59 | Tia Ana

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~𝒞𝒶𝓂𝒾𝓁𝓁ℯ

O que deveria ser uma boa noite de sono pós viagem, se tornou uma grande dor nas costas, não consegui dormir direito em cima de um sofá duro e velho. Enquanto eu lutava contra a minha insônia, eu ouvia os roncos e as respiradas profundas que Apolo dava por estar dormindo no conforto. Maldito. Ele me paga!

Quando sentir que pegaria no sono mesmo depois de ter amanhecido, a porta de vidro da casa se abriu repentinamente, meus olhos arderam pela claridade, forcei-me para abrir os olhos e ver a figura da minha tia parado bem na minha frente. Oh, não!

- Bom dia! - Disse ela, toda animada.

Ai merda, merda, merda!

- Querida, o que aconteceu? - Não era para ela me ver aqui não era. - Onde está o seu namorado, ele não veio? - Ela franze o cenho. - Ou vocês já se desentenderam? Para você estar dormingo aqui na sala sozinha vocês devem ter brigado. Espero que não tenha sido pelo casamento.

Problema da tia Ana que ela tira conclusões precipitadas, faz fofoca para quem não deveria, aumenta as coisas e, de algum jeito, faz a cidade, o bairro, a família e a porra toda ficar sabendo. Ou seja, ela me ver dormindo na sala ao invés de estar deitada abraçadinho com o meu amorzinho fingindo ser feliz e apaixonada, é motivo de uma grande fofoca. Um entretenimento para família eu diria.

- É... - Pensa rápido, Camille, pensa rápido. - Não, não é nada disso. - Forço um sorriso e me levanto do sofá toda desengonçada. - Eu...

Você é uma boa mentirosa, Camille, vamos invente qualquer coisa.

- Nossa, eu nem percebi que tinha ficado aqui, que coisa, não? - Dou risada. - Eu e Apolo decidimos assistir alguma coisa, em algum momento eu peguei no sono, eu e ele estávamos tão cansados, muito, muito cansados.

- Mas a televisão não está pegando. - Ela diz.

- Nossa, sério? Ontem ela pegou, muito bem, aliás. Estranho, né? - Minto, minto muito feio.

- Muito estranho. - Ela me lança olhar desconfiado. - Vocês dois couberam nesse sofá?

- Por incrível que pareça, sim. - Mentira!! Não cabia nem eu direito, quem dirá dois.

Ela parece ter se convencido. Ufa!

- Tudo bem, agora vem ms dar um abraço, titia estava com saudades.

Todos nós temos uma tia falsa a esse ponto. Como eu sou uma pessoa educada, vou até ela e lhe dou um abraço com um sorriso mais falso que as demonstrações de afeto dela.

- Onde está Apolo? Quero conhece-lo. -  Disse quando nos separamos. - Está no quarto? - Pergunta indo em direção ao cômodo, antes que pudesse abrir a porta eu corro até ela e a impeço.

- Não! - O Tom sai mais alto que deveria.

- Não?

- Quer dizer... - Tento reformular. - Ele disse que iria tomar banho, deve estar se trocando agora, melhor não entrar, não é? Não queremos constrangê-lo.

- Claro, você está certa. Não posso esperar infelizmente, hoje é o almoço com a família e os padrinhos, depois a despedida de solteiro que a Aisha inventou. - Ela revira os olhos, como se não gostasse de ficar na frente de tudo aquilo e mandar nas pessoas. - Bom, de qualquer jeito o verei no almoço.

- Sim, com certeza. - Concordo.

- Tchau, querida.

- Tchau, tia Ana.

Odeio que me chamam de querida, tirando meus pais.

Minutos depois a porta do quarto se abre, Apolo parece bem pleno, com uma cara de quem teve uma noite maravilhosa de sono, enquanto eu estou acabada, com dor nas minhas costas e, provavelmente, com olheiras horríveis. Ele estava com uma calça de moletom que caia muito bem nele, e uma camisa branca que marcava seus músculos. Que porra de homem, vai se foder! Como consegue ser bonito até quando acorda?

- Bom dia. - Cumprimenta.

- Bom dia. - Respondo seca.

Aproveito que ele já saiu do quarto e vou fazer minhas higiênes e trocar de roupa.

- Alguém acordou de mal humor.

- É. Quando se dorme no sofá, ou melhor, quando você tem insônia a noite toda, depois acorda com a sua tia perguntando o porquê do meu namorado não estar comigo. É isso que acontece, acordo de mal humor.

- Sua tia chata? - Ele pergunta. - Ela veio aqui?

- É Apolo, ela veio. Obrigada por isso, agora vou virar o assunto nessa porra de almoço que vai ter hoje. - Bato a porta do quarto na cara dele.

Tudo já começou dando errado, achei que iria ser fácil lidar com Apolo como um namorado de mentira, pois ele aceitou numa boa, sem ao hesitar - o que foi meio estranho - porém, entretanto, todavia, já estou com vontade de agarrá-lo pelo pescoço, como uma galinha sendo sufocada.

- Você é daqueles tipo de mulher que tem o paladar de criança? - Apolo pergunta quando eu saio do quarto, já arrumada e com uma aparência digna.

- Não. - Respondo seca.

Ele começa fuçar nos armários, a procura de algo para comer, eu suponho. Apolo pega um pacote de café com uma cara estranha.

- Validade... - Ele estreita os olhos, acho que está difícil ler as letras miúdas. - Dia dois de fevereiro de dois mil e dezoito. - Lembrando que estamos em dois e vinte dois. - Acho melhor comer em alguma cafeteira.

- Você acha? - Eu tenho certeza.

Apolo meu chefe mentiroso.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora