Capítulo 74

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Sofia

Eu não sou de acordar cedo (por isso vivo atrasada), ainda mais nos finais de semana. Só que nesse, em particular, acabei despertando bem antes do que pensava – mais precisamente ás cinco horas da manhã. Por quê? Digamos que ouvi um baque lá em baixo e pensei que pudessem ser ladrões e o que eu faço? Chamo a polícia? Ligo para a segurança da casa? Não, banco Indiana Jones, pego o taco de golfe que meu pai nem usa mais (porque sempre diz que não tem tempo) e desço as escadas.

Meus pais estão em uma cidade vizinha porque meu pai já começou a procurar por aliados. Ele está mesmo levando essa história de prefeito á sério e duvido que irá desistir enquanto não conseguir... Essa é uma das poucas coisas que temos em comum (tudo bem: é a única coisa que temos em comum).

Meus passos são tão lentos que chego a pensar que nem estou me movendo. Desço um degrau por vez, tomando cuidado para não ser vista. Quando chego ao hall de entrada, noto que uma luz do escritório está acesa. Não é o do meu pai – é onde o cofre dele fica – é o de Noah. Esses ladrões são burros ou o quê? Com certeza não sabem que estão no escritório do pobre, o do rico fica logo aqui queridos.

Noah disse que passaria o final de semana no dormitório da faculdade porque tinha provas e trabalhos para terminar/entregar. Odiei saber que ele não estaria por perto, mas não demonstrei. Seria uma boa oportunidade para ficarmos a vontade em casa já que sempre temos que nos esconder dos meus pais e de seus funcionários... Fiquei frustrada, admito.

Vou na ponta do pé até a porta e coloco só metade da cabeça para dentro. Assusto-me quando dou de cara com Noah terminando de fechar uma mala. Minha sombra o assusta e quando ele me reconhece, dá um sorriso nervoso.

— O que está fazendo? — pergunto adentrando o escritório de maneira nada solicita.

— O que você está fazendo? — ele devolve a pergunta e dá a volta na mesa, sentando-se na borda como meu pai costuma fazer quando quer amedrontar algum sócio dele. — Com esse taco de golfe e... — Noah me analisa por uns segundos e seu sorriso muda de nervoso para... Maroto. — Belo pijama.

Olho para baixo e só então me dou conta que desci com um pijama branco rendado e que deixa boa parte da minha pele á mostra. Corro para trás da cadeira, mas isso não diminui a vergonha e nem faz a roupa ficar maior.

— Bom... — Pigarreio e decido mudar o rumo da conversa. — Eu perguntei primeiro.

— Vim pegar um documento para levar á faculdade.

— Achei que tinha dito que iria estudar esse final de semana.

— Isso também...

— Então porque tem uma mala no chão do escritório? — Eu tentei deixar esse fato batido, mas quando vi a mala de couro velha no chão, meu coração começou a martelar e minha mente pensar em várias coisas ao mesmo tempo.

Noah perde qualquer tom de brincadeira, coça os olhos e solta um suspiro.

— Eu vou viajar. — Ele diz baixinho, depois de um tempo.

Largo o taco encostado na cadeira e cruzo os braços, sem acreditar no que estou ouvindo.

— Pra onde?

Noah reluta para responder, é como se ele estivesse em uma batalha interna.

— Vou para "casa". — Ele faz aspas.

— E quando você pretendia me contar isso? — Vou de preocupada á zangada em 5 segundos.

— Quando eu voltasse. — Noah diz como se não fosse nada e eu começo a zanzar pelo escritório para não atirar o taco em sua cabeça.

Garotas VenenosasWhere stories live. Discover now