Dominó

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P.O.V. Bonnibel
Eu estava chorando compulsivamente, mas tinha um corpo envolto ao meu, me consolando. Não sabia como ou o motivo de estar assim, contudo lá estava eu debulhando em lágrimas no colo de alguém. Um braço estava me segurando por meus joelhos que estavam dobrados contra o meu corpo e outro estava em minhas costas com a mão em meus cabelos acariciando minha cabeça. Eu mal respirava, muito menos conseguia abrir meus olhos e recobrar meus pensamentos. Senti nossos corpos se movimentarem como se a pessoa procurasse uma posição mais confortável para ficarmos. Não me senti desconfortável com seu toque, algo era familiar para mim, então não me importei, era confortável.

Aos poucos minha respiração foi normalizando, minha mente foi clareando, os soluços findaram e meus olhos finalmente resolveram me obedecer. Consegui abri-los, entretanto o local estava escuro, quando me acostumei pude reconhecer de quem era o colo. Mesmo que eu tivesse parado de chorar eu ainda tinha meu corpo ainda tremia, podia ser de frio, todavia a noite se iniciou quente. Os afagos na minha cabeça não paravam, sempre delicados, suaves, ritmados e cumpriam a sua função de acalmar.

— Está se sentindo melhor? — questiona com a voz rouca e baixa perto do meu ouvido — Eu não sabia o que fazer, espero que não tenha sido tão invasivo a minha atitude e... — ela começou a se explicar.

— Obrigada — a interrompi, mas foi o máximo que a minha voz permitiu.

Silêncio.

Os afagos em meus cabelos continuaram.

Mais silêncio.

— Bonnie — falou com a voz rouca e falha e paralisando, nenhum músculo parecia se movimentar — eu acho melhor você ir para a cama, deve ser mais confortável.

— Eu te machuquei — falei mais baixo que gostaria, eu machuquei quem me estendeu a mão, que belo agradecimento — desculpa, eu não.

— Não machucou — me cortou delicadamente me ajudando a me sentar na cama — mas a cama deve ser mais macia do que eu — falou com um meio sorriso, eu acho, ainda estava escuro. — Você quer que eu acenda o abajur? — Questionou, parecia que ela leu meus pensamentos.

— Não precisa — falei retribuindo o sorriso — gosto do jeito que está.

— Se prefere assim — comentou levantando as duas mão como se rendesse — se sente melhor? Eu posso fazer alguma coisa por você?

— Mais? — Falei ironica, pareci ofendê-la. — Desculpa ser rude, é só que você já fez muito por mim, pedir mais seria. Seria... — As palavras fugiram da minha boca.

— Apenas mais uma necessidade momentânea — completou sua voz aos poucos voltava ao normal — que eu, por sinal, ficarei feliz em ajudar.

— Não, seria abusar de você — a corrigi suavemente e vi um sorriso de canto nascer em seu rosto — o que foi?

— Nada — retrucou percebendo o seu ato e tentou disfarçar.

— Eu vi que sorriu — afirmei a encarando de frente e pude jurar que de relance ela quase ficou corada — no que estava pensando.

— Que um ser tão delicado não conseguiria abusar de mim — respondeu simples.

— Que afronta — fingi estar ofendida — eu tenho certeza que se eu quisesse conseguiria sim — meu orgulho falou por mim.

— Sem querer te ofender — retrucou finalmente me encarando — não conseguiria não. Sou maior.

— Pouca coisa — a interrompi.

— De qualquer forma, sou maior — continuou sem dar muita importância — mais rápida e mais forte.

— Isso não quer dizer nada — resmunguei sentindo a minha razão — eu ainda sou capaz.

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