Confusão

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Nunca em minha vida toda me imaginei nessa situação, nem em meus devaneios, frequentes. Mas como sempre Bonnie conseguiu me convencer de fazer aquilo. Ela tinha o dom de dizer algumas palavras e mudar o meu pensamento para que o que ela quisesse fizesse mais sentido do que o meu.

- Ele não vai fugir, Bonnie - disse pela quinta vez, mas ela me ignorou e continuou passando esmaltes enquanto eu escovava o seu cabelo. - Uns dez minutos a mais não fará muita diferença, você fica mais tempo depois. Você não tem hora para voltar.

- Ele disse que seria algo importante - reclamou tampando o esmalte rosa claro, quase não parecia que ela tinha passado - eu quero que tudo esteja perfeito.

- Certo - me dei por vencida, terminei de escovar os seus cabelos e deixei o secador e escova na cama - no que você precisa de mim agora?

- Maquiagem? - Vi em seus olhos uma mistura de receio e súplica, ela estava muito nervosa.

- Sua paleta de cores ou minha paleta de cores? - Falei apontando para um pequeno estojo e uma maleta.

- As minhas - disse rapidamente me arrancando uma risada baixa. Peguei a maleta e voltei ao seu lado. - Só uma sombra e batom, está bem?

- Mais algo senhorita, uma água aromatizada, talvez?

- Por ora só isso mesmo - respondeu entrando na brincadeira.

Sentei em sua frente, eu na cama e ela na cadeira, me deixando mais alta. Primeiro passei a sombra, usei tons de rosas claros, combinam com sua pele, a altura me ajudou, mas para o batom complicou um pouco. Pela posição eu não tinha uma boa visão de seus lábios. Delicadamente segurei seu queixo com a mão esquerda deixando o polegar puxando levemente seu lábio inferior para deixar sua boca levemente aberta. Desta maneira seria mais fácil, mantive minha mão esquerda firme, sem forçar a sua pele, apenas para que não se mexesse muito, ela ainda estava com os olhos fechados. Aproximei lentamente o batom rosa de seus lábios, eu nunca tinha feito isso antes, todavia ela estragaria o seu esmalte se fizesse. Eu teria que ouvi-la reclamar triste por perder mais tempo se arrumando. Cheguei mais perto para ter certeza que não borraria, passei lentamente o batom sobre os seus lábios, certificando que estava perfeito. Quando terminei reparei que ela me encarava e por alguns instantes meu cérebro encarou isso como perigoso.

Soltei seu queixo e me levantei da cama, a deixando para trás, meu coração estava batendo rápido de mais. Comecei a guardar as coisas que eu tinha espalhado pela cama, secador, escova, a maleta, tudo. Pude ver ela se levantando e mexendo levemente a mão depois de passar uma base secante. Quando ela saiu do quarto casualmente soltei a respiração, que nem sabia estar segurando. Eu podia sentir a adrenalina passando pelo meu corpo, a última vez que me senti assim, foi quando acordei com as pernas dela sobre as minha e metade de seu tórax no meu. Merda. Merda. Não podia ser e não estava certo. Terminei de guardar tudo e me deitei no meio da cama, eu tinha que normalizar a minha respiração e meus pensamentos. Senti a cama afundar ao meu lado, fechei os olhos e esperei o que aconteceria.

- Muito obrigada, Marcy - falou serena, sua voz estava contente - por tudo, notavelmente você não estava afim de fazer isso e eu te irritei até conseguir.

- Tá tudo bem - respondi sem olhar para ela - eu só tô cansada do trabalho hoje.

- Eu deveria te ajudar também - falou se ajeitando na cama - amigas servem para isso, não é mesmo?

- Certo - falei sem humor - estarei na rua, então leve as suas chaves, sim?

- Pode deixar - falou se abaixando e deixando um beijo na minha bochecha, ato que me assustou, mas não movi um músculo - você é demais, Marcy. Obrigada mesmo - falou saindo e fechando a porta do quarto atrás de si.

Somente vocêWhere stories live. Discover now