Sofia
— Achei que te encontraria arrumando as malas para Paris.
Encaro minha mãe pelo reflexo do espelho e termino de fechar o casaco que estou vestindo.
— Não, vou terminar depois.
— Então... Você vai embora mesmo?
— Sim.
— Você se acha pronta o suficiente para morar tão longe?
Aperto meus lábios e respiro fundo.
— Se você tivesse perguntado isso para a antiga Sofia, a resposta com certeza seria não. Mas agora, eu sei que estou mais do que pronta. — respondo. — Por que está puxando assunto? Não é como se você fosse sentir minha falta aqui.
— O que você acha que sabe sobre mim, essa casa ou a vida, Sofia? — Ela pergunta em um tom de deboche.
— Aparentemente, sei mais do que você. — digo firme. — Sabe, mãe, antes eu sentia tanto ódio de você, e eu achava que era porque você não me dava atenção... Mas bastou eu me reconciliar com a Amélia para entender o porquê que você me mandou ficar longe dela. É a mãe da Mel, não é? Você queria ser como ela...
Minha mãe bufa.
— Ser como? Pobre?
— Não, uma mãe de verdade. Mas olha... Tudo bem. Como eu estava dizendo, antes eu sentia raiva de você, hoje eu só sinto... Pena. Todo o tempo, quando você me manipulou para mudar completamente, para eu querer cegamente o Drew, para seguir os passos do meu pai e assumir a empresa... Você não fazia isso por mim, você queria curar a sua frustração tentando me transformar em você. Não deu muito certo, não é?
Mamãe fecha a boca em uma linha séria e ergue seu copo para mim. A essa hora da manhã e ela está bebendo, pessoal!
— Você continua arrogante.
— E você continua a mesma pessoa vazia de sempre... Algumas coisas nunca mudam. — Passo por ela, mas paro na frente da porta. — Olha, meu pai mudou... Muito e para melhor. Eu acredito que você também consegue, se quiser. Meu coração está disposto a te perdoar e construir uma relação que nunca tivemos. Paris vai ser bom para nós duas, talvez meu tempo longe te faça pensar. — Aproximo-me novamente dela e beijo seu rosto. — Eu não sou mais a mesma, mãe... Gostaria que você também não fosse.
...
— Temos mesmo que fazer isso? — Amélia pergunta, respirando com dificuldade.
— Você pode ficar aqui fora, se for demais pra você...
— Não — ela balança a cabeça rápido. — Não sei se vai ser demais, mas não quero te deixar sozinha.
Concordo e seguro em seu braço. Juntas, adentramos no Hospital Psiquiátrico McLean. Na recepção, os pais de Emma nos aguardam sentados em cadeiras verdes clara. A mãe dela chora quando nos abraça, já o pai só sabe nos pedir desculpas.
É de partir o coração, sabe? Eles são muito ligados á igreja e sempre acreditaram que a filha deles estava se curando aos poucos, sem precisar ficar em um ambiente tão ruim quanto um hospício – foi por esse motivo que decidiram pedir para que ela pudesse voltar para casa.
A mãe da Emma nos conta tudo, desde o início. A todo instante, ela chora bastante, nos pede perdão em nome de sua filha e chegam até a assumir a parcela de culpa deles na história.
Mas para ser franca agora que toda a poeira abaixou, a única culpada de tudo isso é a doença que Emma tem... Nada mais além disso.
— Vocês podem vê-la agora. — O pai da Emma diz. — Ela está medicada, mas qualquer coisa nos chame... Estaremos do outro lado da porta.
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Garotas Venenosas
Teen FictionAmélia Harley define sua vida em uma única palavra: tédio. Além de não fazer parte de nenhum grupo social do colégio, possui apenas dois amigos: Josh Cohen e Grace Hill - ambos considerados seus amigos para sempre. A única coisa que movimenta sua pa...