Decisão

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— Simon! — Gritei ao adentrar a oficina, estavamos só nós dois, eu havia acabado de deixar Bonnie onde ela pediu e os outros funcionários estavam trabalhando fora. — Que merda foi essa logo de manhã? — Eu não estava nada contente.

— Se continuar a gritar assim ficará sem voz — retrucou calmo, o que me irritou mais, muito mais — e eu sinto muito por hoje é só que.

— É só que nada — rapidamente falei na breve pausa que deu — Simon, a gente tinha conversado, ela é só minha amiga, nunca tivemos brigas por isso, por que agora?

— Bom — ele coçou a nuca durante alguns segundos — seus amigos sempre levavam na brincadeira e entendiam quando eu brincava. Parei de brincar depois do Ash, que eu joguei a isca e infelizmente peguei o peixe.

— Tá, mas você tinha parado — falei mais tranquila — eu não sou mais uma adolescente, eu cresci, se eu tiver algo você sabe que eu te conto. Mas parece que voltamos no tempo.

— Marcy — ele andava em minha direção com a voz carinhosa — ela estava vestindo a sua camiseta, eu reconheço ela em qualquer lugar, só eu sei a luta que foi para achá-la.

— Mas isso não indica nada — falei me sentando no sofá que tinha no que podemos chamar de sala de estar.

— Vamos fingir que não estamos nessa situação, a história é de pessoas aleatória — comentou sentando ao meu lado e passou seu braço pelos meus ombros. — Um dia a filha chega em casa com outra garota e fala para o pai que ela a chamou para morar em casa. Até aí tudo bem, só que o pai passa a noite fora e quando chega encontra a filha saindo do quarto dela, onde a outra garota estava dormindo. Normal. Então a filha fala que passou a noite em claro, está com uma pequena dor nas costas, mas diz isso com um pequeno sorriso no rosto. — Eu tentei falar, entretanto ele apenas levanta a mão indicando que não terminou. — Além disso a garota aparece com os cabelos bagunçados, com a camiseta da filha e um pouco corada. E eu sou o louco?

— Sim! — exclamei rapidamente. — Primeiro — pontuei — eu estava sorrindo pelo simples motivo, o senhor chegou em casa de manhã com um lindo e enorme sorriso no rosto. Segundo, a minha noite foi longe de ser boa, a dor era porque passei uma parte da noite no sofá e a outra sentada. Terceiro, eu dei essa camiseta para ela a meses e não sei o motivo dela estar usando como pijama. E eu acho que ela estava corada por a gente estar gritando um com o outro na porta do quarto — falei sem olhar para ele.

— Você está rápida para explicações — comentou rindo — eu estava feliz pois pensei que você estava contente. Eu realmente pensei que tinha algo a mais, mas se me nega tanto, só me resta acreditar.

— Chega de brincadeiras? — Simon apenas afirmou com a cabeça. — Obrigada.

— É o meu papel, não? — Comentou rindo, sim talvez fosse o papel dele me apoiar. — Você disse que esta com dor porque dormiu no sofá?

— Logo eu dou um jeito.

— Eu arrumo as coisas então — comentou pegando o celular e me pediu silêncio — Olá Günther — ele fez uma pausa — então, eu queria saber se ainda está procurando uma casa? — Outra pausa, maior do que a anterior. — Ótimo, você sabe o endereço? — Uma pequena pausa dessa vez. — Combinado. Até.

— O que está acontecendo? — Questionei confusa.

— Lembra que o Günther estava sozinho e tudo mais? — Afirmei mexendo a cabeça. — E que eu tenho aquele apartamento parado? — Repeti o gesto. — Então, irei morar lá com ele. Possivelmente hoje ou amanhã.

— Do nada? — Como ele decide repentinamente sair de casa e largar tudo? — Você é muito impulsivo, sabia?

— Faz um tempo que eu estou pensando nisso — comentou ficando em pé — Olha, aqui temos o portão e logo ao lado, nem três metros de distância, temos uma tv grudada na parede e dois sofás em L que chamamos de sala. E a cinco passos daqui temos um carro para um pequeno conserto, atrás dele temos um suporte onde soldamos as coisas. Não muito longe tem a sua parte que é separada com uma divisória fina onde o trabalho mais complicado fica. E no fundo temos uma divisão de tijolos onde embaixo temos o seu quarto e em cima temos o meu. Depois deles uma cozinha. Eu queria que você morasse no apartamento.

— Simon, eu já te dou muito gastos, alugando lá seria mais proveitoso — o interrompi.

— Eu queria te dar uma lar sabe, mas como você não quer sair da oficina, decidi a algum tempo sair e deixa para você. Assim terá mais espaço para se organizar e talvez chamar de lar.

— Você sabe que nunca me incomodei com nada aqui e sempre chamei de lar — atropelei as palavras — eu não posso te pedir mais nada. Com você eu ganhei tudo, uma família e um lar. Tive uma vida boa graças a você, tive uma ótima educação e o mais importante. Amor. Você me mostrou que minha mãe não era a única que acreditava nisso, que o mundo pode ter um pequeno fio de luz. Não posso te exigir mais nada.

— Veja como um presente então — falou se levantando e abrindo seus braços — agora isso é seu, ou quase — coçou a nuca com a mão esquerda e colocou a direita no bolso da calça — a oficina não, mas o resto sim e você pode mudar como quiser. Já é separado mesmo se preferir a gente fecha e a entrada fica somente do outro lado e — ele parou de falar quando o meu corpo colidiu com o dele.

— Você é o melhor pai do mundo — falei o abraçando — e por isso pode ficar despreocupado com a mudança que eu farei.

— Marceline, é difícil e pesado — ele me tratava da mesma forma, eu poderia ter cinquenta que ele me trataria como uma criança.

— Aqui tem tudo que eu preciso para não fazer esforço — respondi apontando para os diversos aparelhos do local — Só arrume suas roupas, pelo visto você me abandona hoje.

— Que vampirinha mais dramática — comentou indo em direção as escadas — infelizmente vou hoje. Seria uma suores melhor se certo alguém estivesse namorando sabe.

— Simon — repreendo ele, mas nada faria ele parar de brincar assim, pelo menos não enquanto os dois estivessem sozinhos — se vai hoje, arrume logo as suas coisas — falei me direcionando ao meu canto para pegar as ferramentas adequadas e o mini guindaste para me ajudar.

— Sim senhora — bateu uma continência e saiu correndo para juntar as coisas.

Foi uma mudança rápida, logo tudo estava em sua nova casa, Bonnie me ligou e perguntou se eu estava perto, caso não ela voltava de ônibus ou algo do tipo. Ela não queria incomodar, mas algo em sua voz dizia que ela precisa conversar, eu me despedi de Simon e fui ao seu encontro. Minha vida estava de ponta cabeça, mas pelo menos Simon parecia feliz e isso para mim era o que importava. Ele era a minha família e eu desejo a ele toda a felicidade do mundo todos os dias, ele foi o único que me estendeu a mão e se eu pudesse lhe daria o mundo em troca, por hora fazer suas votantes era o que estava ao meu alcance. Chegando no local marcado, eu vi Bonnie de longe totalmente desnorteada, andava em ciclos pequenos. Quando parei ao seu lado vi algumas lágrimas em seu rosto, tentei falar algo, mas ela levantou a mão delicadamente.

— Eu explico quando chegar na sua casa, por favor — sua voz soava como uma suplica que eu prontamente atendi — só me tire daqui...

Somente vocêWhere stories live. Discover now