Garotas Venenosas

Bônus

Grace Hill  

Como chegamos aqui?

Eu costumava te conhecer tão bem

Quando minha mãe disse que eu mudaria de escola minha vida virou um pesadelo em cinco segundos. Nunca fui do tipo facilmente sociável, mas não tanto por minha causa, e sim pelo meu jeito. As roupas pretas, a maquiagem forte e a expressão séria sempre assustaram ou afastaram as pessoas de mim. Como nunca me importei, deixei que as coisas seguissem dessa forma.

Eu estava acostumada com o ambiente e o choque de transição para outra escola me puxou o tapete. No primeiro dia de aula eu sabia que precisava dobrar a quantidade de lápis de olho e rímel se quisesse manter essas patricinhas mimadas longe de mim. Aos poucos, todos notaram meu jeito e me deixaram em paz. Isso tudo durou até a minha detenção, porque naquele dia eu conheci Amélia.

Ela nunca pareceu assustada comigo. Muito pelo contrário, era como se tivesse me aceitado desde o segundo em que me viu, o que era bizarro já que nessa escola todo mundo parecia querer acabar com aquela pessoa que era diferente do padrão.

Nós não éramos em nada parecidas, mas ela foi a primeira pessoa por quem simpatizei verdadeiramente naquela escola. Quando descobrimos o ódio mútuo por Sofia Cooper, aquela amizade só fez prosperar. Amélia é minha melhor amiga, minha companheira e parceira de todas as horas... Ou ainda é, eu acho.

É por isso que estou sentada na varanda da minha casa me embebedando. O aniversário foi um desastre, meu vestido já está sujo, minha família – que foram os únicos convidados á chegarem – estão indo embora e minhas lágrimas lavaram qualquer boa maquiagem que eu tivesse feito hoje.

Resumindo, o dia foi um fracasso.

— Você não quer mesmo que eu ligue para o pessoal? — Emma pergunta, sentando ao meu lado.

— Não. — eu respondo seca, sentindo o gosto do álcool queimar na língua. — Cadê a Amélia?

Não sei como me sinto em relação á ela agora. Amélia insistiu por toda esta festa... Não que eu não quisesse, mas pra mim seria muito mais divertido sairmos para beber e jogar boliche. Porém pela primeira vez eu resolvi ceder e fazer algo de especial no meu aniversário, e olha só no que deu!

Ainda não consigo entender como Amélia errou os convites... Foi de propósito? Não quero acreditar nisso... Mel jamais faria isso comigo e ainda mais no meu aniversário... Não é?

— Ela foi embora. — Emma responde. — Ainda podemos ter uma festa de aniversário, Grace. — Ela sorri e me abraça pelos ombros. — Não desanime!

Eu estou me sentindo humilhada e triste. Uma festa de aniversário que ninguém aparece porque, aparentemente, sua melhor amiga errou o seu endereço e colocou para a casa da pessoa que vocês duas odeiam. Seria cômico se não fosse trágico.

— Eu não quero mais, Emma... — murmuro triste e tomo outro gole daquela bebida nojenta, mas forte. — Eu sabia que não deveria ter feito festa nenhuma.

Emma suspira.

— Eu tentei cuidar dos convites, mas Amélia me deixou de fora de tudo que envolvesse a festa e eu não queria atrapalhar... — ela diz, incerta. — Quer dizer, eu achei que poderia atrapalhar.

— Amélia insistiu para ficar com os convites? — pergunto e Emma assente.

— Ela disse que tinha tudo sob controle e eu, claro, acreditei.