Eddie Munson 2.2

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Era impossível. Eddie tinha morrido. Era impossível ele estar ali. Com certeza era apenas algum tipo de criatura do mundo invertido. Não era o Eddie. Não podia ser ele, certo?

O primeiro pensamento que teve assim que seus pés tocaram o chão novamente, foi correr pra longe da criatura. E para a sua surpresa, "Eddie" tinha pousado em frente de sua casa, ou a versão distorcida pelo mundo invertido.

Abriu porta da frente com violência, fechando a madeira atrás de si e trancando a fechadura. Correu para o andar de cima, mas assim que entrou em "seu" quarto, Eddie estava cama, sentando na ponta do colchão como se esperasse você entrar.

E graças aos relâmpagos vermelhos do céu, e sua janela aberta, deixando que as luzes avermelhadas entrassem no cômodo, iluminando pobremente a criatura em sua frente.

Ele estava sem sua camisa, deixando seu peito a mostra, com todas as marcas das mordidas dos morcegos ainda ali, mas agora, totalmente cicatrizadas. Sua pele estava mais pálida, quase cinza, deixando suas tatuagens mais escuras. Seu cabelo tão escuro como a noite, caindo sobre seus ombros, com uma aparência de úmido, apesar disso, as ondas ainda mantinham suas formas. Sua calça escura rasgada em alguns lugares, com seu cós perigosamente baixo. Em seus rasgos, podia ver mais cicatrizes, além de tons avermelhados ali, o que só podia ser sangue... Mas não soube dizer se era sangue da criatura ou...

Viu ele se levantar da cama, deixando que suas asas escuras saissem das costas da criatura. Podia ver os retalhos de pele escura e fina ligando os ossos de suas asas, podia ver o que parecia ser uma unha afiada no topo de suas asas, igual as asas dos morcegos que haviam lá fora. Elas eram grandes, quase do tamanho dele, mas de alguma forma, elas se dobravam se encolhendo perfeitamente atrás de si.

Seu corpo deu um passo para trás, não vendo uma das raízes escuras ali, causando que perdesse o equilíbrio e caísse pra trás. Porém, ao invés de sentir o chão sob seu corpo, sentiu apenas as mãos da criatura em sua cintura, não sabendo como ela chegou tão perto, mas agradecendo mentalmente por impedir sua queda. Foi então que viu os olhos vermelhos sangue da criatura, e só teve mais certeza que ele não era seu Eddie. Aqueles olhos tinham um espírito de caçador, de um predador... Os olhos de Eddie eram sempre tão doces e gentis, nunca um predador. 

A criatura olhava para seu rosto com atenção, quase como Eddie fazia. Suas mãos geladas e grandes ainda em sua cintura, aqueles olhos vermelhos procurando algo nos seus, antes de cair até a altura de seu pescoço, ele chegou mais perto ainda, podia sentir sua respiração em sua pele, parecendo que ele estava farejando sua alma. E então, da mesma forma que ele apareceu em sua frente, ele desapareceu.

Demorou alguns segundos para acha-lo novamente na escuridão de seu quarto, vendo ele encolhido em um canto, suas asas ao redor de si, quase como se protegesse seu próprio corpo.

