Casa

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Eu não tinha mais um teto sobre a minha cabeça. O advogado da família simplesmente apareceu com um documento alegando que eu deveria procurar outro lugar para morar e como eu ainda não havia decidido qual o futuro da empresa eu estava sem dinheiro. Simples assim, aquele mês seria o último em que eu teria aquela casa alugada, o aluguel estava no nome de quem eu nunca pensei sair de perto. Mas lá estava o meu irmão mais velho cuidando do meu irmão mais novo, que precisa mais dele do que eu. Por mais que eu esteja passando por dificuldades Neddy precisa mais de ajuda do que eu. Por burrice, não há definição melhor para o que fiz, esqueci que eu deveria pagar o aluguel, sendo que eu fui avisada. Sem pagar mais de meses seria despejada.

Arrumei as minhas coisas, tudo que tinha coloquei em caixas e malas, os item mais importantes neste último. Por fim sobraram móveis e caixas de coisas que não eram necessárias, apenas tínhamos por luxo, eu tinha uma semana para desocupar tudo, mas achei mais comodo deixar tudo organizado e somente o estritamente necessário ao meu alcance. Rick me ajudou bastante quando comecei a desmontar os móveis, entretanto ele não conseguiu me ajudar a pensar onde morar. Eu poderia dormir em sua casa durante alguns dias, mas nada muito prolongado. Finalmente o dia de entrega as chaves para os donos chegou, os móveis foram para a casa onde meus irmãos estavam, o carro que estava na garagem, que estava no meu nome, foi colocado na rua pelo advogado que participou de tudo. Meus pertences pessoais ficaram no carro, pedi para que o homem engravatado ao meu lado, que passou dia após dia me apressando querendo saber o que faria com a empresa dos meu progenitores para que parasse em uma rua de fácil acesso. De lá eu poderia andar para bem entender e deixar meus pertences no carro, seguros.

Consegui passar uma semana na casa do Rick, que me abrigou contente, entretanto passado esse tempo eu tive que sair e sem rumo passei a tarde encostada no carro que um dia dirigiria. Por mim passaram crianças felizes com seus pais, os sorrisos não saiam de seus rostos, eu não sentia nostalgia ao ver, pois nunca havia passado por isso. Apenas um sentimento bom, de paz, eu deixaria o meu legado na mão de alguém de confiança como Menta, seria interessante escrito na porta de sua sala. Presidente Menta, em uma fábrica de doces, Neddy iria se divertir apelidando todos em sua volta. Em meio aos meus devaneios vejo um vulto passar por mim, por impulso tentei segurar, mas aparentemente eu só piorei a situação pois sentia que o estava deitada, em algo que não era o chão.

Eu estava com os olhos fechados e assim permaneci até entender a situação em que eu estava. Desabrigada, não podia ficar na casa de Rick, pois além de dançar ele era um membro da banda sem nome é fora da lei. Ele viajava sempre, por isso só ensaia, nunca apresenta, o lado bom que nos vemos mais se ele for nos ensaios. Enfim, Rick viajou e eu tive que sair de sua casa, ele não confiava nos rapazes que com que morava junto, de certa forma era para me proteger. Como última opção eu teria que ir para a casa onde meus irmãos estavam, correndo o risco de Neddy ter uma crise de pânico, mas poderia não acontecer e eu teria onde dormir. Meus devaneios foram interrompidos quando percebi que estava sobre uma pessoa, sim eu havia caído em cima de uma pessoa.

- Princesa? - uma voz conhecida por mim me chamou, eu sabia que aquele apelido era carinhoso, mas me trazia lembranças. Lágrimas vieram e eu fiz o que pude para impedi-las - Creio que eu não deva ser a melhor pessoa para usar como um. - ela parou quando o primeiro soluço saiu junto as lágrimas eu não consegui impedir - Por quê está chorando? Se machucou? Eu fiz algo de errado?

- Minha vida tá do avesso - consegui dizer apenas isso, a senti levantar um pouco e me colocar em seu colo apoiando as costas no carro - obrigada - consegui dizer com a respiração entrecortada.

- Hoje meu dia foi bem louco - ela começou a dizer afagando meus cabelos com uma mão enquanto a outra me envolvia - minha moto resolveu que estava frio o suficiente para não ligar nas três tentativas que eu fiz logo de manhã. Tive que ir trabalhar a pé, acredita? - perguntou parando seus movimentos e tentou ver meu rosto, apenas neguei com a cabeça - Eu, trabalhando em uma oficina sem meio de locomoção - continuou tranquilamente - por fim passei o dia andando, estou até agora resolvendo tudo o que já teria resolvido com a moto. Aí agora pouco lembrei que abasteci com etanol e não gasolina, é como dizem casa de ferreiro espeto de pau - ela fez uma pausa e suspirou - enquanto me xingava olhei para a lua, ela sempre me tranquiliza, sabe? E encontrei um buraco na calçada e por sorte um garota muito simpática tentou me ajudar, acredita? - sua naturalidade me encantava, por incrível que pareça eu fui me acalmando - Marceline Abadeer, eu, com toda a minha distração, toda a minha parte desastrada, consegui derrubar a simpática garota no chão. Por sorte consegui cair entre ela e o chão, seria um desastre caso não fizesse, não acha?

Somente vocêWhere stories live. Discover now