Sofia
Meu pai ficou no hospital por mais três dias e então o médico resolveu que era hora dele receber alta. Noah está segurando a pequena mala com roupas que minha mãe fez e fica sempre por perto garantindo que papai consegue andar direito.
— Antes de irmos, preciso ver uma pessoa. — digo e solto a mão do meu pai.
— Tudo bem, vamos esperar no carro. — meu pai responde e eu faço o caminho reverso, indo direto ao quarto da Estela.
A porta está encostada, algo que em cinco dias nesse hospital eu não havia visto. Ontem, quando estávamos tomando o café das quatro, Elena me disse que Estela faria mais uma sessão de quimioterapia hoje, deve ser por isso que ainda não a vi zanzando pelos corredores e entrando em quartos sem ser convidada.
Dou três batidinhas na porta e escuto um "entre" baixo e, aparentemente, cansado.
Empurro a porta e vejo Estela deitada na cama, com uma aparência de quem havia tido uma noite de sono horrorosa ou talvez nem tivesse chegado a dormir de fato.
— Não se atreva a me elogiar. — ela fala da cama e eu rio.
— Não pretendia, você está péssima.
— Obrigada. — ela agradece e sorri. — Você já está indo?
— Sim, acabei de assinar os papeis do meu pai.
— Ele está menos rabugento?
— Espero que sim.
— Eu também. Se esse homem continuar estressado assim, vamos voltar á ser colegas de quarto.
Torno a rir e sento na ponta da cama de Estela. Sua pele envelhecida pelo tempo está bem pálida e uma fina camada de suor cobre sua testa. Eu não queria ter que ir... Mas muito além disso, não queria vê-la nesse estado.
Por que as pessoas boas têm fins assim? Eu sinto que vou passar a minha vida inteira sem saber essa resposta.
— Eu sei o que está pensando... — ela murmura. — Eu sabia que mais cedo ou mais tarde a tagarela da Elena daria com a língua nos dentes.
— Eu gostaria que você tivesse me contado.
— Pra quê? Você não iria criticar meu estilo e me ajudar a mudar se soubesse que eu estava morrendo.
Engulo em seco.
— Essa situação é um saco. — E sufocante. Por que não existe mais nada que ninguém possa fazer além de aceitar.
— Não acho... — Estela sorri e coloca sua mão em cima da minha. — Estou pronta para partir a qualquer momento. Aliás, agora que você já sabe, pode me prometer uma coisa?
— Qualquer coisa.
— Prometa que escolherá minha roupa no funeral? Eu amo a Elena e minhas outras filhas, mas elas não têm a menor noção de moda e não quero ser enterrada cafona.
Rimos e eu assinto, com lágrimas nos olhos.
— Eu cuidarei disso.
— Ótimo, querida. — Estela beija minha mão. — Agora vai aproveitar seu pai, vai...
Levanto-me, mas não a solto.
— O que você vai fazer amanhã?
— Jogar xadrez com meu novo paquera do quarto 502.
— Acha que posso participar desse jogo também?
O rosto de Estela se ilumina e ela concorda.
— Tudo bem. E após, café das quatro?
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Garotas Venenosas
Teen FictionAmélia Harley define sua vida em uma única palavra: tédio. Além de não fazer parte de nenhum grupo social do colégio, possui apenas dois amigos: Josh Cohen e Grace Hill - ambos considerados seus amigos para sempre. A única coisa que movimenta sua pa...