá esperando na padaria

MT: cadê o dinheiro cara? Deixa que eu levo lá - abro o zíper da bolsa preta coloco as drogas dentro, fecho outra vez, passo as alças nas costas e levanto batendo na bermuda pra limpar - onde ela tá?

- caô. Vai lá mesmo? - afirmo - ela tá na padaria, aquela assim que passa da barreira - em estende um maço de dinheiro, pego olhando as notas, todas divididas em cem e cinquenta - a maluca tem cabelo preto com as pontas azul - escuto sem desviar a atenção do dinheiro
- valeu aí mano

MT: tranquilo - olho pra ele fazendo joinha e viro descendo a rua. Tá um sol do caralho, nem queria sair daqui por causa da sombra, mas ficar com o cara resmungando o dia todo do meu lado é foda também, fazer esse agrado por mano porque não custa nada.

Taquei as notas no bolso da bermuda, passei a blusa que está no meu ombro na testa tirando o suor enquanto caminho pela rua. Aqui é maneirinho, tem os cara que são firmeza, não conheço muitos não, vim aqui duas vezes só, mas os que conheço fala que não trocaria o movimento da vila por nenhum outro. Eu não apostaria em ficar só em uma favela não, mas como eu ainda tô trabalhando pra outras pessoas, fico por onde dá.

A oportunidade que o rei me deu tem nem como agradecer, agora que consigo mostrar quem eu sou. Tô conhecendo pessoas, aprendendo em quem confiar e quem não merece nem meu bom dia, agora que eu tenho uma meta, eu parei de usar essas parada e tô focado, antes eu só não tinha nada pra me manter ocupado, mas agora que eu tenho, vou poder mostrar quem é o Mt.....era só isso que eu queria, poder mostrar do que eu sou capaz.

- ae! Muleque - parei olhando pra trás vendo uma moto se aproximando, olhei pro homem moreno, barbudo e careca pilotando a moto verde e cinza, na garupa tinha uma mulher - tu é o muleque que trabalha pro rei, né? - afirmei com a cabeça - sabe onde tá não?

MT: se ele estiver aqui, está lá na casa que ele pegou com o....- olhei pro lado tentando lembrar o nome do chefe daqui - acho que é c2 - ele ri negando.

- é Cj doidão - estalo o dedo confirmando o nome - eu sou o Cj, pô - abro mais o olho surpreso - mas ele não está lá não, já fui lá....

MT: ah, foi mal aí - ele balança sem muita importância - então ele deve ter ido pra penha

Cj: se tu vê ele, fala pra me aciona que eu quero trocar uma ideia com ele - concordo
- valeu aí, boas vendas

MT: valeu - a moça morena me encarou o tempo todo até ele acelerar saindo dali. Certeza que ela sabe todos os meus pecados , me olhou de um jeito tão..... diferente.

Viajei tentando desvendar o olhar queimado da mulher em mim que esqueci que falei com o dono do bagulho e nem sabia o nome dele. Só vi o de frente uma vez e nunca tinha visto ele.

Entrei na padaria procurando com o olhar a mulher do cara lá, achei ela sentada no banco do balcão de costas pra entrar, fui na direção dela vendo as pontas azuis caídas nas suas costas, mó cabelão brilhoso.

Mt: ou! - ela se vira rápido, desliga o celular levantando. Olho ela de cima a baixo voltando a encarar seu rosto. Corpo todo pequeno dentro de um vestido coladinho da mesma cor que as pontas do cabelo cheiroso - o dinheiro - tiro o maço do bolso entrando pra ela que pega e me encara depois de olhar as notas nas mãos - ele mandou te entregar

- obrigada - sorri de canto - aquele safado me faz sair de casa nesse calor

MT: o mesmo comigo - rimos.

- tô indo, valeu - vira pegando o celular no balcão e sai, olho a bunda dela redondinha no pano.

[...]

Digito uma mensagem pro rei lendo as de cima que ele me mandou enquanto desço os degraus do beco do alemão.

Sinto o impacto no meu ombro fazendo meu celular virar pra frente caindo da minha mão de tela pra cima.

MT: caralho! - olho pra pessoa na minha frente vendo o foguete - tá cego cara

Foguete: tiro o olho do celular porra, olha por onde anda - ele aponta olhando pro celular, abaixo pegando e desligo - não fode. Da próxima vez eu passo por cima de tu

MT: tá nervoso? - ele sai andando, viro pra trás falando - posso fazer nada se não tem buceta pra tu comer

Foguete: vou comer a da sua mãe....- ele para olhando pra mim e abre mais o olho
- foi mal, tu que me provocou

MT: pau no cú - viro pra frente descendo o último degrau e continuo andando só que agora puto.

Ligo o celular outra vez procurando algum rachado, nenhum. Aposto que brigo com alguma mulher e vem descontar em mim como sempre. Minha relação com o foguete nem sempre foi ruim, nunca fomos muitos próximos, mas levávamos da melhor forma, mas agora parece que sempre quando está eu e ele, ele sempre quer disputar atenção das pessoas. Cara maluco.

O aparelho vibra na minha mão chegando notificação.

Fica de olha aí, MT
Avisa quando ele sair
E se ele falar mais alguma coisa....

Repondo saindo da conversa e entrando no Instagram. De cara veio uma foto da Lívia que ela publicou, tempinho que não vejo ela. Curto a foto e mando uma mensagem no direct, ela responde logo em seguida.

MT: Bora marcar de comer alguma coisa lá em baixo?
Tempão que não te vejo

Lívia: verdade....bora marcar sim

Mt: se tiver disponível bora hoje
Marca dez que eu passo na tua casa

Lívia: tá bom, vou me arrumar

MT: tranquilo

Desligo guardando no bolso caminhando mais rápido até em casa olhando o horário no celular, oito e vinte.

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Amante Do Perigo  - Filipe RetWhere stories live. Discover now