Capítulo 2

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Amélia

Durante a semana quase não tem movimento no cinema. De segunda á sexta, as únicas pessoas que o frequentam são casais de idosos e namorados que estão a fim de dar amassos sem que ninguém os veja – ou reclamem com eles.

Cine Hollywood, nome do cinema onde trabalho, possui um estilo de anos oitenta e início dos noventa. Tudo aqui é bem antiquado, desde o piso – que é em xadrez preto e branco, à bilheteria – que é ainda é aquela cabide pequena para apenas uma pessoa, até os letreiros – que são neon azul turquesa e rosa choque. Essa é a única razão pela qual gosto de trabalhar aqui... Fora, é claro, que ganho meu próprio salário e consigo comprar vários boxes de séries antigas com ele.

Todo mundo sabe que tenho uma alma de oitenta anos.

Preparei apenas três pipocas hoje, e com isso tive algum tempo para pensar na minha vida. Não que eu tivesse grandes coisas para pensar sobre ela, mas o fato de ter Drew sentado bem ao meu lado mexeu com minha cabeça e meu coração.

Eu nunca havia ficado tão próxima dele em três anos.

Ás vezes em que ele parou na nossa frente para cumprimentar Josh não contam. Aproximava-se tão repentinamente e ia embora da mesma maneira que mal conseguia absorver sua beleza e logo ele estava se afastando. Mas hoje não... Hoje eu senti seu perfume e o vi de pertinho. Quis estender a mão e ter certeza se seus cabelos são macios da forma que imagino ser, mas fiquei com medo dele me achar psicopata.

Porque de fato eu iria parecer uma.

Meus pensamentos são interrompidos quando um fone despenca-se do meu ouvido, interrompendo a música alta e meus pensamentos em Drew. Olho confusa para o lado e Josh me encara com cara de interrogação.

— Sim ou não? — ele pergunta.

— Sim ou não, o quê?

— Você vai me ver tocar este sábado?

Não bastasse porte físico, carisma, inteligência e beleza (digo no bom sentido), Josh Cohen ainda toca em uma banda. Ele é o pacote perfeito para qualquer garota. Preciso dizer que arrasa muitos corações e faz meninas suspirarem pelos corredores do colégio e pelas ruas da cidade.

Chega a ser engraçado.

Apesar de ter certa popularidade com sua banda, nem ele ou os outros garotos que fazem parte querem ganhar a vida com isso. Josh me diz que tocam por diversão e para ganharem vantagem com as garotas.

— Já te falei que não curto as músicas que vocês tocam. — provoco, e ele arqueia uma sobrancelha.

— Eu tenho culpa se você tem um espírito de velho e curte músicas estilo... Como é mesmo o nome?

— Roxette? — Arrisco, e um sorriso se forma nos cantos dos meus lábios.

— Sim, isso mesmo! Você só escuta músicas antigas, Amélia.

— Eu tenho culpa de ter nascido na época errada? Acho que não. — Sorrio. — Por falar nisso, obrigada por arrancar meu fone e cortar minha música.

— De nada. — É a vez dele sorrir. — Mas e então, você vai, não é?

— Já que você me quer tanto lá, eu posso fazer esse sacrifício.

— Ótimo! O dono do bar disse que se enchermos a casa, ele dobra nosso cachê.

— Josh! Você está me usando para ganhar dinheiro?

— Não fique tão ofendida! Acha que eu esqueci que no verão passado você me pediu para lavar seu antigo carro, tirou inúmeras fotos, fez um calendário e vendeu para as garotas do colégio por um site anônimo, só para poder comprar um álbum dos Beatles?

Garotas VenenosasWhere stories live. Discover now