Capítulo 45

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Amélia

A única coisa que se escuta na mesa são os talheres batendo no prato. Já parei de comer a muito tempo, mas permaneço encarando meus pais. Estou com certo receio de pedir para viajar e ouvir um "não!" e acabar com minha noite, então estou adiando o momento o máximo que consigo.

Já fizemos o jogo do jantar – como sempre – e dessa vez, ainda bem, não brincamos de "Quem sou eu?", meu pai fez o favor de inventar um jogo de forca bem no meio da refeição.

Eu perdi, é claro.

— Como está indo na escola, criança? — meu pai pergunta, mastigando.

Empurro o prato para frente e suspiro.

— Estou bem.

De fato, minhas notas ainda estão altas como de costume, mas os cochichos ainda não pararam, assim como os xingamentos – eu sei que não xingam na minha frente, mas sei que o fazem pelas minhas costas – e esse tipo de coisa não me faz ter um pingo de vontade de ir ao colégio. Além do mais, vivo para cima e para baixo com Drew e as pessoas ainda não entenderam o que alguém como ele está fazendo com alguém como eu. Então não é só pela Sofia ou o desfile fracassado, é sobre meu quase-relacionamento e minha quase-vida-social.

— Por que está com essa cara, querida? — minha mãe pergunta.

— Não é nada demais, é só que... — Solto um suspiro e decido que é melhor falar logo de uma vez. — A viagem desse ano é para Aspen e eu quero muito ir.

Atraio a atenção dos meus pais por completa e engulo em seco. No primeiro ano eu não pedi para viajar e eles não insistiram; Ano passado eles até concordaram que deixariam, mas nunca soube se era pra valer porque não fui de fato. Meus pais são super mega ultra protetores, daquele tipo que não importa se eu tiver trinta anos e morar sozinha, eles vão me ligar todas as noites para perguntar como foi meu dia e se já jantei.

Quando meus pais trocam um olhar longo e duradouro, preparo meus ouvidos para um "não" mascarado com um "Pode ser perigoso, Aspen não tem neve? E se você escorregar e quebrar um braço? Acho melhor não."

— Bom... — meu pai diz, expirando. — Nós sabíamos que esse dia ia chegar, não é mesmo?

Enrugo a testa.

— Que dia? — eu pergunto.

— Namorado, viajar sozinha...

Solto uma risada fraca.

— Eu não estou namorando, pai.

— Mas vive grudada naquele menino. — Ele gira os olhos. — Quem vai pra essa viagem?

— Não sei... Sofia, eu acho, Isabel...

— Quem é Isabel? — minha mãe pergunta animada. Na mente dela, me ouvir falar o nome de uma pessoa diferente é quase tão bom quanto ganhar na loteria (mamãe adora me "incentivar" para ser mais social).

— Uma... — Quem era Isabel? Eu deveria dizer "amiga da Sofia" ou... minha colega? — Uma colega da escola. — decido, por fim.

— Grace vai?

Fecho a cara e cruzo os braços.

— Eu não estou falando com ela.

— Como não? Vocês são melhores amigas á anos...

— Amizades acabam. — falo angustiada, querendo retomar o verdadeiro foco da conversa.

— Josh? — meu pai indaga.

Garotas VenenosasWhere stories live. Discover now