24 | Uma Boa Mentirosa

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~𝒞𝒶𝓂𝒾𝓁𝓁ℯ

Sabe quando você sente que tem o espírito de um de um cerial killer e começa imaginar várias atrocidades que se pode fazer com outra pessoa? Então... Esse foi meu pensamento enquanto estava naquela mesa junto com o pior ser humano dessa terra.

Apolo tem o dom supremo de me tirar do sério, ele faz isso numa facilidade incrivelmente insuportável, tanto que torna o ambiente péssimo, como uma nuvem tóxica. Eu olho para ele e para aquele rostinho bonito e sinto vontade de arrancar seus olhos. Esse é o único sentimento que sinto por ele. E continuará assim até a minha morte, ou até a dele...

Mas eu sou uma mulher forte e muito guerreira, consigo passar algumas horas bebendo na mesma mesa que ele, consigo sorrir e fingir que estou amando a companhia dele. É fácil. Eu consigo. Pela Melissa, tudo por ela, essa é uma oportunidade que não se pode desperdiçar, então vou fazer tudo isso por ela.

Depois que todos decidiram que já era a hora de ir embora, me levantei para ir pagar minha bebida, que foi separada dos demais. Porém quando cheguei no balcão o barman disse que a minha bebida já havia sido paga, achei que tivesse algum engano, mas não.

Ele apontou para a pessoa que fez a gentileza. O mesmo olhou para mim, com aquela cara e aquele sorriso de lado siníco, eu juro que quase mostrei o dedo do meio para ele. O que ele está tentando fazer, pagando minha bebida? Ele acha que não sou capaz de pagá-la sozinha, ou ele está querendo me humilhar com seu dinheiro tosco?

Eu reviro os olhos e apenas aceito.

- Vocês vieram de carro? - Pergunta Mikael a nós.

- Não, viemos de táxi. - Responde Melissa.

- Bom, era para nós voltarmos de carro, mas Jenna bateu o meu, pela mensagem que me mandou. - Digo.

Era para ela estar aqui também, porém ouve um imprevisto no trânsito, ela disse que uma moto fez uma ultrapassagem errada e ela acabou batendo nele. Segundo ela, o carro não fez tanto estrago e nem a moto. Mas ela disse que os dois acabaram discutindo no meio da rua.

A sorte dela é que eu não me importo muito com coisas materiais, pelo contrário, eu teria saído do bar e ido em direção a ela para estrangular os dois que não prestaram atenção.

- Já está tarde, não acha que é muito perigoso pegar um táxi agora? - Diz Mikael, todo atencioso e preocupado. - Podemos dar uma carona, não é Apollo?

- Sim, sim. Concordo. - Ele coloca as mãos no bolso e me olha. Eu reviro os olhos.

Eu não acredito que estou prestes a falar o que vou falar agora.

- Muito gentil da sua parte Mikael, você pode dar uma carona para Melissa. Eu e o Greco temos que resolver aquela coisa que eu te disse hoje manhã, você lembra? - Olho para Apollo e arregalo os olhos para que ele perceba a mentira de boa ação que estou fazendo.

- Ah... Sim... Claro. Aquela coisa, sim. Eu tinha até me esquecido, obrigado por me lembrar, aqueles documentos são muito importantes, Clarck. - Ele entra na mentira.

Olhamos para os dos com um sorriso bem mentiroso. Não sei se eles sacaram a nossa mentira, mas não questionaram nada, apenas assentiram.

- Tudo bem, então. - Diz Mikael. - Então vamos? - Ele pergunta a Melissa.

- Vamos. - Ela diz. - Nos vemos amanhã, Cami. - Ela se despede de mim com um beijo no rosto. - Boa noite. - Ela estende a mão para Apolo. - Foi bom beber com vocês.

- Boa noite, Melissa. - Ele aperta a mão dela e dá um leve acenar com a cabeça.

Vemos os dois entrar no carro, Mikael tão gentil, abre a porta para Melissa entrar, ela não consegue disfarçar o sorrisão que brilha em seu rosto. Espero que saia pelo menos um beijinho dessa carona para que o esforço que eu tenha feito essa noite tenha valido a pena.

Eu sou uma boa amiga.
Melissa você me deve uma!

- Você é uma boa mentirosa. - Diz Apolo.

E ele é o que?

- Olha quem fala. - Olho com cara de deboche para ele. - Eu fiz isso por um bom motivo.

