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H E I T O R

Penha já está em alerta faz quase sete horas, desde cinco da tarde, agora são quase meia noite e nada desse arrombado bota a cara.

Mandei uma mensagem pro Mt, mas nada dele responde, nem chegou pra ele.

Bg: acha que ele vem ainda? - desviei a visão da rua pra ele parando do meu lado, ele se senta no meio fio como eu estou e descansa os braços no joelho - faz horas que os cara tão em contenção pesada lá em baixo

Rei: se ele vem hoje eu não tenho certeza, mas ele vem - encaro a rua outra vez. Sinto meu celular vibrar na minha mão e ligo rápido pensando que era o Mt, mas é uma mensagem de voz do Cj.

Aí seu arrombado, armou pra cima de mim seu viado. Os cara tão aqui na minha favela tacando bala pra cima dos meus, porra!

Ouço o disparo vindo junto com a voz dele. Olho pro meu irmão do meu lado começando respirar mais pesado e abro o outro áudio.

Ret tá aqui caralho. Eu estava com a contenção baixa seu filho da puta - mais disparo corta a fala dele - tão colocando terro aqui

Bg: o que ele tá fazendo lá? - do de ombros mandando um áudio pra ele.

Não sabia porra, tô esperando ele aqui na penha - do uma pausa pensando - vou mandar reforço pra tu caralho. Não armei nada não, tem coisa importante minha aí na tua favela

Levanto pegando minha chave no chão, olho pro bg me olhando curioso.

Rei: a Anna tá lá - passo a mão no rosto tirando e colocando o boné começando a ficar nevoso - como ele sabia? Como porra!

Bg: não sei mano, eu nem tô ligado nessa porra toda aí...

Ouço os fogos começando, olho pro céu e olho pra boca vendo os cara saindo agitados lá de dentro, um falando em cima do outro.

Rei: quem é? - encaro o Bruno - quem é o arrombado que tá entrando aqui?

- o camburão tá subindo - o rádio de um dos vapor apita - a bope! - uma gritaria atrás dele sai também.

Bg: é o Gomes? - não repondo - não pode ser ele, a gente tem acordo....- ando de um lado pro outro - rei você pagou ele?

Rei: não bg! Ele não fez o combinado, eu não paguei tudo - ele me olha revoltado
- não posso ficar aqui. Tô indo pra vk

Bg: e deixar essa porra toda aqui? Não caralho, tá louco

Rei: a Anna tá lá, não posso resolver isso agora

Bg: teu comando é a penha e não a Anna, Heitor - escuto ele falando enquanto vou até meu carro - eles vai acabar com essa marda se você sair daqui

Rei: Bruno - destravo a porta entrando, fecho e abro a janela olhando pra ele parado de braços abertos me encarando
- cuida pra mim. Você é o dono quando eu não estou

Bg: não rei! - balanço a cabeça falando sim - não tô acreditando cara - gira bufando - que merda! - grita.

Rei: eu sei que você consegue meu mano. Manda um grupo pra lá - acelero saindo pela parte de trás deixando poeira. Tem tanta coisa passando na minha cabeça que ela parece que vai explodir - filho a puta! - grito batendo no volante, mudo a macha e acelero passando com tudo pela rua. Meu celular toca várias vezes e eu só olho de relance vendo mensagem do Mt, ligação do bg e do Cj.

Passo pela barreira de pneus queimando e atravesso a fumaça preta. Olho pra frente vendo alguns cara armados, não são do Cj porque o armamento é diferente, vendo isso eu acelero, alguns saem da frente, mas quando eu passo vejo que consegui jogar um pra longe.

Uma sequência de tiros soa pela comunidade, os gritos começam a ficar mais alto. Saio do carro indo pra trás dele, abro o porta malas pegando um fuzil, o pente e segurando pela cordinha.

Vejo uma agitação no beco, entro pegando minha arma com a outra mão e vejo duas mulheres, uma delas está no chão com um corpo nos braços.

- meu filho! - ela grita chorando. O cara estava com uma bala no ombro e um na testa, no chão estava se formando uma poça de sangue onde ele estava caído
- meu filho não.... - elas me olham e eu passo de cabeça baixa.

Desço os degraus passando por elas. Me encosto no muro abaixando, olho pro céu depois de ouvir mais uma rajada de tiro passando de um lado pro outro.

Coloco o fuzil atravessado e seguro o cabo dele com a mesma mão que está a pistola mirando no final vendo a rua.

A casa onde a Anna está não é muito longe daqui, se eu pular o muro da casa do outro lado da rua, eu saio de frente pra casa onde ela está.

Três pessoas passa correndo na calçada e eu começo a andar, uma arma é destrava e eu olho pra laje voltando a me encostar no muro.

- rei? - a voz trêmula sai, olho pra cima vendo ele abaixando a arma e aponto a minha pra ele - trabalho pro Cj - respiro aliviado.

Rei: sai dessa laje porra, quer levar um tiro fácil? - ele passa o fuzil pra trás, senta na beirada da laje e pula saindo com a mão no chão - bora logo - dou uns tapinhas nas costas dele que levanta limpando as mãos
- pra onde eles forma? - caminho até a rua, olho pros dois lado antes de aparecer e vejo ninguém.

- eles subiram essa rua aí - atravesso a rua mirando o fuzil pros lados - perdi de vista o Ret

Fico em silêncio. Passo o fuzil pra trás olhando o muro na minha frente.

Rei: me ajuda aqui muleque - chamo ele com a mão. Ele junta as mão se agachando um pouco, subi na mão dele fazendo força com as mãos no muro - valeu meu parceiro

Sento no alto com uma perna de cada lado, ele faz joinha e correu de volta pro beco do outro lado da rua.
Olhei pra dentro do quintal vendo a casa toda acesa, encaro a criança me olhando pela janela e pulo pra dentro. O barulho do meu corpo contra o chão fez ele se assustar, uma mulher chegou puxando ele pra dentro e fechou a janela com a cortina.

Corro de lado pelo espaço pequeno entre as paredes a casa e o muro. Meu celular não para de vibrar no meu bolso.

Chego no muro da parte da frente da casa vendo o portão, saio pelo portão deixando aberto. Olho pra casa do outro lado vendo tudo normal, o portão fechado e a luz do quarto está acesa, vejo da janela no alto.

Atravesso rápido chegando no portão trancado, um disparo faz eu encolher os ombros com o susto e olho pro lado vendo no final da rua a sombre de uma pessoa.

Maratona 2/5

Amante Do Perigo  - Filipe RetWhere stories live. Discover now