Capítulo 59

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Boyz ll Men – End of the Road

Embora nós tenhamos chegado ao fim da estrada

Ainda assim não consigo desistir

Não é natural, você pertence a mim, eu pertenço a você...

Amélia

Os olhares se tornaram, de longe, a pior parte. Eu até conseguia ouvir a chacota, as risadinhas e os cochichos toda vez que chegava á algum lugar, mas os olhos... Eles me encaravam como se eu tivesse feito alguma coisa. E mesmo se tivesse, o que tinham haver com minha vida?!

Eu não estava tão positiva quanto gostaria. Na verdade, depois que a Sofia me disse tudo que Emma saiu espalhando, eu quis ir até o quarto dela e acabar com isso de uma vez (lê-se acabar com ela). Mas eu não posso simplesmente chegar lá deferindo socos nela – por mais que queira. Emma é uma santa e sempre vai ser vista assim. Quanto a mim... Bem... Não estou no meu melhor momento agora e não estava antes.

Resumindo: se eu quebrar a vaca, vou me ferrar.

Até cheguei a descer com as garotas para tomar café (nas palavras da Sofia: "fingir que nada está acontecendo"), porém não foi tão fácil ou legal como eu estava imaginando. Não que eu não vi isso vindo: já no elevador, enquanto descíamos até o salão das refeições, três alunos vieram dando risadinhas e me olhando de cima á baixo. Isabel tentou mandá-los a merda, mas a nossa moral estava bem baixa – não por minha causa, eu acho, mas porque Emma fez a nossa caveira á muito tempo atrás, desde a época do desfile ninguém se afronta mais por causa da Sofia ou da Isabel. Eu e Cintia então, coitada de nós: nunca tivemos esse poder de afrontar ninguém.

Quando chego ao salão de recepção todos se calam. É provavelmente a cena mais agonizante que já tive que presenciar. Emma, sentada em uma mesa bem no meio do local, espeta um pedaço de melancia e leva a boca. Mastiga como se fosse á coisa mais gostosa que ela já comeu, e então... Sorri. A desgraçada está rindo da minha cara.

Porque mais uma vez, magicamente, Emma Campbell conseguiu nos ferrar.

Nesse caso: me ferrar.

— Eu não vou conseguir ficar aqui. — Sussurro e Sofia agarra meu braço.

— Se você for embora, vai mostrar que é fraca e dará ainda mais motivos para as pessoas comentarem.

— É, eu sei, mas também não vou conseguir ficar aqui com toda essa gente me olhando desse jeito!

— Eles são todos idiotas. — Isabel gira o olho. — Pelo amor de Deus, parece que ninguém nunca aqui fez sexo!

Cintia arregala os olhos e tapa a boca de Isabel. É a primeira vez que consigo rir – nem que saiba um pouco – desde que coloquei meus pés para fora da cama nesta manhã.

— Eu vou para o quarto. — digo á elas. — Não estou me sentindo bem aqui, é sério... Levem alguma coisa para eu comer, vou começar a arrumar minhas malas.

— Mas só vamos embora daqui a dois dias. — Cintia fala.

— Eu sei... Mas a viagem já acabou pra mim.

Sofia tenta protestar e me fazer ficar, mas eu resisto e vou embora. Não é pelas pessoas, é pela hipocrisia. Pela raiva que estou sentindo. Dá vontade de quebrar todos os pratos na cara de cada um deles.

Garotas VenenosasWhere stories live. Discover now