- Meu carro está estacionado logo ali. - Ele avisa.

- Quem disse que vou com você? - Arqueio uma sobrancelha e cruzo os braços.

- Quem disse que foi um convite? - Ele arqueia uma sobrancelha, me imitando.

- Babaca!

- Chamando seu chefe de babaca? Hum, Clarck, mil a menos do seu salário.

Se fosse contar todas as vezes que já o chamei de babaca sem ele saber, já seria um zero bem negativo na minha conta.

- Vamos logo, aqui mal passa táxi, você ficaria aqui um bom tempo até passar um, e se ele parasse para você, é lógico.

- Você vai passar em outro lugar de novo? - Pergunto, me lembrando da outra vez que fiquei mais de meia hora em seu carro enquanto ele fazia sei lá o que com uma mulher.

- Não. - Diz em um tom cansado.

Se eu ficar me fazendo de difícil, logo ele desiste de me dar a carona.

- Ok.

- Como você é teimosa, viu! - Ele começa andar, eu o sigo.

- Se começar a me insultar eu prefiro ir de a pé. - Ele ri.

As vezes penso que a diversão dele é me irritar. Ele precisa fazer isso para ter um pouco de felicidade na vida sombria e fria dele. Chegando perto de seu carro - super luxuoso, provavelmente tem o valor de cinco carros do meu - ele tira as chaves do bolso e aberta o botão do alarme.

- Não espere que eu abra a porta para você também. - Ele passa direto para o lado do motorista.

- Claro que não. Duvido que você seja capaz de tal ato de cavalheirismo. Na verdade, não acho que você seja um cavalheiro. - Abro a porta e entro. - Primeiro que você é sem educação e muito arrogante comigo, então não acho que seja capaz de abrir a porta para mim ou para qualquer outra mulher, quando você trata uma como lixo. - Coloco o cinto de segurança. - Pagar a minha conta não demonstra nada, ok? Só para te informar. Isso só prova o quanto você quer mostrar que tem dinheiro. Cavalheirismo vai além disso. - Termino minha fala de ódio.

De repente Apolo fica sério, seu maxilar travado e seu punho apertando o volante. Ele parece não ter gostado do que ouviu, pois ele não me responde a altura, não faz uma implicância comigo, não rebate com alguma frase - que provavelmente iria me irritar - como ele costuma fazer. Ele liga o carro e segue o caminho até em casa em silêncio.

É então que percebo que talvez eu tenha pegado pesado de mais. Fico sem graça e sem jeito, até porquê, ele está me levando para casa, quando isso não é sua obrigação, assim como outras vezes. Ele foi até em casa para se desculpar, almentou meu salário e deu um cartão do Starbucks. Talvez eu tenha exagerado várias e várias vezes, pensando por essa lado.

Apolo só estava implicando comigo quando falou de abrir a porta para mim. E eu fui lá e respondi com um discurso super odioso, e que provavelmente, deve ter pegado no ponto fraco dele. Merda, Camille, ele é seu chefe, sua burra! Por que diabos você não consegue controlar essa sua língua afiada.

Vim tão distraída pensando o quão grossa fui com meu chefe, e o quanto ele deve estar pensando em me demitir da maneira mais vergonhosa, que nem percebo Apolo estacionando na frente do meu apartamento, ele sai do carro. É então que eu penso que é agora que ele vai me matar talvez...

Mas então, ele abre a porta do carro para mim. Eu fico olhando para ele, sem expressão alguma e desço. Não consigo dar nenhum passo, pois seu corpo grande está na minha frente, uma mão está segurando a porta do carro e a outra em cima dele.

- Eu posso ser cavalheiro... - Ele solta. - Quando eu quero. - Ele olha no fundo dos meus olhos. - E quando a pessoa merece. - Seu olhar desce para meu corpo depois sobe para meus olhos novamente. Sinto algo me queimando e um fervor insuportável subindo. Eu coro de nervosismo. - Posso ser outras coisas também, Clarck. Não se engane com algo que transpareço ser. - Minha respiração trava. Eu não consigo falar ou me mexer. - Tenha uma boa noite, Clarck. Nos vemos amanhã. - Ele dá passagem para mim, mas não desvia seus olhos, e isso me deixa nervosa e com um frio estranho ma barriga.

- Boa noite. - Digo, sem jeito e corada. Entro rapidamente para dentro do prédio, evitando olhar para Apolo.

Apolo meu chefe mentiroso.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora