Capítulo 32

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– Você é maluco! Jessica disse enquanto tirava meu macacão.

– Eu precisava do dinheiro, não ia deixar ele ganhar. Suspirei.

– A que custo? Olhou para minha perna. – Era mais fácil se prostituir.

– Aqui! Angelo me deu um bolo de notas. – Parabéns! Olhou para minha perna. – Vai ficar feio isso ai. Jessica vai lá pegar o kit de primeiros socorros e dá um jeito nisso ai.

Jessica saiu e ele me deu um cigarro de maconha, ascendendo em seguida.

– Quero te fazer uma proposta. Me olhou sério enquanto eu fumava. – Vem uma vez por semana e a partir da 5ª corrida eu fico com 40% e você com 60%.

– Não consigo vir toda semana, já te disse isso. Jessica chegou e se sentou no chão, limpando meu ferimento com cuidado.

– Eu não consigo encaixar você toda vez que vier aqui. Tenho outros corredores. Se levantou e cruzou os braços. – Fica a seu critério.

– Eu sou o melhor que você têm! Exclamei e afastei a perna ao sentir um ardor.

– Eu tenho outros. Saiu da estrutura e Jessica me olhou.

– Tem alguém melhor que eu? Arqueei a sobrancelha e soltei a fumaça do cigarro.

– Tem um garoto que ele esta treinando. Pode ser que fique melhor que você, sim. Deu de ombros.

– Obrigada. Afastei a perna e peguei uma gaze, fazendo um curativo.

– Posso ir pra sua casa? Jessica se levantou.

– Hoje não. Sorri sem graça e coloquei minha roupa.

– Não quer continuar o que começamos? Olhou para o chão.

– Jessica, nós não temos mais nada. Suspirei e beijei sua testa. – Boa noite! Peguei o capacete e saí, jogando o resto do cigarro no lixo.

– Estevam! Jessica puxou meu braço e me fez virar para ela. – Eu ainda não entendi porque terminamos.

– Porque não dava mais certo. Era só sexo e você sabe disso. Coloquei o capacete.

– Mas se o sexo é bom não tinha porque terminar. Levantou a viseira do capacete e me encarou.

– Eu queria ficar com outras meninas e você com outros caras. Foi melhor assim. Suspirei.

– Mas... Se aproximou.

– Sem mais, Jessica. A gente se vê por ai! Me virei indo até a saída. Acenei para o Cadu e saí.

Subi em minha moto e liguei. Abaixei a viseira do capacete e dei partida.

Vou para casa do meu pai, entregar esse dinheiro para Estefani segurar as pontas. Meu pai estava nesse mundo de vícios de álcool e jogos depois que minha mãe nos abandonou.

Ela pegou as coisas dela quando eu tinha 17 anos e simplesmente saiu pela porta da frente. Desde então eu tive que trabalhar, pois tudo o que tínhamos serviu para pagar as dívidas que meu pai fez depois do ocorrido.

Eu não aguentava mais essa vida, então decidi ter o meu próprio canto. Me formei com uma bolsa que ganhei do governo e trabalhei duro para conseguir ter o que tenho hoje. Pilotar era o que eu mais gostava de fazer, e foi de lá que tirei o dinheiro para comprar a minha própria moto.

Mas estava se tornando cada vez mais perigoso. Certa vez quase fui preso por estar entre os caras que traficavam, por isso só ia correr quando era realmente necessário.

Estefani tem 20 anos, e sempre foi ela por mim e eu por ela. Apesar de ser mimada e arrogante na maioria das vezes, eu a amo e faço de tudo para que ela não sofra como eu sofri quando a mamãe foi embora.

Estava cada vez mais difícil sustentar ela, a casa, meu apartamento e as dívidas do papai. Por isso, pedi que ela procurasse emprego. Ela está fazendo faculdade de secretariado e um estágio que seja, já faria a diferença.

– Oi! Tem alguém em casa? Disse quando abri a porta.

– Estevam! Estafani veio correndo de seu quarto e me abraçou forte.

– Está tudo bem? A olhei. – O papai está em casa?

– Não. Revirou os olhos. – De certo está fazendo mais dívidas. Suspirou e cruzou os braços.

– Toma. Tirei as notas de dinheiro no bolso e coloquei em sua mão. – Isso aqui vai ajudar por um tempo. Baguncei seu cabelo.

– De onde isso saiu? Perguntou olhando para a quantidade.

– O importante é que eu trouxe. Pisquei.

– Amanhã começo em uma empresa como estagiária. Disse animada.

– Não acredito! Sério? Sorri e a abracei forte.

– Sim! Beijou minha bochecha. – É uma empresa grande até. Não paga muito bem, mas já vai ajudar bastante. Sorriu.

– Que bom. Mande lembranças ao papai. Disse abrindo a porta. – E boa sorte lá amanhã.

– Já vai? Perguntou decepcionada.

– Sim. Estou cansado e amanhã tenho alguns plantões bem cedo. Beijei sua testa.

– Ta bom. Obrigada pelo dinheiro. Sorriu ladino e fechou a porta.

Subi na moto e coloquei o capacete novamente, dando partida na moto. Minha perna estava ardendo bastante e eu queria chegar logo em casa para limpar o ferimento melhor.

Parei no semáforo e um carro parou ao meu lado. Ouvi uma voz conhecida e uma risada cativante. Olhei para o lado e pude ver Laura no banco do passageiro.

Ao seu lado, seu marido, com a mão sobre sua perna, e rindo junto a ela. Acelerei a moto, sem dar partida, fazendo um barulho ao lado do carro que os fizeram olhar para mim. Com medo, seu marido subiu os vidros do carro e eu encarei Laura, que me reconheceu de imediato.

O semáforo ficou verde e eu dei partida, sem olhar para trás.

Talvez o que eu tenha feito com ela serviu apenas para os aproximar ainda mais. E por mais que eu quase não tenha passado tempo com Laura, o fato dela não falar mais comigo me incomodava muito. Eu estava sentindo falta da presença dela e não sabia como agir contra esse sentimento, já que nunca me senti dessa forma, nem mesmo quando estava namorando com a Jessica.

Entrei em casa e me despi rapidamente, indo direto para o banheiro. Tirei o curativo que fiz mais cedo, que estava sujo de sangue por sinal, e entrei no chuveiro. Tomei um banho e fiz uma limpeza na perna, que doeu bastante.

Coloquei outro curativo ao sair do chuveiro e fui para a cama, após vestir apenas uma cueca. Me cobri e peguei o travesseiro em que Laura dormiu na noite em que esteve aqui. Senti seu cheiro no tecido e fechei os olhos.

AmanteWhere stories live. Discover now