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D A N I E L

Pulei um degrau da escada sentindo meus pés finalmente se encostar no chão da pequena sala de minha casa. Andei mais alguns passos até chegar na cozinha, por ser um apartamento pequeno aqui na favela, não demora para ir de um cômodo ao outro. Então pego um copo junto de uma garrafa e coloco água gelada descendo ela por minha garganta, sinto até uma dor, parece que meu cérebro congelou.

Foguete: porra que fome - resmungo.

Não sou de comer em casa, normalmente eu como na rua, até prefiro, não mando bem na cozinha. Aqui tem o básico. Por ser apenas eu na casa não tem muitas coisas, não é por falta de grana, eu mesmo que não faço questão de ter casa cheira de paradas, apenas o necessário é ótimo para uma pessoa sozinha.

Tinha um resto de biscoito de ontem, peguei o pacote e sai de casa trancando a porta, desci as escadas do bloco até minha moto parada na frente da porta.

Foguete: bom dia vó - beijo a mão da senhora e aceno para algumas pessoas passando.

Com o horário não tem muitas pessoas sentadas na calçada como geralmente fica. São onde e pouca, muitas estão vindo do trabalho e eu estou indo para o meu. Hoje tem uma missão para fechar o mês e iniciar outro com novidades.

Depois que passou a onda da reunião da família, William autorizou irmos atrás do Mendes. Descobrimos que assim como pensávamos, era ele que estava envolvido com aquela furada que nos metemos na última missão. Provavelmente ofereceram algo do interesse dele, aquele lá sempre vai por onde convém não importa quem está certo ou errado.

Foguete: bora irmão? - cheguei perto de onde o vapor estava me esperando. Apenas nós dois vamos nessa missão, preferimos não chamar atenção com muitos soldados.

- o chefe mandou acionar ele - peguei o radinho da cintura - toma aqui ó

Foguete: valeu. Pode acelerar que eu falo com ele aqui

Subi na garupa e em seguida ele foi em direção da saída do morro.

No caminho eu troquei mensagens com o Ret, informei ele de algumas coisas importantes sobre a missão e ele me lembrou de coisas que não podiam dá erradas em hipótese nenhuma.

Foguete: ele ali - dei dois toques no ombro dele - para aqui, abastece a moto

Enquanto abastecia, ficávamos olhando os movimentos do Mendes. Ele conversou alguns minutos com dois polícias que tinha chegado no posto.

- será que eles vão com ele? - fechei a viseira do capacete.

Foguete: não. Ele vai pra outro lugar

No mesmo instante que falei ele entrou no carro e saiu sem os policiais. Saímos seguindo o carro com alguns metros de distância. Por mais que fossemos nos desfazer da moto e roupas depois, ele não pode de jeito nenhum reconhecer nada que ligue a nós ou que dê tempo dele ligar para alguém antes de chegamos nele, nem câmeras e nem testemunha.

O range rover preto entrou em uma rua sem movimentos de pessoas, pouco iluminada e tranquila. Ele parou em um portão que uma mulher morena estava esperando, então ela entrou e beijou ele.

Foguete: passa direto - falo tirando a arma da cintura - vai lá na frente e volta

Assim ele fez, quando voltamos foi tudo bem rápido. A moto parrou e Mendes puxou a pistola, a mulher gritou se abaixando. Descarreguei o pente para ter certeza de que ele não sobreviveria a tantos tiros.

Foguete: vai, bora porra! Mete o pé

°

Depois de passar toda a missão para o William, fui em casa tomar um banho para voltar e resolver coisas do baile desse final de semana.

Pelo Ret não ser muito fã de baile, eu por outro lado adoro um furdunço, ele me deixou na responsabilidade de tudo relacionado a bailes ou festas do morro.

Foguete: tia, tem como mandar aquele prato de respeito?

Vim na casa de uma mulher que cuidou de mim depois que minha mãe morreu e meu pai foi embora. Ela era amiga da minha mãe da igreja, assim que meus pais me deixaram e eu fiquei sem ter para onde ir, Magda me criou ao decorrer dos anos, depois eu fui tendo minhas responsabilidades, mas nunca deixei ela na mão como meu pai me deixou, até porque quando eu precisei foi ela que me ajudou.

Magda: uma hora dessa filho? Onde você estava? Fiquei esperando por você hoje mais cedo

Foguete: desculpa tia - beijei a testa dela - tive que fazer umas coisas de manhã para o baile e de noite fui em uma missão

Magda: ai Daniel, você já sabe o que eu vou falar, então melhor não tocarmos nesse assunto

Ela não gosta da ideia do caminho que eu segui, mas foi uma escolha minha. Desde de sempre eu sabia os riscos e o perigo que eu passei a correr depois que entrei nessa vida. Não é por ela que eu vou mudar uma escolha de anos, agradeço por tudo que ela fez e faz por mim até hoje, porém tem coisas que eu só consegui presentear ela devido o dinheiro do crime, e com esses presentes que ela sorri, come e bebe todos os dias. Nunca joguei nada na cara dela desses assuntos, pois eu entendo o lado dela, toda essa preocupação comigo, eu sou o filho que ela nunca pode ter e ela é a mãe que eu não consegui ter.

Foguete: Depois vamos tomar um sorvete? Como antigamente?

Magda: essa hora? Não está fechado?

Foguete: lá na pracinha fica aberto até três horas, hoje é sexta tia, tudo está aberto e movimentado

Magda: tá bom, vou me arrumar

Esse sorriso dela me amolece muito. As vezes gosto de fazer essa pequenas coisas que faz ela sorri a semana toda.

Foguete: segura aqui - envolvi os braços dela na minha cintura - segura fimer

Magda: não corre Daniel - ri.

Foguete: fica tranquila que aqui é piloto de fuga

Magda: Meu Jesus Cristo!

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Amante Do Perigo  - Filipe RetWhere stories live. Discover now