20 | De Volta ao Trabalho

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~𝒞𝒶𝓂𝒾𝓁𝓁ℯ

Confesso que senti saudade da minha correria, de acordar cedo, buscar café, fofocar com Hunter e Margareth na entrada, da minha sala aconchegante. Eu acho que essa vida é para mim. Acho que achei o lugar onde me sinto bem e onde eu me aposentaria.

Até acordei um pouco mais disposta e animada. Olhei para o lado onde ficava minha escrivaninha para ver o horário, por incrível que pareça acordei antes dele tocar. É um milagre isso acontecer.

Já que isso aconteceu, vou aproveitar esse tempo para correr antes de ir trabalhar. Coloco minha legging preta, um top e uma blusa de moletom por cima, meus tênis de esporte também não pode faltar.

Jenna, a dorminhoca, ainda não acordou, então saio de casa tentando fazer o mínimo de barulho possível. Não sou de praticar exercícios, mas à duas semanas eu não tinha percebido o quanto estava exagerando na questão da minha alimentação.

Seria um pesadelo se eu voltasse a minha fase de adolescente. Essa fase da minha vida eu gostaria de apagar da minha mente, ela me causou um trauma muito grande, me fez ter inseguranças que nenhuma mulher deveria ter. Todas deveriam se aceitar do jeito que é, mas há uma necessidade maior de seguir os padrões.

Porque uma moça bonita é aquela que tem um sorriso branquinho e retinho, magra, mas que tenha algumas curvas, principalmente nos quadris ou busto. Ela não pode ter manchas escuras, não pode ter pelos. Ela não pode comer de mais, é sempre um: "Você quer engordar?", e não um: "Você precisa se alimentar melhor, cuidar da sua saúde", séria mais educado.

Mulher precisa ser apresentável, ou vai ficar solteira para o resto da vida, ou vai ser trocada por uma mais bonita, mais magra. E quanto ao caráter? E quanto ao coração? Ah é, homens não olham para isso. Mas se eu não quiser um homem? Diz isso para ver as barbaridades que sua família e amigos vão dizer.

Uma adolescente não deveria ouvir tanta merda, ela deveria viver do jeito que se sente bem, e não o que os outros julgam ser o melhor. Todos deveriam saber que sempre vai existir pessoas diferentes, outros mais magrinhos, mais gordinhos, com pele clara, outros mais escuros, cabelo liso, ou mais crespo, dentes mais tortos, ou com algumas aberturas, com estilo diferente. Mas porra, isso não é um problema.

Até que ponto uma brincadeira pode levar uma pessoa a se odiar? Odiar o próprio corpo, o cabelo, suas roupas, seus dentes, você mesmo. Bom, foi o que aconteceu comigo... Levou um tempo até eu conseguir me sentir bem comigo mesma, estar satisfeita com meu corpo, sair daquela fase de: "Eu me odeio". Para: "Eu preciso sair desse buraco" e "Agora estou bem".

Mas então você encontra o pivô de todo seu trauma, depois de anos longe de toda toxidade dela. Ver o quanto ela está bem, bem até de mais para alguém que fez tanto mal para as pessoas, não só para a própria prima.

Porra, como posso fingir que nada aconteceu? Como posso agir normalidade, tratá-la como família depois do que ela fez? Ok que eramos adolescentes, não eramos pessoas maduras. Mas roubar meu namorado meses depois que minha irmã morreu...? Isso tem perdão? Traição tem perdão? Acho que não. Se tivesse o diabo estaria no céu uma hora dessas.

Agora desconto todo esse sentimento correndo pelo quarteirão, fazendo dieta que vi na internet, jejum de manhã, salada no almoço e uma vitamina de noite. Nada de doce, gordura ou carboidratos, e sempre praticando exercícios físicos.

Depois de um longo banho, pegar os café no Starbucks - que não foi para mim, e sim, para Apolo, Margareth e Hunter, pois descartei café do meu cardápio, bom... pela dieta, frappuccinos podem conter muitas calorias - eu estava a caminho do trabalho, pronta para começar tudo de novo.

Apolo meu chefe mentiroso.Where stories live. Discover now