Capítulo 86

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Amélia

— Expulsa! — mamãe grita pela milésima vez. Afundo mais a cabeça no travesseiro e desisto de tentar secar meu rosto: eu simplesmente não consigo parar de chorar.

Meu pai está quieto no canto do meu quarto, pensativo ele não para de massagear a testa. Soluço mais uma vez e minha mãe inspira com força. Ela está gritando desde que chegamos do colégio e não a julgo: eu fui expulsa do colégio e, sem o certificado de ensino médio, eu não iria para faculdade nenhuma.

Meu futuro estava basicamente arruinado, ainda mais que no meu histórico sempre ficaria registrado o crime que Emma cometeu.

— Você precisa nos explicar essa história, Amélia. — meu pai fala sério.

Explicar o que? Que eu não roubei aquele dinheiro?

Como eu iria sequer provar o que estava dizendo?!

— Há meses você tem estado diferente, mas isso... — mamãe solta o ar com força. — Era algum tipo de trote antes de acabar o ano? Amélia, estou falando com você!

— Me desculpa! — peço, suspendendo o tronco para olhá-los. — Eu não queria causar tanto transtorno pra vocês.

— Você acha que isso é só um transtorno? — minha mãe questiona chateada. — É todo seu futuro, Amélia... — suspira. — Eu não consigo mais fazer isso.

Ela sai do meu quarto e meu pai a acompanha logo em seguida. Enterro a cabeça nas cobertas e choro forte até escurecer. Meu celular toca várias vezes e vejo no visor o nome "Sofia" piscando consecutivamente, mas não atendo.

Estou cansada de tudo isso.

...

Desperto assustada no meio da noite e não consigo mais pegar no sono. Meus olhos estão pequenos de tanto chorar e minha cabeça parece que vai explodir. Tomo um comprimido e sento na bancada que fica logo abaixo da minha janela. É dia 1 de dezembro e estive preocupada com tantas coisas fúteis (que agora parecem sem sentido aos meus olhos) que nem reparei que o senhor Leroy foi o primeiro vizinho do bairro a enfeitar a casa com pisca-pisca. As luzes colorem a rua escura e me deixam melancólica, eu sempre gostei do clima natalino e de tudo que traz consigo, mas não esse ano.

Não sei quando minha vida virou esta grande bagunça e nem qual foi o exato momento em que comecei a bagunçar ainda mais ao invés de tentar me ajudar. Eu vivo colocando a culpa na Emma, mas se não fosse por mim mesma, ela jamais teria conseguido me atingir. Eu deixei Emma tirar as pessoas que amo da minha vida. Grace, Josh, Drew, a confiança dos meus pais... Continuo me perguntando o que poderia ter acontecido se eu jamais tivesse cedido as suas maldades. Se tivesse continuado a ser a Amélia de sempre, que trabalhava no cinema e vivia cheirando a pipoca e manteiga derretida; Que escutava músicas antigas e vestia as piores roupas possíveis; Que não passava um ano inteiro obcecada em tentar vencer alguém.

Emma não fez tudo sozinha, eu também me prejudiquei. Eu mudei e não foi pra melhor e, além disso, precisei perder tudo para perceber.

Perdi quem eu era. É por isso que estou passando por todas essas coisas.

...

Meus pais estão enfeitando a casa para o natal. Faz três dias desde que tudo aconteceu e não tenho saído do meu quarto com frequência, com exceção de hoje. Também estou de castigo, mas esse foi sem logica porque ambos sabem que não tenho mais amigos e nem para onde ir quando metade da cidade me odeia e a outra metade está rindo da minha desgraça.

Garotas VenenosasWaar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu