Outono

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O outono chega como todas as estações do ano e como tal representa uma fase, a fase de dizer adeus. As folhas das árvores perdem pouco a pouco as suas vidas e caem no chão com uma coloração  fria e agoniante para alguns. Os galhos passam a ficarem expostos para que todos vejam o quão majestosa a árvore continua a ser, mesmo sem suas folhas, frutos e flores. A árvore continua sendo quem ela é, quem ela deve ser, esta não deixa de ser por apenas mudar, a sua essência continua a mesma. Ela é feita pelo seus galhos, tronco e raízes e não pelos seus ornamentos. E assim somos nós, quem me dera ser jovem e imutável para sempre, muitos pensam assim, mas sou grata ao que eu tenho e construí. A cada fase ruim, a cada mudança e adeus que disse a mim mesma eu me reconstruí. Admiro o outono pela chance que ele da a todos os seres vivos de se reinventaram e serem melhores quando a primavera chegar, pois crescemos muito neste tempo.

— Adoro como ainda se perde em seus pensamentos — senti a doce voz de minha esposa e o delicado toque em meu ombro, virei e a encarei — o outono está lindo este ano, não?

— Não mais do que você — disse com um sorriso sincero, ela sempre sabe o que estou pensando — mas este em especial parece estar mais encantador.

Ela se sentou ao meu lado na rede da varanda e encaramos a enorme árvore que plantamos quando nos mudamos para cá. Anos haviam se passado, mas o nosso amor só aumentava, muitos dizem que nós só damos valor quando perdemos. Eu não queria ser assim, sempre procuramos aproveitar cada segundo possível, talvez por já termos nos perdido no passado, por um longo período de tempo. A distância e a saudade podem ser, de certa forma, uma maneira de encararmos a realidade de uma forma mais concisa. Mas a saudade dói, ela machuca, quanto mais a temos mais sabemos que quem amamos não está conosco e que talvez não tenhamos feito o melhor, não tenhamos aproveitado ao máximo o tempo que estivemos aí lado dos nossos amores. Fui chamada a realidade por um beijo na testa, um ato tão terno que me mostrava que meu amor estava ali, cuidando de mim.

— Amor, acho melhor se arrumar que logo as crianças vão chegar — amor, uma palavra que fica tão linda saindo de seus lábios, meu coração se enche de alegria toda vez que escuto a falando assim — amor?

— Já vou — beijei seus lábios rapidamente — mas irei te levar junto.

A contra gosto a peguei no colo, passando um dos meus braços por trás de seus joelhos e a outra sob suas costas. Depois de muita dificuldade consegui chegar ao nosso quarto, não por não aguentá-la, mas por ela não ter parado um segundo quieta se quer. A nossa vida de casada era tranquila, eu passava a maior parte do meu tempo consertando as coisas e arrumando a casa e Bonnie cultivava nosso alimento e o colhia quando necessário. A noite assistíamos um filme na televisão ou tocávamos uma música no violão. Uma vez ou outra fazíamos um lual, apenas com nós duas, para aproveitar a vida calmamente, um dia de cada vez, na nossa rotina tranquila. Afinal nós não tínhamos mais trinta e poucos anos. Terminei de me vestir adequadamente e voltamos a varanda para esperar as crianças.

Não tardou muito vemos uma caminhonete percorrer a estrada que findava em nossa residência. Nela dava pra ver quatro figuras na cabine e duas na carroceria, a família estava completa. Não demorou muito e a nossa frente desciam todos, olhei para Bonnie e seus olhos brilhavam, acredito ter visto uma pequena lágrima escorrendo, eu não estava muito diferente. Minhas crianças tiveram que ficar distantes de nós por um bom tempo, por motivos de força maior, a saúde de todos dependiam disso. Porém tente explicar a saudade e ao coração que é melhor, neste momento que todos fiquemos longe um do outro. Não tardou muito e logo um corpo voou em nossa direção abraçando a nós duas ao mesmo tempo.

— Não chore minha criança — Bonnie disse afagando seus cabelos e só então percebi que todas nós estávamos assim — estamos juntas agora e vamo permanecer assim.

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⏰ Last updated: May 09, 2020 ⏰

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