Capítulo 39 | Sophia

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Meu corpo todo treme. Sinto até minhas pernas baterem na cadeira, tamanho é o meu nervoso. Ela continua a falar:

- Gostaria de perguntar se alguém na sua família tem problemas de queda de cabelo.

- Sim, minha mãe. – respondo depois de um tempo, tentando ligar os pontos, mas não sei onde ela quer chegar com esta pergunta.

- Então é isso mesmo, você tem Alopecia Androgenética Feminina.

- Oi? Como assim??

- Nada mais é do que uma calvície feminina, ou seja, uma doença progressiva, que tem sido potencializado pela sua dermatite.

- E? – Meu coração bate tão forte que mal consigo formar uma frase completa.

- Ocorrendo a queda do seu cabelo os próximos fios que nascem, vêm cada vez mais finos, até que por fim o bulbo capilar "morre".

- Como é que é? Você está dizendo que ficarei careca???

- Não posso afirmar o resultado final, mas provavelmente seguirá o padrão da sua mãe e um pouco mais devido a dermatite, que se agrava no período do inverno.

Ela continua falando, mas a forma com que fala me machuca ainda mais. Parece que ela está apenas falando: "ah isso que você tem não é nada demais, qual é o problema de se ficar careca?" Caramba! Será que sou a única que apareceu para ela com este problema? Será que todo mundo recebe uma notícia desta com total naturalidade? Ela não poderia ter um pouco mais de empatia? Tenho certeza que minha cara está péssima, mas como ela iria perceber? Nem olha na minha cara! E ela continua com as rasas explicações, mas não consigo assimilar mais nada do que ela fala, minha única vontade é de sair dali o mais rápido possível..

Saio do consultório, mas não consigo coordenar direito minhas pernas, está notícia caiu como uma pedra em mim, parece que não tenho forças. Só consigo pensar em cenas do meu cabelo caindo, de me olhar no espelho e me ver com o cabelo ralo, nossa, a dor é devastadora.

Como nunca associei ao pouco cabelo da minha mãe? Agora tudo aparece tão claro para mim. Lembro-me de quando eu era pequena e ela pedir para que olhasse sua cabeça para ver se estava nascendo novos cabelos, muitas das vezes não via melhora nenhuma, mas falava que sim, só para não a ver tão triste. Em algumas vezes ela até chorava por ficar feliz, por eu falar que estava vendo cabelos novinhos.

Mesmo vendo sua dor, nunca consegui imaginar o poder dela, afinal ela não é careca. Hoje seu cabelo é ralo, mas não está sem nada. Agora pude sentir o tamanho da dimensão da sua dor, era pequena e não conseguia entender o porquê de tanto sofrimento. Isso é horrível.

Tento me consolar, repetindo mentalmente que existem pessoas com problemas mais sérios do que isto, como doenças incuráveis e afins, mas está difícil de controlar as lágrimas.

Preciso pegar um ônibus para voltar para meu apartamento, mas não quero que as pessoas fiquem me olhando, decido voltar a pé. Moro um pouco longe daqui, cerca de uns 8 quilômetros, mas não quero nem saber, andar vai me fazer bem...

Depois de uma hora e meia de caminhada, chego e vou direto ao banheiro, me olho no espelho e isso só piora minha dor. Não é questão apenas de vaidade, isto está mexendo com a minha feminilidade também. Imagino que para os homens já deva ser muito ruim, mas posso afirmar, para mulher é ainda pior.

Resolvo tomar um banho, tiro minhas roupas abandonando-as pelo chão e entro de cabeça e tudo no chuveiro. Tomo um bem demorado. A água quente vai caindo pelas minhas costas, conseguindo fazer com que eu me relaxe e de certa forma fazendo-me sentir confortada, mas não o suficiente para me fazer parar de chorar. As lágrimas parecem que tem vida própria. Elas caem sem que eu consiga controlá-las. Será que estou dando uma importância maior do que isso realmente mereça? Oh Deus, por favor me ajude a enxergar o lado bom disto.

WAKE ME UP | STRONGLYWhere stories live. Discover now