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W I L L I A M

Assim que parei a moto vi o foguete diminuindo a velocidade da moto dele e chegando perto da onde eu estava.

Sai de cima da minha e entrei coçando a barba recém feita impaciente.

Ret: preciso de ronda de uma em uma
hora - empurrei a porta da minha sala entrando - espalha pela favela toque de recolher, não quero ninguém na rua, ninguém! - andei pela sala até minha cadeira, sentei e rodei ela pra frente abrindo a gaveta da mesa e pegando um envelope - você vai pegar a ficha desses viado e espelhar eles pelo morro todo, três em cada buraco desse lugar - coloquei as fixas com fotos de todos os muleque que trabalha comigo na mesa - tá na sua mão, faz como quiser, só coloca eles nos postos

Ele me olhava paradão fechando a porta atrás dele com a testa franzida. Olhei pra ele e franzi a testa também.

Ret: tá esperando o que Daniel? - abri outra gaveta e peguei um baseado.

Foguete: calma, você tá agitadão aí - caminhou devagar e se sentou na cadeira na minha frente - o que ralou?

Ret: a Anna - coloquei o cigarro de maconha entre meus dedos e levei na boca acendendo com o esqueiro - ela chegou pedindo ajuda, tá ligado, né? - ele assentiu com a cabeça e começou a rodar a cadeira enquanto eu falo - ela passou o papo de que tinha um pau no cu atrás dela e do muleque

Foguete: assim, do nada? - parou a cadeira me olhando e eu puxei a fumaça. Ele encostou a cabeça nas costas da cadeira deixando os dois braços sobre os encostos da cadeira e rodou ela.

Ret: deixa eu terminar - prendo a fumaça vendo a ceda queimando e ele roando na cadeira olhando para o teto - Ela falo lá que meio que fugiu dele, e agora o maluco está atrás dela. Eu estranhei né, o cara é o que pra ela está com tanto medo assim

Foguete: resume William, porra - me cortou - fica detalhando as parada, conta logo

Ret: se acalma - revirei os olhos e balancei a mão afastando a fumaça - o maluco é o viado do rei

A cadeira que antes rodava, parou virada pra mim e ele abaixou a cabeça lentamente parando o olhar no meu.

Foguete: o rei? - abriu a boca - o da penha? - assenti lembrando que tive a mesma reação quando descobri só não demostrei - mas ele não é o novo irmão?

Ret: É caralho - respirei fundo sentindo a onda tomando conta do meu corpo e principalmente da mente. Passei os dedos abertos nos fios dos meus cabelos descoloridos e encostei a cabeça na cadeira olhando para o teto.

Não faz muito tempo que eu comentei com o foguete sobre está tudo muito calmo. E olha aí..... Pica pro meu lado

Foguete: mas ele não sabe, né? - falou depois de uns segundos calado - passa essa porra ai, mente tá a milhão

Estiquei a mão entregando pra ele. Voltei me encostando novamente na cadeira e rodei me virando pra janela grande.

Já estava mó escuro lá fora, uma e pouca da manhã, silêncio, dava pra vê as luzes das casinhas e alguns cachorros latindo.

Ret: sei lá se ele sabe, ela deve ter comentado com alguém. Mas se ele não sabe, vai ficar sabendo e eu não posso dá mole pra um pau no cu com o ego ferido

Foguete: ele nem sabe que ela é tua ex cara - olhei pra ele por cima do ombro - eu sei que ele vai descobrir que ela está aqui, mas não vai saber que ela tá na sua casa contigo, essas parada

Ret: foguete - rodei outra vez e puxei a cedeira pra frente com os pés, coloquei as mãos abertas na mesa e olhei em seus olhos - ela está no meu morro, não importa com quem. Ele vai querer entrar pra buscar ela e quando vê que ela está na minha proteção, ele vai entrar com tudo. Ego de homem ferido é tipo adolescente vendo uma buceta pela primeira vez, age na emoção

Foguete: então ela está na sua proteção - apertei os olhos pra ele ficando puto.

Ret: de tudo que eu falei você só escutou isso? - peguei a tampa de uma canela do meu lado e joguei nele - porra!

Foguete: não pô, eu escutei tudo e compreendi

Ret: então você vai reorganizar todos os muleque nos postos e organizar também ronda de uma em uma hora - ajeitei meu corpo na cadeira - tá escutando, de uma em uma hora

Foguete: isso é preocupação com o morro ou com ela? - respirei bem profundamente pra não quebrar ele na porra e fechei os olhos e as mãos esmagando meus dedos na palma delas.

Ret: eu só não quero dá mole pra um fudido. Ela fugiu levando o filho dele junto. Quando ele descobri que ela está em um morro "rival" - fiz aspas com a mão - ele vai enlouquecer, e quando ele tentar atacar, eu já vou está no primeiro passo - falei tudo rápido - é proteção foi só um jeito de falar, você entendeu

Foguete: ele nem pode atacar, agora ele é da família, esqueceu? - soltou a fumaça pra cima e jugou a ponta no chão pisando nela - não temos conflitos entre irmãos...

Ret: olha nos meus olhos e me diz se você acha que aquele cara liga pra regras quando o assunto é o filho dele - ele deu de ombro e levantou - muita paciência contigo, porra

Foguete: ih parceiro, jáa entendi a parada toda. Você quer proteger tua amada do ex maluco - coloquei as duas mãos no rosto e desci elas pelo rosto todo respirando fundo - opa, desculpa. Reformulando minha fala - levantou as mãos em forma de redenção - eu já entendi que você só que protege o teu morro de um emocionado do caralho

Ret: exatamente foguete, exatamente - falei tentendo manter minha calma - agora mete o pé que você já tá me tirando do limite

Foguete: não está mais aqui quem falou - virou indo até a porta.

Ret: e eu quero essa porra pra ontem foguete, pra ontem - falei mais alto assim que ele saiu.

Virei olhando outra vez pra janela. Essa parada vai me render uma dor de cabeça do caralho.

Minha intenção aqui é proteger primeiro minha favela. Tá maluco, foi sufoco pra conquistar. Depois vem ela, também não vou deixar ela na mão com o muleque pequeno, entrou na minha favela pedindo ajuda e eu vou ajudar até onde for possível, não mandei ninguém ir embora e se envolver com outro pior ainda.

Acerola: patrão - olhei por cima do ombro a porta abrindo devagar e ele colocar a cabeça pra dentro me olhando - o tio mandou recado

Fiz sinal com o dedo mandando ele entrar e virei indo mais pra perto da mesa.

Ret: valeu - olhei nos olhos dele pegando o papel de suas mãos - pode meter o pé

Abri vendo o bilhete parecido com o do outro daquele dia e li tudo do início até o fim.

Quando terminei de ler joguei na mesa e bati a palma da mão na mesa puto.

Além de não ter ido com a cara dele, está com a mina e o filho dele na minha casa, agora vou pra uma missão com ele.

Que bom, não tinha como ficar pior...

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Amante Do Perigo  - Filipe RetOnde histórias criam vida. Descubra agora