Garotas Venenosas

Capítulo 94

Existem coisas que não vamos recordar

E sentimentos que nós nunca acharemos

Está demorando tanto para ver isso

Porque nós nunca parecíamos ter tempo

Havia sempre alguma coisa mais importante para fazer

Mais importante para dizer

Mas "eu te amo" não era uma dessas coisas...

Você se lembra?

Amélia

Quando meus pais aparecem para me buscar, a fumaça branca ainda sobe do ginásio e eu ainda sinto todo meu corpo anestesiado por estar pensando em como essa situação poderia ter terminado de um jeito muito pior.

— Amélia! — Mamãe grita, saltando do carro e me envolvendo em um abraço. — Meu Deus, você está ferida? — Ela questiona e me gira para todos os lados, procurando alguma coisa em mim.

— Não, só levei uma pancada na cabeça.

Minha mãe solta o ar com força e deixa que algumas lágrimas rolem seu rosto á baixo.

— Eu... Eu... Eu achei que você... — Ela me olha. — O que é que houve?

— Sabe aquele problema que eu disse que tinha que resolver? — Pergunto e eles assentem. — Então, eu resolvi...

— Sim, mas... Uma psicopata tentou matar vocês! É só isso que você tem para nos dizer? Há quanto tempo ela fazia coisas horríveis com você, querida?

Eu poderia contar a historia do começo para a minha mãe (para constar, eu iria contá-la), mas não queria ter que fazer isso agora. Há meses tudo que meu cérebro sabe pensar é na Emma e em todas as coisas ruins que ela fez conosco... Tudo que quero, por pelo menos algumas horas, é aproveitar o silencio que está aqui dentro desde que a ambulância partiu.

Eu queria aproveitar esse sentimento de paz.

— Amanhã nós conversamos.

— Mas...

— Amanhã. — Meu pai reforça e abraça mamãe de lado. — Você quer ir para casa?

Aceno freneticamente com a cabeça.

— Eu preciso.

A maioria das pessoas já foi embora, restando apenas os bombeiros e um Gabe quase sem cabelos. Ergo o dedo pedindo um minuto para os meus pais e me aproximo dele.

— Amélia... — Ele fala meu nome em um sopro. — Aconteceu alguma coisa? Você está bem, não é? — Olho-o por alguns segundos e abraço-o, sem dizer nada. — Desculpe.

— Ninguém sabia, Gabe... Não foi sua culpa. — Falo porque preciso tirar aquilo de dentro de mim. Desde que os bombeiros apagaram o fogo e as palmas cessaram tudo que temos escutado é um pedido de desculpa atrás do outro, mas as pessoas não tinham culpa... Ninguém tinha além da Emma.

Ela conseguiu manipular á todos, então não tem por que sentir raiva de alguém que não seja ela.

— Eu sei... — Gabe diz e passa as mãos pelos olhos.