Princesa

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Passei o caminho todo chorando em silêncio abraçada em suas costas, agradeci por ela ter atendido o meu pedido de forma rápida. Eu não tinha conseguido uma amiga, mas sim um anjo da guarda, isso sim. Chegamos rápido em casa, só que desta vez eu não reclamei da velocidade ou algo do tipo, como das últimas vezes. E nem poderia fazer algo assim. Quando nos chegamos na oficina, esperou que eu descesse e depois de algum tempo reagi e sai do lugar, estava estranhamente quieto no local. Ela me direcionou ao sofá que tinha lá e sinalizou para que eu sentasse, virou as costas e caminhou para a direção que eu julgava ser a cozinha. Voltou com duas xícaras que estavam saindo fumaça, julguei ser chá pelo aroma.

— Camomila — entregou um para mim e levou o outro aos seus lábios e depois se sentou ao meu lado — aconteceu algo de ruim hoje?

— Em suma, só duas que foram piores — falei tentando ser o menos emotiva possível — ganhei um empresa e o meu irmão teve um surto me expulsando de casa.

— Entendo — falou encarando sua xícara com um líquido vermelho — foi aquele seu irmão que não gosta de mim?

— O menta nunca disse que não gosta de você — falei vendo uma expressão estranha em seu rosto que logo se tornou um sorriso.

— O mal humorado chama menta? — Questionou rindo, mas logo tentou se manter séria.

— Não — respondi simples — foi o mais novo ele teve uma crise de pânico durante a minha visita, o que impossibilita ver os dois durante um bom tempo.

— Sinto muito — falou passando um dos braços por cima dos meus ombros levemente, me aconcheguei em seu abraço, eu precisava disso.

— Era tudo que eu temia, fui falar com o meu irmão mais velho sobre o assunto e ele ouviu, entrou em crise, disse que eu o abandonaria e por fim ele mesmo me expulsou de casa. Aos gritos — falei dando uma pausa para não chorar — ainda posso ouvi-los. Eu fiz mal a ele, tudo que não queria, eu devia protegê-lo, a maioria das coisas que eu faço é para o manter bem. Mas hoje meu pesadelo se tornou realidade, eu o feri.

— A culpa não foi sua — falou olhando distante — nós não temos controle das coisas, às vezes simplesmente acontece e a gente só sente o baque — seu olhar era inigmático, tinha coisas ali além da minha compreensão.

— Eu sabia que isso poderia acontecer, mas ele havia me chamado — fiz uma pausa evitando que chorasse novamente — e eu estraguei tudo. E ainda tenho que representar uma empresa para conseguir me sustentar e parar de importunar. Aliás é o que eu ando fazendo recentemente.

— Eu que te convidei — deu de ombros e terminou de beber o líquido — parece realmente ruim ter essa empresa — procurei qualquer vestígio de sarcasmo em sua fala, entretanto achei amargura somente — e você não precisa dela para ter um teto. Ainda mais que Simon foi embora hoje.

— Por minha culpa? — falei sem pensar, era só isso que faltava para o meu dia terminar de ficar ruim.

— Não — falou dando um sorriso de canto — na verdade ele queria a tempos ir embora ou alugar uma casa para mim, a minha desculpa era de que eu ficaria sozinha e não queria nenhum dos dois. Eu o considero como pai, sabe? — Fez uma breve pausa para que eu respondesse e afirmei com a cabeça. — Não o quero tendo mais gastos do que já tinha, uma solução seria que eu pagasse é isso ele não aceitaria. Um amigo dele foi despejado pelos colegas de apartamento e essa foi a desculpa dele ter fugido daqui — desta vez o sorriso foi mais largo e sem muito humor.

— Falando em aluguel, temos que combinar sobre quanto que eu irei pagar — comentei e ela se levantou.

— Se vamos ter essa conversa — comentou perto do que julguei ser uma geladeira encostada em uma parede da ofina — vou ter que trocar a bebida — de lá tirou uma garrafa e logo entornou o líquido na boca.

Somente vocêWhere stories live. Discover now