Capítulo 5 | Sophia

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Ela faz uma cara de assustada, pela forma seca com que eu respondi, mas não quero mais falar deste assunto, chega!! A presença dela me machucou muito mais do que passar por alguns lugares conhecidos. Então resolvo por um basta:

- Naty, sinto muito, logo mais terei que pegar meu ônibus de volta, se não se importar... – falo asperamente, demonstrando a porta de saída.

- Ah, ok! Desculpa, não queria te atrapalhar.

- Sem problemas...

- Até mais...

- Até – dou um beijo em seu rosto, totalmente sem jeito e ela sai pela porta. Que merda não quero chorar, mas meus olhos ardem. Não posso deixar minha mãe me ver assim. Corro para o banheiro para lavar o rosto, um pouco de água fria deve resolver.

Depois que tenho tudo arrumado, entro no quarto da minha mãe e deixo um presentinho, podia ter entregado pessoalmente, mas tenho certeza de que ela choraria mais e me pediria para ficar.

O presente é uma caneca que pedi para estampar uma foto nossa, de quando eu ainda era pequena, gostei tanto que fiz uma para ela e outra para mim. Inclusive, escrevi isso em um pedaço de papel, para ela saber que sempre estaremos ligadas, que quando ela usasse a caneca, estaria usando a minha e pensando nela.

Desço minha mala para a sala, assim não preciso mais subir e evito que minha mãe suba e encontre a surpresa antes do tempo. Minha mãe está sentada no sofá, lendo um livro. Será que ela ouviu alguma parte de nossa conversa? Me aproximo dela, como se estivesse prestes a desarmar uma bomba, todo cuidado é pouco nestas horas, mas quando sento do seu lado, ela me abre um sorriso doce e eu relaxo.

- Agora só temos algumas horinhas juntas, que pena que você vai ter que voltar.

- É, que pena que o dia passou tão rápido. Mas agora que estou empregada e não preciso economizar cada centavo, tentarei vir com mais frequência.

- Fico feliz filha, muito feliz. Você quer comer alguma coisa?

- Nossa mãe, ainda estou satisfeita de tudo o que comi. – ela faz uma cara de desapontamento – Mas se a senhora puder me montar uma marmitinha com seu bolo maravilhoso... com certeza chegarei com fome.

- Pode deixar filha, vou montar agora para não esquecermos.

Ficamos conversando na cozinha até a hora de ir. Ela sorri o tempo todo, o que fez meu coração encher de alegria.

Às 8 horas entro no ônibus e deixo minha mãe com lágrimas nos olhos. Vou o caminho inteiro dormindo, acordo quando faltam poucos quilômetros e o medo começa a dar sinais em mim. Será que aquele filho da puta estará lá? Espero muito que não, preciso descansar direito, pois amanhã será um dia longo, tenho que ir para a faculdade, a semana passada faltei dois dias seguidos.

Quando olho para o celular para ver que horas são, encontro uma mensagem da minha mãe:

"Minha garotinha linda, para mim você sempre será esta menina linda e frágil da foto. Amei meu presente, assim sentirei você mais perto a cada vez que usá-la. Te amo muito minha filha."

Claro que choro novamente... Este dia mexeu realmente com meu ser, ou será que aos poucos estou deixando de ser uma pessoa que pouco liga para sentimentos? Afinal, a única vez que realmente senti, me dei muito mal. Não sei, só o tempo irá me dizer.

WAKE ME UP | STRONGLYOnde histórias criam vida. Descubra agora