Adeus

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Sozinha, completamente sozinha, minhas lágrimas cobriam o meu rosto e a cada centímetro que o caixão descia, mais eu pensava em meu irmão, no futuro e mais escuro ficava o meu mundo. Neddy estava ao meu lado, ele parecia não compreender o que estava acontecendo realmente, ou ele entendia mais do que todos a nossa volta por isso não estava como os outros. O primeiro punhado de terra tinha que ser jogado, meu irmão caçula teria que fazer esse papel, e com tranquilidade o fez. Pegou um pequeno monte de terra e derramou lentamente sobre o caixão, murmurando coisas incompreensíveis.

- Mordomo Menta - terminou seus murmúrios me deixando escutar somente essas palavras e eu pude ver uma lágrima escorrer - Menta? - questionou aflito, talvez ele só não tinha tido tempo para compreender o ocorrido, foi tudo rápido, um acidente de carro e tudo tinha mudado.

- Estou aqui Neddy - pude ouvir atrás de nós, só neste momento que Neddy se afastou de mim olhando para o rapaz atrás de mim - mas por quê mordomo? - questionou abrigando-o em seus braços.

- James disse que você fazia esse papel em nossa família - comentou inocente - você cuida da gente, mas não tem laços de sangue ou idade para ser nosso pai, ele dizia que era uma boa definição... - Soluçou nas últimas palavras, aparentemente lembrando-se de onde estava - James não vai voltar e eu vou ficar sozinho de novo, não é? - falou em prantos.

- Não irá - interrompi a conversa mantendo minha voz firme - Menta ficará com você - setenciei fria, eu deveria abrir mão da companhia dele, Neddy precisava mais dele do que eu.

- Vai ficar comigo? - Neddy disse contente, minha tristeza provinha do que James proporcionou para o meu irmão, depois do trauma de perdemos os pais de Menta ele dizia poucas palavras e a maioria delas eram sem sons - Mas e minha irmã? - questionou com os olhos brilhando pelas lágrimas recentes.

- Mas e você? - Menta questionou me encarando, eu estava triste também por não poder ficar com a minha família, eu me tornaria o que não queria, ser igual àqueles que me criaram.

- Tenho maioridade - afirmei no mesmo tom que o anterior marcando o fim da conversa sobre o meu futuro - e você gostou do Mordomo Menta ir com você agora?

- Claro - falou puxando ele para trás - vamos eu tenho que te mostrar a minha casa.

Eu terminei de acertar a burocracia com o advogado da família, indenização para a o irmão do James, já que o acidente foi no trajeto do trabalho. Neddy havia aprendido muito com James, ele confiava nele, não como em mim e Menta, mas o aceitava. Meu irmão ficou isolado do mundo, não gosta de companhia e mudanças, por isso ficou na casa dos meus progenitores e eu me mudei para o ajudar. Sua vida com James era boa, melhor do que se eu ficasse junto a eles, nós tentamos, mas ele convivia bem com uma pessoa, somente uma, e precisava de atenção 24 horas do dia, sete dias da semana, entretanto de longe. Eu não consegui cumprir esse papel, por isso James foi contratado, ele foi o único a conseguir, talvez Menta se de bem com sua nova vida.

Aflição e desespero, era tudo o que eu sentia, Neddy podia não se adaptar com Menta e eu. Eu estarei sozinha, meu futuro seria diferente, mas já era hora da minha vida tomar um rumo diferente do que eu estava vivendo. Menta me deixou em casa, juntou seus pertences e saiu da porta com um simples "Até logo". Ambos sabiam que não era um apenas "Até logo", ele iria embora, não iríamos nos ver até Neddy precisar de mim, eu não podia invadir seu espaço apenas por saudades, era egoísta de mais da minha parte. Quebrar a rotina do meu irmão mais novo poderia causar uma crise e desgaste a ele. Não. Eu não iria fazer isso com ele. O "Até logo" que recebi soava para mim como um "Adeus", talvez um tom mais ameno "Nós nos vemos algum dia", um dia sem data marcada, um dia tão distante quanto o próximo problema. Neddy se acalmava somente com a minha presença quando tinha um problema, então eu não poderia causar um, se não eu, quem iria o ajudar? Menta se foi e eu fiquei, sozinha, deitada na cama, olhando para o teto e tentando me concentrar apenas na música que tocava alto no andar de baixo.

Meu celular avisou que mensagens haviam chegado, pensei ser Rick, eu não tinha conversado com ele direito diante de todos os meus problemas do dia. Não olhei, não quis reviver tudo desde a hora que eu acordei, já era fim de tarde, a hora que eu costumava estudar, ele entenderia. Continuei encarando o meu teto, talvez eu devesse pintá-lo de outra cor, talvez as paredes. Bege, as paredes deveriam ser pintadas de bege, não. Uma cor mais viva, um rosa talvez em diversos tons, era uma boa cor. O meu celular começa a tocar e pela proximidade dele pude escutar nitidamente, ignorei, apenas continuei o que estava fazendo, nada. O toque tornou-se insistente, devia ser algo importante, sem olhar a tela atendi como sempre atendia Rick.

- Diga coração - falei ouvindo o eco da minha música, mas pensei ser coisa da minha cabeça.

- Bem, creio não ser seu "coração" - uma voz debochada falou do outro lado - mas fico contente que esteja em casa, estou na sua porta.

A ligação foi encerrada sem mais explicações, desci as escadas pensando quem poderia ser, eu tinha a impressão de conhecer aquela voz, mas por telefone era difícil dizer. Desliguei a música e olhei pelo olho mágico, para tentar identificar quem era sem expor a mim e minha casa, contudo não pude ver ninguém. Poderia ter sido um trote, para completar o péssimo dia que eu estava tendo, era o que faltava. Impaciente destranquei a porta, verifiquei se o taco de beisebol do meu irmão estava perto da porta como ele sempre deixava, estava, e abri a grande placa de madeira maciça a minha frente.

- Bu! - um ser pálido pulou em minha direção e minha única reação foi desferir um golpe com o taco - Aí!

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