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W I L L I A M

Joguei a bituca do cigarro no chão e pisei em cima apagando.

O tio me acionou e eu tô ligado no que é. Essa parada de ontem me rendeu um prejuízo, cai bonito na mão dos cara e agora a família vai vim com tudo pra cima de mim, mas eu não esperava que fosse não rápido assim.

Olhei a casa na minha frente e ajeitei a tipóia no meu pescoço. Esse braço é outra pica que me rendeu, ficar assim é ruim pra caralho, atrapalha meus trabalhos e me deixa feio também.

- boa sorte pra você - ouvi sua voz se aproximando. Ele parou do meu lado de frente para o portão encarando a casa junto comigo. Olhei pra ele e reconheci, ele é um dos cara que foi me buscar ontem com o foguete - o negócio lá dentro tá quente

Ret: já imaginava - falei rude andando até o portão.

Escutei ele soltar uma risada pelo nariz e rodei a maçaneta abrindo o portão. Já tô acostumado a vim aqui, mas toda vez é a mesma reação com essa casa gigante. Se ela tiver uns cinco andares é pouco, toda em detalhes branco e dorado por fora, quintal grande e cheio de plantas, lindona, e por dentro não é diferente. Nem sei por quê isso tudo também, essa casa ninguém mora e só pra facção ter um local fixo.

Pisando pelo gramado baixo em direção a porta de entrada, eu vejo a movimentação pelas janelas de vidro ao lado da porta que iam do teto até o chão.

Chegando no degrau, eu escuto a voz do tio sair mais alta enquanto falava con alguém.

Eu sabia o que me esperava lá dentro, e pra fala a verdade eu não tô a fim de ficar escutando sermão de ninguém não. Tô cansado demais, quase não dormi e ainda acordei atrasado que nem deu tempo de comer nada. Parece que o dia de ontem passou em uma semana de tanta coisa que aconteceu.

Tio: com quem você brigou? - ele falou assim que eu abri a porta e entrei na casa - que merda você aprontou, Ret?

Os seguranças que estava ali saíram me deixando apenas com o tio.

Ret: eu não briguei com ninguém, só passei na hora errada e os cana estava lá - fechei a porta atrás de mim. O homem andava de um lado para o outro batendo o celular descartável de vagar na testa - qual foi tio, cê acha que eu ia da mole com o meu dinheiro dentro do carro?

Tio: você deu o mole de se meter com alguém que não devia - parou no meio da sala e me olhou - o nosso informante me ligou quatro da manhã falando que foi denúncia, mas não qualquer denúncia, foi gente do nosso meio, que trabalha com as mesmas coisas que a gente - cocei a nuca sem saber o que falar - quem fez isso, fez por algum motivo e foi pra te atingir. O policial falou também que ouviu burburinho de que estavam querendo te derrubar

Ret: faz tempo que eu não me envolvo em confusão, desde que entrei pra família

Tio: me fala! - desviei o olhar para o lado - me fala por que agora as suas confusões bobas respingou na família, estão investigando as drogas, vão fazer varredura nos morros até achar da onde está vindo as power, e eu não quero que você suje nosso nome. Então melhor você me falar um nome que for

Passei os dedos abertos no cabelo pensando. Eu tenho um passado regado de conflitos, eu adorava me mete em problemas com outros morros, só que eu sempre ganhei. Não tem como meus problemas antigos voltarem agora, seria impossível.

Amante Do Perigo  - Filipe RetOnde histórias criam vida. Descubra agora