Festa

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Faltavam cinco horas para o melhor show da minha vida e eu já estava me aprontando para ir, um dos maiores eventos da região aconteceria na minha cidade, trazendo um festival junto com ele. Ou seja, música boa, comidas em toda parte, bebidas e o perigo de algum policial descobrir que estava sendo feito uma das maiores festas sem autorização, nas proximidades de alguns prédios tombados e que não haviam seguranças profissionais. Certamente tudo que poderíamos querer para apenas uma noite, tínhamos que viver, "Melhor se arrepender de ter feito, do que se arrepender de não ter feito" era o lema destes eventos esporádicos e aleatórios. Aconteciam quando passavam em uma cidade e gostaram de lá, para não ter repercussão midiática positiva ou negativa eles não possuíam nomes, ou qualquer outro tipo de denominação fixa, eles eram apenas eles.

Quatro horas para a festa e eu já estava arrumando meu equipamento para a moto, verificando tudo, se tinha algo fora do lugar. Isso não demorou dez minutos, verifiquei tudo de novo. Vinte minutos a menos para esperar atoa. Montei na moto e fiquei olhando para o nada, depois de cinco minutos assim a minha roupa não parecia ser a mais adequada para o lugar. Eu estava com uma calça jeans azul escuro, com uma camisa xadrez vermelha e preta amarrada na cintura, com um coturno, uma jaqueta de couro por cima, para proteger e luvas. Verifiquei minha mochila pela décima vez, uma sapato mais confortável, a pequena mochila onde guardo o capacete, guloseimas caso sentisse fome, um energético, garrafa d'água e um lugar para jaqueta que eu estava usando.

Três hora. Eu liguei a moto e sai. Eu conhecia o local onde seria, muito bem, iria antes para deixar minhas coisas em locais estratégicos, que eu pudesse pegá-las ou deixar escondido quando a policia chegasse. Entretanto, não estava nos meus planos chegar duas horas e meia de antecedência no local, o lado bom seria que eu teria chance de escolher onde ficar. Normalmente eles liberam meia hora antes a localização, eu sabia antes por ter sugerido o local. O motivo de estar com tanta euforia. Minha banda preferida no melhor lugar da cidade, pelo menos para mim, era um sonho que foi realizado.

O show seria em uma antiga construção, estava tudo pronto para a inauguração, contudo um fiscal embargou o fim da obra e tudo ficou parado, o chão foi invadido por areia e o prédio por plantas. O local consistia basicamente em um prédio alto no canto superior direito do terreno e envolta o que era para ser um jardim, no lado esquerdo inteiro era a faixada e no centro tinha o resquícios do que um dia foi uma fonte. 

Deixei minha moto perto das escadas do térreo do prédio abandonado, coloquei uma lona por cima que eu sempre deixava no local caso alguém mais invadisse o velho terreno. Apesar da moto ser preta, tinha detalhes vermelhos e era metal, portanto, refletia na luz. Subi os sete andares restantes e coloquei minha mochila em um canto com os equipamentos de proteção da moto, o capacete, as luvas e a jaqueta. Puxei um sofá, puff como eu gosto de chamar, coloquei ele no meio do terraço e me joguei nele, o clima tava muito agradável, me perdi em vários pensamentos e músicas no fone de ouvi. 

Eu seria a primeira pessoa na cidade toda escutar eles tocando, graças ao meu fanatismo por eles, fanatismo é uma palavra forte, entretanto combina com o quanto gosto deles. Eles fazem o que querem, quando querem e se eles realmente querem e esse era o meu estilo de vida. Eles eram o meu ponto de referência de que ser como eu sou pode dar certo, menos para o meu pai. "Comportar-se como rebelde sem causa não te levará a lugar nenhum, um dia meu império será seu" esse era sempre o seu argumento, não adiantava discutir somente concordar. O império da família seria meu, sempre foi passado para a primeira geração de cada dono, foi do meu bisavô, do meu avô e agora do meu pai. Um dia será meu, quebrando todas as expectativas.

Os meus pensamentos foram quebrados com o primeiro acorde que soou da guitarra principal. Desci correndo para conseguir pelo menos ver se havia mais lugares perto, na frente. Eu deveria participar do ensaio geral que acontecia meia hora antes do show quando eles liberavam a localização. Pensei que perceberia o ensaio, entretanto esqueci que eles o faziam sem ligar as caixas de som.

Pela primeira vez aquele local estava lotado, na entrada vários carros estrategicamente parados para a futura fuga, perto do prédio não tinha quase ninguém, no centro nas ruínas da pequena fonte haviam pessoas que se aproveitaram da altura para ter uma visão melhor, ao redor haviam vários ambulantes vendendo refrigerantes, comidas e lanternas. A noite estava fria longe do calor humano, entretanto quanto mais eu chegava da multidão e do som mais quente ficava.

Enquanto caminhava em direção do show encontrei algo brilhando no chão, ele refletia as luzes que emanavam do palco, eles estavam tocando minha música preferida. Fui até o objeto desconhecido, podia ser algo que machucaria algum desavisado, no fim era apenas um óculos, peguei a lanterna do celular para vê-lo melhor, o grau era um pouco alto e era rosa. Quem deveria ser o dono?

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