Capítulo 7

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Amélia

Eu estaria mentindo se não dissesse que acordei trinta minutos mais cedo naquela segunda para me arrumar com calma. Para quem sempre acordava em cima da hora de ir para o colégio, ter levantado antes do horário só poderia ter um significado. 

Drew.

Lavo o cabelo e o seco, deixando os cachos naturais. Não abuso da maquiagem – até porque não sei aplicá-la e não quero correr riscos de ficar parecendo uma palhaça –, então aplico apenas um rímel e batom clarinho. Pela primeira vez na minha vida penso em qual roupa usar hoje. Escolho uma calça jeans de lavagem escura e uma blusa branca novinha que ganhei da minha mãe. Coloco meu tênis e visto o casaco, já que está fazendo frio.

Quando desço as escadas, minha mãe está terminando de colocar o café na mesa e meu pai está enchendo uma xícara.

— Você caiu da cama? — meu pai pergunta, e nego.

— Bom dia, família!

— Quer ir ao psicólogo, Amélia? — ele debocha mais uma vez, e rio. — Certo, nós vamos agora.

— Eu estou ótima, pai! — digo, e pego uma torrada.

— Isso é maquiagem? — mamãe pergunta, divertida. — Você está gostando de alguém?

Enrubesço.

— Não quero meninos nessa casa, está ouvindo mocinha?

— Não é nada disso. — Dou de ombros, fazendo pouco caso. — Adiante pai, eu preciso chegar no horário.

Ele passa um olhar engraçado e confuso para a minha mãe, como se dissesse "minha filha pirou de vez".

•••

— Bom dia, Josh! — Cumprimento-o, assim que o enxergo no meio da multidão.

— Bom dia. Por que está feliz? São sete e meia da manhã. — ele diz, e coça os olhos.

— Porque hoje é o melhor dia da semana! — comemoro, e beijo seu rosto. Grace se aproxima de nós com uma cara de quem foi atropelado por um caminhão. — Bom dia amiga!

— Bom dia nada! — ela diz mal humorada. Josh e eu damos risada, porque fala sério é da Grace que estamos falando. — Hoje é segunda-feira, Amélia!

O sinal toca.

— Eu sei! — Bato palmas. — Boa aula, amigos!

Praticamente vou montada em uma nuvem para a aula de Física. Sento no mesmo lugar da semana passada, na esperança que Drew faça o mesmo, para que eu tenha uma visão panorâmica excelente do seu rosto e corpo.

Tiro meus materiais de dentro da mochila. A cada movimento na porta, meu coração acelera, mas volta ao ritmo normal quando vejo que não é ele. O professor de Física fecha a porta, dizendo que ninguém mais irá entrar. Claro que se Drew chegar atrasado ele entra.

Mas Drew não chega para o primeiro horário.

•••

Trinta minutos da aula de Biologia e nada. Não consigo esconder a minha cara de frustração, porque é impossível. Estou tão angustiada que quero me jogar na lama suja do campo e chorar até o fim dos meus dias.

Três anos! Três anos que preciso vê-lo de longe pelos corredores e contentando-me com um leve aceno quando ele vinha falar com Josh. Alguém sabe o que é isso? Três anos?!

E hoje, no dia em que achei que iríamos avançar a nossa relação, voltamos cinco casas. E eu até me maquiei! E acordei cedo para ajeitar meu cabelo!

Por que esses garotos resolvem faltar quando estamos produzidas? Essa deveria ser a pergunta que move a humanidade.

Olho a chuva caindo fraca do lado de fora e solto um suspiro. A aula de Física foi um saco sem Drew lá. Não tinha nada para ficar encarando, além do meu caderno. A história está se repetindo na de Biologia. Todo mundo está com seu par, menos eu, porque Drew resolveu faltar justo na nossa primeira segunda juntos!

Fala sério, Drew!

— Senhor Evans... — Escuto professor Robert dizer, e quase torço o pescoço por virar muito rápido. — Á que devo a honra?

— Desculpe professor. Peguei um engarrafamento na estrada de Portland até aqui esta manhã. — ele diz e estende um papel para Robert. — Posso entrar?

— Claro, como sempre. — Robert diz e lhe dá passagem na porta.

— Onde vou me sentar? — Drew pergunta, e meu ego fica um pouco ofendido.

Só um pouco. Ele não tem obrigação de saber meu nome... Mas vai aprender.

— Ao lado da sua nova parceira: Amélia. Quem sabe ela não te dá um pouco de juízo e te faz chegar no horário?

Drew ri e caminha até a cadeira vaga ao meu lado. Prendo a respiração e fico olhando para frente feito um dois de paus. Ele senta, seu perfume invade minhas narinas como um soco. É maravilhoso, um cheiro forte e amadeirado, mas não o suficiente para te deixar enjoada. Dá vontade de colocar o nariz em seu pescoço e sentir mais de perto.

Ele exala uma magnitude, por isso todas as garotas ficam inclinadas para ele. É como se Drew fosse um ímã: quando ele está no local, você não consegue olhar para mais nada.

Professor Robert pede-nos para fazer uma leitura de três páginas do livro. Abro-o e finjo que estou prestando atenção, mas não consigo com Drew ao meu lado. A cada movimento, seu cotovelo encosta no meu braço e eu falto morrer.

Dez minutos depois, ele solta um suspiro e diz:

— Que chuva, não é?

Ele está falando comigo? Comigo? Está falando comigo? É sério? Chuva? É, está chovendo! Você odeia chuva? Eu odeio chuva. E frio. Nosso primeiro assunto será sobre o clima? Sim? Mas porque estou pensando ao invés de respondê-lo?

Ah é, porque eu não consigo falar nada!

Isso é hora para meu cérebro entrar em curto e eu não conseguir falar nada? Olho para Drew, que tira os olhos da janela e me encara. Ele. Está. Me. Encarando. E eu não vou surtar por causa disso!

Depois de uns dois minutos sem resposta, ele dá de ombros e encara seu livro.

É isso! Eu sou um fiasco quando se trata de Drew Evans.

•••

— Foi tão ruim assim? — Grace pergunta, me confortando com um carinho nas costas.

Encaro-a entediada.

— Foi ridículo. — choramingo e enterro meu rosto na mesa do refeitório.

— Bom, pelo menos ele puxou assunto, não é?

— E eu não respondi, Grace! Ele deve ter confirmado o que está estampado na minha cara: que sou anti-social e uma boba!

Eu sou anti-social. — ela corrige. — Você é só mais uma boba encantada pelo Drew.

Giro os olhos.

— Você não está ajudando.

— Pelo menos tentei. — Ela ri. — Fica calma, vocês tem até o final do ano para se aproximarem.

— Ele nunca mais vai puxar assunto. — digo com veemência. — Não depois deu tê-lo deixado sem resposta.

— E dessa vez você nem precisou da Sofia para estragar as coisas.

— Grace...

— Sim, amiga?

— Você é péssima com conselhos. — enfatizo.

— Eu sei. Sempre te disse para não pedi-los, mas você não me escuta.

Rio, porque é a única coisa que tenho para fazer além de chorar.

Garotas VenenosasWhere stories live. Discover now