O Beijo

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Corri para dentro da loja para procurar alguns itens, guardei meus canivetes nos bolsos e amarrei a bandana na calça. Deixei meu celular sobre a mesa e todos os meus documentos lá, se algo acontecesse seria melhor que eles ficassem lá. Mary e Alana estavam pálidas e paradas no mesmo lugar, eu não sabia o motivo de estar reagindo assim, Simon não faria nada de mal para ela, porém uma voz me dizia que os dois estavam encrencados. Sai da loja e peguei o meu presente de volta, não estava emplacado ainda, poderia ser útil. Acelerei sem notar que meu baixo-machado estava ainda nas minhas costas, talvez ele fosse útil para a situação. Parei perto de onde descobri que Simon se escondia de vez enquanto, eu não sabia o motivo, mas sabia o local. Amarrei a bandana preta no rosto cobrindo minha identidade, deixei um canivete em minha mão, pronto para usá-lo e entrei no local. Eu ouvia a voz de Simon, estava descontente, parecia exigir algo, como eu já havia invadido o local antes consegui me mover bem.

— Não era para a princesa casar com você! — Ele estava alterado, sua voz estava estridente, diferente do que sempre foi.

— Cale-se Rei Gelado — outro falou e reconheci sua voz no mesmo instante — e acho que prefiro você louco, do que são, pelo menos assim você se lembrou que aqui é onde me criou, pai.

— Como esqueceria que criei você — seu tom era de obviedade, lógico que ele lembraria do filho, graças a ele que Simon perdeu a sanidade.

— Não sei, pai — aquelas palavras me feriram  profundamente — você sempre cuidou de mim, nunca me abandonou por culpa de uma criança qualquer — a ironia estava em sua voz, mantive a minha respiração controlada, não poderia voltar no passado.

— Nunca — falou animado — mas a princesa não é para casar com você, uma hora ela sai lá de cima — ela estava no sótão.

— Vai sim, a porta só abre por fora — as vozes estavam distantes, eu poderia me locomover.

Minhas botinas estavam amarrados em minhas costas com o cadarço, facilitando os meus passos silenciosos. A lâmina pousava em minha boca, assim eu poderia colocar a mão no chão e por ela eu controlava a minha respiração. Os dois ainda discutiam se o menino deveria se casar com a Bonnibel ou não, me dando tempo. Procurei por uma escada no local e panos, o que considerando a minha situação era muito difícil. Eu só tinha duas lâminas para me defender, deixei o baixo na moto, não poderia me esconder com ele. Na dispensa achei uma escada e alguns panos e para a minha sorte vi uma entrada para o sótão, só torcia para eles continuarem com a discussão. Rasguei o tecido com a ajuda do canivete, amarrei um pedaço em cada ponta da escada, assim não faria muito barulho. A escalada se tornaria mais difícil, porém eu teria que fazer algo, de certa forma eu era a culpada por isso, por tudo que está acontecendo. Subi lentamente as escadas, eles estavam a muitos cômodos de distância, então eu poderia subir mais tranquila, mesmo assim eu o fiz rápido. Abri o sótão e terminei de subir carregando a escada para cima, foi trabalhoso, todavia necessário. Prendi a porta com a escada para que ela não fechasse, era o que faltava eu ficar presa junto com a Bonnibel ao invés de salvá-la. Estava escuro lá dentro, então demorei um pouco para me acostumar com a falta de luminosidade. Quando consegui ver ao meu redor vi uma silhueta a frente, parecia estar amarrada de costas para mim, continuei andando lentamente até chegar perto. Encostei em seu ombro e vi seu corpo tremer.

— Por favor, me solta daqui — sussurrou se virando para mim — é voc. — Tampei sua boca, ela falou alto desta vez.

— Não diga nada — ela concordou e eu soltei.

— O que — fechei a boca dela novamente, menina teimosa.

— Pense um pouco e cale a sua boca — falei sem paciência. Soltei a minha bandana e a boca dela.

Somente vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora