Bônus

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Senti como se o peso do mundo estivesse sobre meus ombros

Pressão para quebrar ou recuar em cada curva

Enfrentando o medo da verdade, eu descobri

Sem dizer como, tudo isso vai dar certo

Mas eu cheguei muito longe pra voltar agora

Estou à procura de liberdade, a procura de liberdade

E para encontrá-la, custou-me tudo que eu tinha

Bem, eu estou procurando a liberdade, buscando a liberdade

E encontrá-la, pode tirar tudo que eu tenho

Noah Clark

Tudo já foi mais fácil uma vez.

Meus pais se apaixonaram no ensino médio e levaram até a faculdade, casando-se logo depois dela. Eu nasci e alguns anos depois veio meu irmão. Minha infância foi ótima... Até um certo tempo. Meu pai adoeceu e, quando ele faleceu, eu senti o peso do mundo sob meus ombros. Porque meu pai partiu, minha mãe resolveu se trancar no quarto, com todas as cortinas fechadas e esquecer que ela era a responsável por duas crianças.

Quer dizer... Eu não pude mais ser criança. Tinha meu irmão e, se minha mãe estava depressiva demais para cuidar dele, eu precisava fazê-lo. Toby entendia pouca coisa, nem sei se ele lembra do papai direito. Mas eu me recordo de tudo. Todos os dias, durante os anos que se sucederam até minha mãe reduzir a quantidade de remédio tarja preta, eu precisei dar banho no meu irmão, levá-lo para a creche, preparar o almoço, limpar a casa, conversar com a conselheira do Estado (uma vez que ela se preocupava com a situação mais que minha mãe e nós corríamos o risco de sermos levados dela), medicar minha mãe e ajudá-la a comer (e a não se matar também), fazer a lição de casa, tentar passar com nota em alta em tudo para tentar conseguir uma bolsa na faculdade e, ao final do dia, não deixar nada disso transparecer para ninguém.

Cinco anos após a perda do meu pai, um monte de dívidas nos circulava. A hipoteca estava atrasada, algumas contas também. Minha mãe já não estava mais tão depressiva assim: dormia menos, trocava algumas palavras conosco e o perigo iminente que ela fosse acabar com sua própria vida já tinha passado.

Um dia eu cheguei do colégio e tinha um homem sentado no sofá. Nunca havia visto-o antes. Pensei que fosse algum enviado do governo para tomar nossa casa, mas a única coisa que minha mãe disse foi: "Noah, esse é Estevão. Meu noivo."

Noivo? Quando isso havia acontecido? Quando ela tinha começado a namorar sequer noivar?

Foi demais para minha cabeça. Outro homem dentro da nossa (eu poderia chamar assim?) casa, e tudo isso ocorreu bem abaixo do meu nariz. Enquanto eu me matava para tentar manter as coisas no lugar, minha mãe estava ficando noiva.

Com o Estevão entrando na casa, uma outra família chegava junto com ele. Eu nunca gostei do cara (antes mesmo dele começar a fazer merda), mas os filhos dele... Não sei. Não tive como não gostar. No inicio até tentei mantê-los longe, mas no final das contas percebi que, além da história dos três serem parecida com a minha – a mãe deles também havia falecido –, nenhum deles tem culpa de ter um pai assim.

Garotas VenenosasWhere stories live. Discover now