Passeio

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Eu estava passando em frente a casa da princesa e por hábito olhei em sua direção, percebi que vazava água por baixo de um portão pequeno, parei para ver se estava com algum cano quebrado. Fui em direção a pequena a porta de madeira e quanto mais eu andava mais fofo o chão ficava. Parei e descidi dar a volta e ir pelo muro, onde a terra estava mais firme. Portão trancado. Da casa vinha um som alto indicando a presença de alguém dentro. Parei na porta e toquei a campainha, quatro vezes, ninguém me atendeu. Bati na porta, talvez a campainha não estava funcionando, fiquei na porta até perceber que a música estava alta o suficiente para não ouvir minhas batidas. Esperei a música acabar e comecei novamente, entretanto ninguém me atendeu.

Eu não entendia porquê ninguém me atendia, eu queria ajudar, mas estava difícil e pela primeira vez liguei para o telefone da Princesa, aparentemente ela desceria para me atender. Fui brincar de me esconder quando fosse abrir a porta, quando pude ouvir o trinco da porta abrir pulei na frente para descontrair. Em um instante senti uma dor aguda e tudo se apagou. Abri os meus olhos e tudo estava borrado, os sons também não se definiam muito, era como se eu estivesse dentro de uma piscina olhando para as pessoas do lado de fora. Tentei me levantar para direcionar meus sentidos, mas pude sentir uma mão me impedindo de continuar meus atos, forcei mais um pouco, mas não conseguia, não tinha forças nem para levantar direito.

— Você está bem? — pude ouvir uma voz preocupada perto de mim questionar — Eu sinto muito por isso.

— Eu estou bem — falei sentindo meus sentidos voltando de pouco em pouco — eu posso me levantar? — Perguntei sem forçar novamente, senti que estava com minha cabeça no colo de alguém.

— Eu acho melhor esperar um pouco — finalmente meu ouvido voltou ao seu funcionamento normal e reconheci aquela voz e de onde vinha.

— Como quiser Bonnie — falei com um sorriso e tentando focar o rosto sobre o meu, eu estava sobre o seu colo — você está bem? Você está com o rosto pálido.

— Estou preocupada — falou desviando o olhar — eu te acertei e você apagou. Eu sinto muito.

— Eu sou forte — falei me levantando, finalmente, mas sem me distanciar muito nossas pernas ainda se tocavam e seu olhar de preocupação não deixava o seu rosto — não se preocupe, já levei porradas maiores — ela me olhou desconfiada — uma vez eu estava responsável de arrumar um portão — falei lembrando do dia em que deixei Simon preocupado a ponto dele não querer me deixar entrar novamente na oficina — eu não prendi os calços corretamente, apenas a primeira parte. Era do tipo de portão que abre para cima, no fim ele desceu na minha testa, está vendo essa cicatriz? — apontei para a minha sobrancelha direita com uma falha, ela forçou os olhos e só nesse momento que eu percebi que ela estava sem óculos, cheguei mais perto para ajudá-la — Ganhei nesse dia e quase fiquei desempregada — ri com a ideia de Simon tentando me despedir por não querer me ver machucada — fiquei um dia em meio no hospital para ficar em observação, no fim não fiquei com sequelas, só uma cicatriz disfarçada. Não ficou tão ruim, não é? — perguntei olhando em seus olhos para capturar sua real impressão.

— Não ficou ruim — falou depois de analisar durante alguns segundos — nenhum pouco ruim, mas isso não exclui o que eu fiz — falou chateada.

— Mas minimiza — falei segurando o seu rosto que encarava o chão — eu juro que não foi nada de mais. Antes que você comece a se culpar novamente, eu quem te assustei, a ideia estúpida veio de mim. E acho melhor você fechar a água do seu quintal, pois se não ficará sem água ou sua conta será muito cara.

Ela se levantou e saiu correndo, sem cerimônia alguma, chegou com as calças molhadas até o joelho e seus sapatos sujos de barro, o estado que eu evitei quando dei a volta pela lama que se formou, cuidado que aparentemente ela não tomou.

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