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Foguete: eai meu mano, como foi lá - subi a escada com uma puta dor na perna e ele veio atrás de mim curioso - fala Ret

Ret: ih foguete, me erra caralho - parei colocando a mão na parede pra virar de frente pra ele - me deixa na paz, faz favor, tô com cabeça pra fofoca não

Foguete: calma mano, foi tão ruim assim - apertei os olhos pra ele sem responder - vai fumar que essa raiva passa

Ret: sai da minha frente - falei firme sem gritar. Ele fez cara feia e se virou saindo colocando a camisa branca no ombro - perturbação da porra - resmunguei.

Não tô com cabeça pra falar com ninguém e ele sabe que quando eu tô com raiva eu só quero ficar sozinho pensando.

Terminei de subir a escada chegando na laje, olhei lá pra fora vendo o céu colorido indicando que já estava anoitecendo.

Peguei o dichavador dentro da gaveta do armarinho que tem no canto da parede e junto peguei uma seda.

Puxei um caixote empilhado com outro na parede, coloquei na beirada da parede quebrada de dava pra vê quem passava em baixo e os muleque pulando nas laje das casinha, sentei sentindo a dor na minha perna e relaxei meu corpo encostando na pilastra.

Comecei a triturar a bucha, coloquei na seda ajeitando com o dedo, enrolei deixando uma sobra onde passo a língua molhando e grudo.

Terro: fala ae Ret - continuei olhando pro baseado na minha mão sem responder - pode começar a contagem do dinheiro na maleta?

Ret: tu ainda pergunta - falei sem olhar pra ele e bati o cigarro na perna - vaza terro

Vi de relance ele descendo a escada. Levantei o baseado na direção da claridade da rua e apertei os olhos amassando a ponta. Termino de bolar e passo a mão no bolso da bermuda pegando meu isqueiro, levo o cigarro entre os dedos até minha boca e acendo vendo a seda começando a pegar fogo.

Prendo, puxo e solto levantando a cabeça olhando a fumaça subindo no ar. Olho pro céu estrelado e encosto outra vez na pilastra.

Isso aqui é minha casa tá ligado. O único lugar que eu nunca vou me sentir perdido, é minha vida pelo alemão. Não foi atoa que eu me mantive firme em toda minha caminhada, pra quando eu tivesse o pode nas mãos fosse eu até o fim.

Sinto o vendo bater no meu rosto e junto a dor na minha perda tomando toda minha brisa.

A onda que bate vai relaxando minha mente que estava a milhão com esse bagulho chato, trinta anos na cara e sendo levado no prejuízo por um cara que eu nem sabia que existia.

Ano passado eu prometi que pararia com a vida que eu levava, pra isso eu entrei na facção. Nela eu encontrei um jeito de fazer o que amo e andar nos trilhos.

Até uns dias atrás estava tudo como planejado. Minha paz estava em dia e já fazia um tempo que não me envolvia em treta com outras favela, mas olha aí. O diabo não vem e mandou o rei pra testar minha mente.

Mt: ret, tem como você me emprestar uma grana? - soltei a fumaça sem responder ele - William?

Virei a visão pra ele parado perto da escada com uma bermuda, Kenner no pé e uma blusa minha.

Amante Do Perigo  - Filipe RetOnde histórias criam vida. Descubra agora