Acordei com uma doce canção sendo cantarolada ao meu lado, eu nunca tinha ouvido ela cantar em todo o tempo que morou comigo. Fiquei um tempo de olhos fechados só escutando o batucar da caneta sobre um caderno e um cantarolar baixo, aquele som era familiar. Eu tinha essa mania, pensava fazendo barulho, "incomodando" os outros a minha volta, mas quem me conheciam apenas esperavam para ver o que estava acontecendo na minha cabeça. Para mim entre o momento que apagava pelo remédio e o que eu acordava, foi de apenas alguns segundos, não me lembro de sonho algum, mas passavam muitas horas. Não acordava interrompendo o sono e voltava a dormir, era tudo contínuo e fluido, como não era por dias. Simon estava a salvo e minhas garotas estavam bem, agora, eu poderia me manter tranquila, além dos sedativos. Tudo bem que eu estou em um hospital com pontos por ter levado dois tiros e até agora não entendi como estou viva e respirando bem. Minha cabeça já não doía mais e o mínimo de movimento em minha perna não parecia que eu perderia ela.
— A quanto tempo está acordada? — Senti um beijo casto em minha testa e sorri.
— Como soube que estou acordada? — Abri meus olhos lentamente a encarando. — Não me mexi.
— Sua respiração — comentou como se fosse algo banal.
— Esteve muito tempo me observando, não é mesmo? — Falei tentando entender o que ocorreu neste meio tempo.
— Mary não gosta nenhum pouco da presença da Bonnibel, principalmente depois de que ela ligou para seu telefone desesperada e quando a encontramos vimos você baleada. Você sabe como ela é, uma criança grande que quer proteger e dar de melhor a quem gosta.
— Com toda certeza, mas nunca a vi tão brava.
— Nós quase te perdemos — por impulso um sorriso mínimo se fez presente, que não passou despercebido — sim, nós, gosto muito de você também. Voltando ao que aconteceu, quando Mary saia para fazer suas coisas e organizar as coisas em casa era o momento em que Bonnibel tinha ao seu lado.
— Como? — Eu estava curiosa, afinal perdi mais de duas semanas, não era muito para alguns, mas eu as perdi.
— Essa cadeira que está ao lado da cama era colocada encostada na parede. Minha namorada acreditava que quanto mais perto de você ela estava mais mal poderia fazer. Quando a morena saia eu saia junto para levá-la na porta e nesse momento a rosada chegava perto de sua cama, ao ver isso coloquei a cadeira ao seu lado e pedi para que ela saísse de perto quando minha namorada chegasse.
— Se Mary descobrir, você estará frita — brinquei encarando o caderno.
— No fundo ela deve saber, neste meio tempo conversei com Bonnibel, já que eu fico aqui mais do que Mary, só perco para a Bonnibel. Ela sai raramente e saiu quando você acordou e tudo aconteceu.
— Se você está aqui, quer dizer que já estamos no período da tarde — ela assentiu — e onde está a Bonnibel?
— Passou aqui quando eu cheguei e ficou lá fora, acho — se levantou e olhou para o vidro da porta — na verdade agora é certeza. Ela tem ficado aqui só quando você dorme neste período, o lado bom, para ela que você tem dormido muito.
— O que você escreve aí? — Mudei de assunto e apontei para sua caderneta.
— Pensamentos, coisas que eu observei, alguns desenhos, coisas que escutei e coisas que senti, nesses últimos dias — sorriu e me encarou, sem que percebesse eu estava triste por ter colocados elas nessa situação — e não se preocupe. Eu prometo que não tem nada muito triste aqui, eu só senti que te devia isso, meio que eu li o seu.
— Não tem importância — eu escrevia para me libertar, já havia me libertado ela poderia lê-lo se quisesse — mas ficarei feliz em ver o que você fez.
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Somente você
RandomE se alguém totalmente fora da curva chegasse em sua vida, sem avisar e gradativamente for tomando conta da sua vida de uma maneira que nunca imaginou. Com o tempo a amizade irá dar lugar a um algo a mais, ódio, raiva, talvez, amor.