Garotas Venenosas

Capítulo 44

Sofia

► Heart – Alone

Mas o segredo ainda é meu

E meu amor por você ainda é desconhecido

Minha casa está silenciosa. Agora com Noah fazendo as provas da universidade, meu pai fica trancafiado dentro do escritório – não que antes fosse diferente, mas eu pelo menos ouvia sua voz enquanto ele falava com Clark – e minha mãe sempre está indo fazer algum tratamento no SPA – e de novo, não que antes fosse diferente.

Talvez eu esteja ficando maluca. Sempre amei o silencio, ainda mais dentro da minha casa porque, cá entre nós, quando eu e meus pais estávamos falando alguma coisa aqui era por causa de alguma desavença nossa – muito comum também, inclusive – que sempre terminou em brigas.

Mas hoje... Hoje estou me sentindo sufocada com tanto silencio. Remexo-me na cama, ficando de barriga para cima. Apoio meus pés na cabeceira porque deitei ao contrário, e encaro os cristais que estão pendurados no meu lustre do quarto. Estou contanto e separando por tamanho, quando alguém abre a porta de supetão e eu pulo assustada.

— Que cara é essa? — Isabel me pergunta e ri. — Você voltou a bancar o Drácula, é? — Ela reclama e puxa as cortinas para lados opostos, deixando o fim da claridade do dia entrar.

— O que você quer, Isabel?

— Estava entediada e achei que seria uma boa ideia vir pra cá.

Rio com escárnio e deito de novo, dessa vez de lado – estou testando qual posição é mais confortável.

— Perdeu seu tempo, também estou com tédio.

— Poderíamos fazer alguma coisa juntas, o que acha? Faz tempo desde que tivemos um programa de garotas, depois que você fissurou na Emma não conseguiu pensar em mais nada...

Á menção ao nome daquela menina me faz querer vomitar, mas estou tão estranha hoje que não consigo esboçar nenhuma reação, á não ser meus olhos que reviro.

— Tipo o que? Eu não tenho um tostão... O desfile levou toda minha mesada e agora estou de castigo, sem receber nada. Estamos pobres... — Lamento e a vontade de vomitar triplica. — Você já imaginou que me ouviria falando isso?

Isabel ri e se senta ao meu lado, colocando minha cabeça em seu colo.

— Não é "estamos", você está pobre. — ela me corrige e eu solto uma risada fraca.

— Vadia.

— Obrigada pelo elogio. — Ela brinca e acaricia meus cabelos. — O que está passando nessa cabecinha? — Isabel pergunta baixo, depois de um tempo.

Ao mesmo tempo em que acho que estou com várias coisas na minha cabeça, penso que também não esteja conseguindo raciocinar direito. A ideia de que talvez não seja o silencio que esteja me incomodando, mas a falta da pessoa que não o deixa acontecer, está quase me fazendo surtar.

Faz uma semana e meia desde que Noah sentou-se naquela cadeira da sorveteria; Faz uma semana e meia desde a última vez que o vi e que ele colocou os pés aqui dentro de casa. Não é tanto tempo assim... Aliás, é o Noah, Sofia! Você, sinceramente garota, deveria estar erguendo os braços ao alto e agradecendo pelo mendigo ter dado o fora – nem que saiba por uns dias – da sua casa e da sua vida!