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A N N A

Abri o olho com a visão ainda meio embasada, continuo parada até conseguir enxergar perfeitamente. Passo o olhar assutado pelo lugar que eu consegui vê deitada, uma janela com a cortina branca tampando e impedindo a claridade de bater muito forte.

Sento no fofo vendo a cama grande onde estou, meu corpo entra em estado de transe lembrando tudo que aconteceu. Começo a respirar mais pesado vendo o quarto bem decorado.

Levanto rápido, minha cabeça gira e eu paro pra respirar. Avanço na janela, abro a cortina olhando a janela de vidro fechada, olho lá pra baixo vendo um homem passar com um fuzil no ombro.

Rei: Anna?! - me viro rápido pra porta, ela se abre e ele entra com uma bandeira na mão e sorrindo. Encaro ele enquanto meu corpo é tomado por um arrepio. Eu lembro de tudo, vem como flash na minha mente. Ele me agarrando, o pano na minha boca...o tio me gritar e de repente tudo se apagar
- tá melhor? - dou um passo pra trás me batendo na parede e as costas na janela
- trouxe pra você

Passo a mão no rosto e olho pra elas tremendo. Eu não acredito que isso está acontecendo, novamente estou vendo ele na minha frente. O cara que acabou com a minha vida, que me causou coisas que jamais imaginaria que fosse capaz....ele estava ali, na minha frente. Não consigo nem ter reação a não ser falar:

Anna: onde eu estou? - ele coloca a bandeja na cama, vejo o pão com o presunto no prato, um copo de suco amarelo, o bolo e meu estômago ronca me fazendo desviar o olhar pra ele vindo até mim - não chega perto - estico a mão aberta na direção dele.

Eu tento manter calma, não tem como voltar no tempo e impedir que isso acontecesse, então eu preciso manter minha cabeça centrada pra não vê meu mundo desabar mais uma vez nas mãos dele.

Rei: você está onde não deveria ter saído - olho o quarto mais uma vez. Não é o lá da penha, é diferente. As paredes são cinzas, tem um espelho grande na porta do guarda roupa branco embutido até o teto
- só falta o Theo agora - olho pro chão.

A fala dele me atinge, a frieza que eu tentava manter pra não demostrar fraqueza pra ele, vai embora na hora que o nome do meu menino sai pela boca suja dele.

Anna: meu filho - encaro ele outra vez sendo tomada de odeio. Meu filho não pode voltar pra ele - você não vai encostar nele

Rei: ele é meu filho também, Anna - rio nervosa - come um pouco, tá com fome? - desvio o olhar pro lado fixando no quadro na parede em cima da cama sem responder - tenho que dar uma saída, vai ser rápido. Se quiser pode sair do quarto, mas come um pouco antes - ele da alguns passos na minha direção - te amo - tentou me dá um beijo e eu inclinei a cabeça pra trás empurrando seu peito - já volto

Rei sai do quarto fechado a porta. Me vejo sozinha mais uma vez na situação que eu me prometi que não estaria mais.

Meu cérebro desperta um lado meu fazendo tudo virar raiva. Isso só me faz ter mais certeza de quem esse homem é, ele é um maluco doente. Cada vez mais meu ódio por ele só aumenta.

Anna: não acredito - meus olhos se encher de lágrimas, não por medo como das outras vezes que estive com ele, mas por ódio que já não cabe em mim.

Passo a costas da mão no olho tirando uma única lágrima que caiu e me forçando a ser forte. Vou até a bandeja de comida na cama onde eu acordei. Não sei como cheguei aqui depois que tudo se apagou, nem sei onde estou, na penha não é. Aquele homem lá embaixo não é os que trabalha com ele.

Pego o pão dando uma mordida, tão bom, está quentinho que se mistura com o gosto do queijo e presunto deixando mais saboroso. Dou um gole grande no suco sentindo o gosto de caju descer na minha garganta....meu Deus, que fome.

Como tudo, está muito bom, incluindo o bolo maravilhoso de chocolate. Limpo a boca com o guardanapo que estava no prato e vejo o quanto comi, minha barriga até pesa, era só um soninho agora.

