•015•

13.9K 952 151
                                    

A N N A

Relaxei meu corpo no colchão macio da cama e olhei para o teto sentindo o cheiro bom de quarto recém arrumado.

Lá fora já estava um total silêncio, apenas os carros que passavam na pista. O céu estava virando e trazendo uma chuva pesada, ainda bem que viemos antes.

Não sei muito bem onde estou. Sei que é um hotel beira da via Dutra, pequeno, com a estética antiga. É pouco movimentado deve ser pela hospedagem ser apenas de uma noite, o local serve mais só pra você dormir e voltar a dirigir.

Esse foi a minha saída. Depois que sai daqueles matos e peguei a moto, foi alguns longos minutos até aqui. Agora que tudo está mais calmo, consigo pensar em como vou fazer pra tirar eu e meu filho dessa situação. Pra onde vamos?!

Não tenho família. Minha mãe veio sozinha para o Rio tentar a sorte, conseguiu um trabalho em uma casa de pessoas ricas e luxuosas. Mas aconteceu que ela conheceu meu pai, se apaixonou pelas palavras - parece até alguém que eu conheço - e no final ele foi embora antes mesmo de eu nascer.

Ela morreu dois anos depois que vim ao mundo. Sem me contar absolutamente nada em relação ao homem que deixou ela grávida, nem o nome. Então os patrões da casa onde a gente morava e ela trabalhava, sem paciência para mais uma criança, me levaram para o concelho tutelar onde entrei para adoção.

Minha infância foi conturbada, confesso.
Passei por muitas casas, muitos mundos, muitas pessoas, muitas mãos e muitos chãos molhados.

Por todas essas famílias que passei, nunca me senti parte delas, eu era mais como uma agregada que tentava de alguma forma se encaixar nos padrões deles.

A única que conseguiu me infiltrar na sua família da forma mais linda foi a dona Esmeralda. Eu já tinha dezesseis anos, uma idade onde as pessoas já não querem mais adotar. Diz ela que se encantou pelos meus olhos escuros na mesma hora que me viu naquela padaria onde eu fui procurar comida depois de fugir da onde a justiça me deixava.

Depois daquele dia minha vida nunca mais foi a mesma. Ela me fez pela primeira vez sentir um amor materno e paterno que eu nunca ao menos experimentei.

Onde eu morei, fui acolhida e amada, eu também conheci aqueles olhos bonitos,  penetrantes e perigosos que já passaram pela minha vista.

Theo: mãe..... Cadê o papai? - olhei para o lado vendo ele coçar os olhos vermelhos de sono - ele não vem?

Anna: lembra do que o tio bg falou? Eles vão fazer um trabalho demorado. Agora é a mamãe e você

Theo: vai demorar muito? Porque eu acho que o papai não colocou meu peixe no aquário ainda - levou as mãos até a cabeça e coçou pensativo.

Anna: O peixinho teve que viajar, igual a gente está fazendo - ele fez bico - mas a mamãe compra um novo pra você, pode ser?

Theo balançou a cabeça concordado e deitou por cima de mim passando uma perna em casa lado do meu corpo encostando a cabeça no meu peito.

Anna: vamos dormir? Amanhã a gente vai encontrar uma pessoa muito importante

Theo: Quem? É o peixinho?

Anna: também.......

A melhor coisa que eu fiz foi pegar o dinheiro que eu juntei, sabia que eu ia conseguir sair daquele lugar uma hora ou outra e precisaria dele pra me ajudar a chegar no meu destino.

Eu sei quem pode me ajudar!

+20 votos

Amante Do Perigo  - Filipe RetOnde histórias criam vida. Descubra agora