Amante Do Perigo - Filipe Ret

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A N N A

Desliguei o celular depois de trocar algumas mensagens com a Bruna e fui me arrumar. Faz um tempo que estou querendo ir na igreja, sinto que estou precisando de palavras certas, e lá, é onde eu vou conseguir encontrar. Então marquei com ela pra gente ir hoje, é uma quinta feira tranquila.

Comecei a lavar meu cabelo com o shampoo, esfreguei o coro cabeludo com delicadeza. Estava precisando, faz semanas que meu cabelo não vê uma água. Esses dias forma bem cansativo, não por ter sido produtivo, e sim, por sempre ser o mesmo roteiro. Nada muda, minha vontade de fazer as coisas vai embora cada dia mais. Mas eu tento, tento não por mim, e sim pelo Theo. Só levanto da cama por ele, tento encontrar forças por ele. Eu sobrevivo por ele.

Quando terminei o banho, senti meu corpo até mais leve e relaxado. Fui até meu guarda roupa pegar uma roupa, porém, não tinha muitas opções pra ir à esse local. Eu só usava um tipo de roupa, cropped e shorts. E os poucos que o Heitor não rasgou, não são os melhores, não tampão as marcas pelo meu corpo, estão desgastados demais, uso mais em casa.

Entrei na conversa outra vez com a Bruna e pedi pra ela trazer uma calça jeans e alguma blusa pra mim. Se eu não fosse proibida de trabalhar, sair sem seguranças ou de alguma forma ter dinheiro, eu teria roupas decentes pra uma pessoa usar. E não só esses panos que pelo menos ele não rasgou.

Rei: vai pra onde? - cobri meu corpo com a toalha quando ele entrou no quarto. Heitor ficou o dia todo fora, então eu consegui ter um grande progresso, fazer coisas que me ajudasse a reagir - que cara é essa? Por que essas roupas estão jogadas na cama?

Ele parceria está bem feliz, diferente de quando saiu. O mesmo deitou com os pés pra fora da cama e olhou para o teto.

Rei: responde Anna - vesti minha calcinha em silêncio - caralho Anna! Para com isso pô - ele falava calmo - vida, olha aqui - ele levantou vindo na minha direção, parou na minha frente e levantou meu queixo fazendo meu olhar se encontrar com o dele - já te pedi desculpas e prometi mudar por você e o Theo. Me ajuda? Eu preciso de tu do meu lado, então para de me ignora e faz as coisas direitinho

Anna: você prometeu isso outras vezes também - retruquei rápido - não fode Heitor

Rei: eu vou mudar, tu vai vê - antes de sair, ele roubou um selinho meu e desceu.

As vezes eu penso que é possível uma pessoa mudar. Será? Sobre isso, só ele tem a resposta.

Bruna: Anna? Amiga, trouxe a roupa - gritou lá de baixo. sorri feliz por ela ter chegado. Bruna é a pessoa que mais me faz bem, toda vez que ela chega sinto uma felicidade de outro mundo tomar conta de mim. Poder contar com ela foi a coisa mais certa que já fiz na vida, e olha que já fiz muita merda. Quando estou com ela ou com meu filho, e o momento mais feliz, o memento onde posso fugir do mundo que desaba sobre mim - já tô subindo

Ouvi passos no corredor e logo depois Bruna aparecer na porta com uma sacola das roupas na mão.

Bruna: o que aconteceu? O outro está lá em baixo bolado - olhei ela de cima abaixo estranhando que ela ainda estava com a roupa do trabalho.

Anna: eu não falei onde vou - peguei a bolsa da mão dela - perai, tu não vai não?

Bruna: ai, amiga não vou poder ir hoje - fez cara de choro - tô muito cansada, aquela velha acabou comigo hoje

Anna: mas a gente acabou de confirmar por mensagem - falei colocando as roupas na cama - poxa Bru. Vamos comigo só hoje

Bruna: hoje não dá, Anna. Foi mal, semana que vem eu vou

Anna: tá bom então. Vou só com o Theo mesmo

Bruna: isso! Leva ele, pelo menos você não vai sozinha - sorriu - agora eu vou pra casa, tomar um banho e descansar. Amanhã tenho que está lá sete da manhã

Anna: a velha é tão chata assim?

Bruna: cê nem imagina - ela levantou com o celular na mão - vou mete o pé. Beijão

Mandei beijo de volta. Minutos depois que ela saiu, consegui ver pela janela a mesma passar pelo portão. Terminei de passar um gloss nos lábios e peguei meu celular no carregar.

Anna: filho -  gritei do corredor - vamos logo, já vai começar - ele correu até mim e me deu a mão pra descer - deixa a mamãe ver como você está - Theo parou dando uma voltinha - nossa! Que gato gente, que isso hein - sorrimos.

Rei: vai me falar onde tu vai ou vou ter que arrancar a força? - ele pausou a série que passava na tv.

Vi ele deitado no sofá com as pernas no encosto e batendo o controle na barriga.

Anna: vou na igreja, Heitor

Theo: que ir papai? Vamos - Theo puxou a mão do pai - vem papai

Rei: hoje não filho. Papai tá cansado demais, semana que vem eu vou

Anna: vai nada - sussurrei só pra mim - vamos Theo, se não a gente chega atrasados

Rei: abre teu olho Anna - quando passei, ele deu uns tapinha na minha bunda - tô de olho em cada movimento teu

Nem dei importância, fui andando até o portão onde vi o bg e alguns outros meninos.

Bg: patroa - abracei ele - finalmente saiu da toca. Tudo tranquilo?

Anna: oi amigo, tô tranquila na medida do possível

Bg: entendo. Vai onde com o muleque aí? - passou a mão no cabelo do Theo e depois fez toquinho com ele.

Anna: vou na igreja - ele riu surpreso - tá rindo de que garoto?

Bg: ora por mim lá hein - afirmei com a cabeça - Deus abençoe nós

Anna: amém. Tu deveria ir e carregar teu irmão, vê se assim ele melhora

Bg: tá difícil né? - concordei - pô Anna, ele é meu irmão, mas eu não concordo com o que ele faz não

Anna: então me ajuda a fugir - falei baixo - me prova que não concorda, me ajuda

Bg: não posso porra. Já te falei, não dá. Ele é meu parceiro, não vou furar com o cara

Anna: você é igualzinho a ele - empurrei o ombro dele saindo rua a baixo.

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