Fico sentada encarnado tudo vazio, penso se desço ou continuo aqui dentro de quarto. Esse lugar todo me sufoca, me sufoca saber que estou nas mãos dele outra vez, é um aperto no coração sem fim, meu ar vai embora toda vez que me imagino sendo a mesma Anna de antes.

Pego a bandeja e vou até a porta, abro vendo um corredor com três portas, está escuro, mas a iluminação do dia deixando visível o final dele. Caminho, chegando no final eu vejo a sala de um lado e a cozinha do outro. Nada divide um cômodo do outro, é bem bonita por sinal, a porta de vidro na sala mostra a parte de fora da casa com o gramado bem cortado e uma cobertura que impede do sol bater diretamente aqui dentro.

Vou até a pia, tem uma janela grande encima, olho por ela avistando alguns homens na rua, não conheço nenhum deles. Não reconheço nada aqui.

Um deles me olha e balança a cabeça para os outros me olhar também. Queimo meu rosto de vergonha todo com o olhar deles sobre mim e viro saindo da cozinha.

Assim que chego na sala, olho a tv no suporte na parede, em baixo dela tem uma prateleira marrom com algumas coisas em cima. Sento no sofá preto aveludado e todo meu corpo relaxa. Escuto o barulho de chinelo sendo arrastado no chão e desencostei as costas do sofá ficando sentada atenta olhando pra porta esperando alguém aparecer.

A sombra de um corpo masculino aparece na pilastra da varanda. É magra, parece está de bermuda e uma blusa no ombro....não é o rei.

MT: tá por aí rei? - a voz ecoa pela casa passando pela minha cabeça diversas vezes. Ele está aqui? - bg tá querendo falar contigo

Finalmente ele aparece na porta, bato o olhar no seu rosto que assim que me viu ficou tenso e nervoso, ele enrijeceu o corpo voltando de ré.

Anna: o que você está fazendo aqui? - levanto saindo pela linha da porta. Encaro seus olhos arregalados, seu rosto fica vermelho, ele tenta falar várias vezes e nada sai - Matheus que merda você tá fazendo aqui?

MT: eu...- para de falar. Aperto os olhos pra ele tentando afastar tudo que passou pela minha cabeça - Anna, você não me viu aqui. Escutou? Isso não aconteceu - se vira pronto pra sair e eu agarro seu pulso fazendo ele parar, entro na sua frente sem falar nada - sai da frente

Anna: você tá trabalhando com ele? - aperto os olhos - tá ficando maluco Matheus! Sabe onde está se metendo? Você não tem noção dentro dessa sua cabeça não- falo firme sem aumentar o tom de voz.

MT: eu sei o que estou fazendo - rio falsa
- sai Anna! - nego.

Anna: fala pra mim que isso não é verdade. você está ajudando o rei a fazer essas merdas? Contra o seu irmão cara - passo a mão no rosto - tem que ser muito burro. Matheus, você ganha o que com isso?

MT: não fode Anna, você está aqui porque se envolveu com quem não devia

Anna: é com você não é diferente. Está perdendo tempo com quem não deveria, rei não se importa com ninguém além dele, acha que vai ganhar alguma coisa fazendo isso?

MT: eu ganhei o que o Ret nunca me deu - puxou o braço da minha mão.

Anna: o que ele não te deu? Uma vida onde você corre risco de morrer mais cedo? Uma vida de luxo, mas tendo que se esconder de tudo? Você foi um idiota quando decidiu ajudar o rei e ficou contra seu próprio irmão. Rei não vai te dar nem metade do que o William te proporcionou, com ele você teve chances de viver a vida que quisesse fora do crime, mas você resolveu se virar contra ele. William pode ser o que for, mas ele queria algo maior pra você. Ele te acolheu como sangue dele, está sendo traído por quem ele mais deu a mão pra ajudar. Engraçado que você só vê o que quer, mas não vê o quanto ele se importa, ele realmente queria vê você voando, se dando bem na vida......seu otário!

Ele me olhou com ódio e virou saindo pelo portão pequeno de ferro.

Todos esses dias o Ret vem se ferrando por causa do próprio irmão. Não faço ideia de como isso começou, mas tenho certeza que William vai terminar da pior forma

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Aniversário da nossa estrelinha ✨

Amante Do Perigo  - Filipe RetWhere stories live. Discover now