Capítulo 84

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Sofia

Meu pai ficou no hospital por mais três dias e então o médico resolveu que era hora dele receber alta. Noah está segurando a pequena mala com roupas que minha mãe fez e fica sempre por perto garantindo que papai consegue andar direito.

— Antes de irmos, preciso ver uma pessoa. — digo e solto a mão do meu pai.

— Tudo bem, vamos esperar no carro. — meu pai responde e eu faço o caminho reverso, indo direto ao quarto da Estela.

A porta está encostada, algo que em cinco dias nesse hospital eu não havia visto. Ontem, quando estávamos tomando o café das quatro, Elena me disse que Estela faria mais uma sessão de quimioterapia hoje, deve ser por isso que ainda não a vi zanzando pelos corredores e entrando em quartos sem ser convidada.

Dou três batidinhas na porta e escuto um "entre" baixo e, aparentemente, cansado.

Empurro a porta e vejo Estela deitada na cama, com uma aparência de quem havia tido uma noite de sono horrorosa ou talvez nem tivesse chegado a dormir de fato.

— Não se atreva a me elogiar. — ela fala da cama e eu rio.

— Não pretendia, você está péssima.

— Obrigada. — ela agradece e sorri. — Você já está indo?

— Sim, acabei de assinar os papeis do meu pai.

— Ele está menos rabugento?

— Espero que sim.

— Eu também. Se esse homem continuar estressado assim, vamos voltar á ser colegas de quarto.

Torno a rir e sento na ponta da cama de Estela. Sua pele envelhecida pelo tempo está bem pálida e uma fina camada de suor cobre sua testa. Eu não queria ter que ir... Mas muito além disso, não queria vê-la nesse estado.

Por que as pessoas boas têm fins assim? Eu sinto que vou passar a minha vida inteira sem saber essa resposta.

— Eu sei o que está pensando... — ela murmura. — Eu sabia que mais cedo ou mais tarde a tagarela da Elena daria com a língua nos dentes.

— Eu gostaria que você tivesse me contado.

— Pra quê? Você não iria criticar meu estilo e me ajudar a mudar se soubesse que eu estava morrendo.

Engulo em seco.

— Essa situação é um saco. — E sufocante. Por que não existe mais nada que ninguém possa fazer além de aceitar.

— Não acho... — Estela sorri e coloca sua mão em cima da minha. — Estou pronta para partir a qualquer momento. Aliás, agora que você já sabe, pode me prometer uma coisa?

— Qualquer coisa.

— Prometa que escolherá minha roupa no funeral? Eu amo a Elena e minhas outras filhas, mas elas não têm a menor noção de moda e não quero ser enterrada cafona.

Rimos e eu assinto, com lágrimas nos olhos.

— Eu cuidarei disso.

— Ótimo, querida. — Estela beija minha mão. — Agora vai aproveitar seu pai, vai...

Levanto-me, mas não a solto.

— O que você vai fazer amanhã?

— Jogar xadrez com meu novo paquera do quarto 502.

— Acha que posso participar desse jogo também?

O rosto de Estela se ilumina e ela concorda.

— Tudo bem. E após, café das quatro?

Garotas VenenosasWhere stories live. Discover now