Burocrácia

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Se passaram três semanas do meu aniversário de 18 anos, passaram três semanas que o advogado da família ligava em casa para eu dar a minha posição e por fim, passaram três semanas em que eu recebi o presente mais inesperados de todos, uma maçã do amor e morangos cobertos por chocolate no espeto. Passaram três semanas do dia em que um doce o tornou feliz e um império deles me tirou o chão, me deixando com uma decisão difícil.

Meus criadores, eles nunca foram pais para mim, eram donos da maior empresa de doces e somente isso, não tinha vida social, apenas trabalho e negócios. Me deixaram para trás, enquanto resolviam tudo para o meu futuro, pois eu era muito importante, todavia nunca senti isso deles. Quando eu tinha poucos anos, não o suficiente para me virar sozinha, mas o necessário para lembra, meu irmão foi deixado comigo, eu ficava sem a supervisão direta de adultos. Haviam apenas os empregados da casa que corriam com suas tarefas e não ligavam para mim, com um irmão mais novo assustado com tudo e pais que viajavam por meses e voltaram apenas para deixar mais um herdeiro para trás.

Cresci cuidando de mim e do meu irmão casula, foi difícil o problema que Neddy, meu irmão, tinha que só aumentava. A falta de contato com outras pessoas foi fazendo com que ele ficasse mais e mais anti-social, o seu contato com seres humanos se delimitava a mim, provavelmente esse medo veio do trauma de ser abandonado tão cedo. Quando eu estava maior um casal de empregados morreu, eu gostava muito deles e Neddy, incrivelmente, também, dormimos no quarto deles tentando manter a lembrança deles viva e afastando a tristeza, não funcionou. Poucos dias depois da morte deles um rapaz veio tirar tudo deles de nossa casa, dizia ele ser o filho único do casal e a semelhança era notável, não havia como negar. 

Pela primeira vez na minha vida eu estava em prantos e Neddy me consolando, eu suplicava para que ele deixasse algo para nós nos lembrarmos deles, eles eram a nossa referência de família. Apesar do pouco contato eles que nos colocavam para dormir e contavam histórias sobre um lugar lindo onde tudo dava certo e as pessoas se importam umas com as outras. Dormíamos assim, Neddy se acalmava muito assim, quando eles se foram não tínhamos ninguém e aquele jovem rapaz viu isso e se comoveu.

Ele se ofereceu para cuidar da gente no lugar de seus pais, ele não tinha um lugar certo para ir, a morte de seus pais o fez voltar para a cidade natal  e abandonar o emprego. Liguei para os meus responsáveis leigais e pedi para que ele ficasse eles deixaram, pensei que eles fizeram isso para compensar a ausência. Neddy o chamou de menta, pois ele foi como uma brisa refrescante em nossas vidas parecida com a sensação da menta em nossas bocas, meu irmão adorava apelidar as pessoas como ele as via. Menta ficou comigo até hoje, Neddy teve que ir para um lugar que ajudaria em seus problemas.

Eu a primogênita e herdeira do Reino Doce, a maior marca de doces da região, deveria me decidir o que faria com tudo que  eles me deixaram, pois morreram quando eu tinha quinze e o advogado da família que resolvia os problemas. Eu fiz dezoito anos e deveria assumir a responsabilidade, eu deveria assumir a empresa Reino Doce, ser a dona significava assumir o posto que sempre odiei, entretanto era necessário...

— Está na hora do seu ensaio — fui tirada dos meus devaneios por batidas sucessivas na porta do meu quarto — você tem cinco minutos para não se atrasar.

— Não irei — respondi sem me levantar da cama — eu não estou dis... — pude perceber alguém sentando na minha cama — por favor Menta, deixa eu ficar aqui.

— Quantos anos você não me chama assim? — o rapaz questionou com  um sorriso nostálgico no rosto.

— Desde quando Neddy foi embora — respondemos junto.

— Você não vai me deixar dormir, não é mesmo? — prossegui me levantando.

— Não e se teimar te deixo na porta e te empurro para entrar — concluiu saindo do quarto, antes de fechar a porta deu sua última sentença —  cinco minutos, eu te deixarei na porta.

Como ele disse fui deixada na porta e escoltada, parecia que eu poderia fugir a qualquer momento, o que não estava longe de acontecer, mas eu o avisaria caso fosse fazer. Mesmo indo de carro chegamos atrasados, os cinco minutos que eu tinha duraram o dobro do esperado, quando eu entrei na sala estavam todas sentadas mexendo no celular e fazendo ligações.

— Bom dia —falei mas recebi apenas acenos — o que está acontecendo aqui? — questionei para o único ser da sala que estava prestando atenção em mim.

— Precisamos de mais gente para a apresentação — falou dividindo a atenção entre mim e elas — quem conseguir uma garota que aceite ficar e apresentar pode escolher a música que apresentaremos e um extra.

— Pelo jeito o extra parece ser bom — comentei observando o local — vou tentar.

Liguei para algumas amigas, mas nenhuma aceitou vir, principalmente as que já vieram para o ensaio, no fim sobrou apenas um nome na minha lista. Rainha dos Vampiros, desde o meu aniversário que eu não a via ou falava com ela, decidi ligar para outra pessoa eu a convenceria presencialmente. Nenhuma das outras garotas pareciam estar tendo progressos.

— Bom dia — falei com o celular no ouvido — eu gostaria de falar com o dono do estabelecimento.

— Bom dia — uma voz agradável soou do outro lado — ele quem fala, no que posso ser útil?

— Eu preciso que alguém venha no estúdio de dança próximo de sua oficina — comecei sendo impessoal.

— Mandarei sim, alguma preferência, princesa? — Questionou me deixando curiosa.

— Como sabe que sou eu? — falei realmente curiosa.

— Primeiro, eu não sabia que tinha um estúdio de dança perto da minha oficina, até um certo alguém que frequenta ela invadir delicadamente a minha oficina. Segundo, normalmente as pessoas começam dizendo seus problemas, pedem um orçamento e depois pedem alguém para resolverem ao menos que conheça o serviço, se conhece eu tenho o número salvo. Terceiro, eu tenho o seu número o celular da oficina é conectado com a conta de Marcy.

— Isso é injusto — falei fingindo estar mal — você irá me ajudar?

— Ela chega ai em cinco minutos — escutei ele sussurrar — se for muito emergente em menos.

— Quando puder —concordei feliz —você não vai questionar nada? — Eu estava realmente curiosa foi tudo estranhamente muito fácil de se resolver.

— Eu criei aquela menina como se fosse a minha filha, conheço o que ela é capaz de fazer —pude senti-lo nostálgico — ela sabe se defender, muito bem, você devia tê-la visto defender a oficina de assaltantes apenas com uma chave de fenda.

— Acho melhor não — falei sendo incapaz de vê-la assim — estou a sua espera.

— Ela chega ai o mais rápido possível —falou antes de desligar o telefone.

— Acho que eu ganhei essa —falei para as meninas que me olhavam incrédulas — daqui a cinco minutos ela entrará por essa porta.

Ela tinha que aceitar, eu precisava ganhar alguma coisa de bom nesses dias, minha vida estava muito conturbada, nem Rick conseguia me animar da maneira que eu estava, talvez uma apresentação que eu escolhesse podia me fazer ficar melhor e um extra seria bem-vindo. Eu só podia esperar.

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