- não devia ter voltado aqui. - a criatura falou com a mesma voz de Eddie, talvez um pouco mais rouco, como se estivesse com a garganta seca.
- o que... O que é você? - perguntou dando um passo pra trás, querendo deixar mais espaço entre eles.
- eu... Eu não sei. - a criatura respondeu numa voz baixa, como se tivesse vergonha.
- o que fez com meu Eddie!? - falou tomando um gole de coragem, dando um passo a frente, vendo a criatura se encolher mais.
- Eu não sei. - ela respondeu de novo, com o mesmo tom vergonhoso, e com um toque de medo. A criatura se encolheu no canto do quarto, se sentando no chão frio dali.
- cadê o Eddie!? O corpo dele! Onde está!? - perguntou dando mais um passo a frente, tomando uma coragem que sequer sabia que tinha.
- não tem corpo. - ouviu a criatura dizer em tom baixo, erguendo seus olhos vermelhos em direção a mulher.
- como assim?! Eu vi ele morrer, eu senti a morte dele! Eu sei que eu fui arrastada pra longe dele e eu tenho certeza de onde eu tinha deixado ele! - a cada palavra que dizia, tomava mais um passo a frente, vendo a criatura lhe observar atentamente. - cadê meu Eddie?! - perguntou de novo, com um tom mais choroso em sua voz. - o que você fez com ele?! Como você assumiu a forma dele?! Isso é mais um plano do Vecna?! - perguntou engolindo suas lágrimas e transformando em uma raiva.
- EU NÃO SEI! - a criatura gritou se levantando do chão, suas asas abrindo com violência, derrubando alguns móveis e decorações das paredes. SN não deixou de notar os dentes afiados da criatura em sua frente, fazendo um arrepio frio percorrer seu corpo. A criatura notou sua feição assustada, e rapidamente se encolheu de novo, escondendo seu rosto em meio as suas asas. SN podia ouvir o choro fraco que vinha da criatura em sua frente, e parte de seu corpo só queria abraça-lo e acalma-lo como fazia com seu Eddie, mas outra parte de si, tinha dúvidas sobre o que ele era. - não tem corpo, porque... Ele não morreu. Ou... Morreu e voltou. - a criatura cortou o silêncio do cômodo, a voz dele era baixa, rouca, mas ainda sim, Sn podia ouvi-lo. - eu lembro de... Do seu choro. Lembro de ouvir você me chamar mas eu não tinha forças pra responder... E então, tudo ficou tão escuro e frio... - Sn  ouvia cada sílaba que a criatura dizia, e mesmo que não tivesse certeza se o que ele dizia era real, algo dentro de si fazia ela acreditar no que ele falava. - eu senti como se tudo estivesse queimando... Cada pedaço de mim estava em chamas... E então, tudo parou. Eu abri meus olhos e estava tudo tão claro, como a escuridão daqui debaixo não existisse mais, como se eu pudesse ver no escuro. Eu conseguia ouvir cada som ao meu redor... Ouvia os morcegos gritarem, mesmo estando quilômetros de distância de mim. Eu podia sentir o cheiro do meu sangue, e então, eu percebi que as mordidas tinham sumido... Todas elas haviam cicatrizando, como mágica. - ele falou fazendo um estralo em seus dedos, com um pequeno sorriso em seus lábios, mas o sorriso rapidamente sumiu antes dele continuar. - eu tentei me levantar, mas eu senti algo em minhas costas, como uma coceira irritante... E então ela piorou, e ficou cada vez pior. Eu senti minhas costelas se quebrando e dobrando entre si, eu gritei tão alto que tinha certeza que toda criatura daqui tinha me ouvido. Eu senti minha pele rasgar, deixando meus ossos saírem, minhas roupas rasgaram igual minha pele. Então, eu pude ver meus ossos sendo cobertos por uma pele escura, formando essas... Asas. - ele respirou fundo antes de continuar. - eu lembro de tirar o que sobrou da minha roupa, e de como eu levei algumas horas pra conseguir ficar de pé e andar, eu sentia as asas em minhas costas e não fazia ideia que conseguia controla-las... Eu lembro de pensar que tudo aquilo era um tipo de sonho psicodélico causado pelas mordidas dos morcegos... Ou eu estava no inferno. - ele falou num meio riso, se levantando de onde estava, andando em direção a janela de seu quarto, evitando a mulher parada ali no meio do cômodo. - então, eu senti uma sede tão forte... Era como se toda minha garganta queimasse... Como se alguém tivesse enfiado uma lâmina em brasa dentro da boca... Era algo que eu nunca senti antes... Eu fui até as casas ao redor, procurei alguma coisa que pudesse beber, e quando finalmente achei uma caixa de leite dentro da geladeira, eu sequer pensei, só virei o leite em minha boca... Implorando que isso parasse a sensação de fogo em minha garganta. Mas, assim que dei o primeiro gole, meu corpo todo pareceu rejeitar o leite, me fazendo vomitar. Eu lembro de pensar que talvez o leite estivesse estragado, mas algo dentro de mim dizia que a culpa não era do leite... Foi aí que eu senti um cheiro tão... Delicioso, que fez minha boca salivar. Não fazia sentindo aquele cheiro delicioso ali, mesmo assim, eu segui o cheiro, entrei na floresta e parecia que meus olhos estavam vendo mil vezes melhor do que antes. Continuem seguindo aquele cheiro pela floresta, achando uma espécie de cachorro desse mundo... Ele estava comendo um daquele morcegos, sequer me viu chegando. Eu vi o sangue do morcego molhando o chão, então eu senti algo na minha boca, como se meus dentes estivessem caindo e nascendo de novo... Mais afiados. Eu devo ter feito algum barulho, já que aquele "cachorro" se virou pra mim, gritando em minha direção... A cabeça dele abria como uma flor, milhares de dentes cobrindo seu interior... Aquela coisa era assustadora, mas... Eu não corri. Eu senti aquele cheiro delicioso novamente, e vi que o morcego tinha machucado a tal coisa, e uma pequena gota de seu sangue estava escorrendo... Eu não lembro como, ou porque, eu fiz aquilo... Mas quando eu dei conta, estava com meus dentes enfiados na pele dele... Mas eu lembro de sentir uma sensação deliciosa de saciedade enquanto... Bebia o sangue daquilo. Eu ouvia ele gritar e sentia ele se debatendo, e de alguma forma, fez com que o sangue dele ficasse ainda mais saboroso. - ele conseguia ouvir seu coração batendo cada vez mais rápido, deixando claro seu medo. Mesmo assim, ele se arriscou, andando até onde Sn estava, no centro do cômodo. Ele viu os olhos dela observarem ele com um pouco de hesitação e medo pelo o que ele fosse fazer, mas ao invés de se afastar novamente, ela permaneceu no mesmo lugar, olhando a criatura se aproximar dela. - eu sei que toda essa merda é... Loucura, impossível... Mas eu juro que eu estou falando a verdade, Sn. Eu não sou uma criatura que assumiu a forma do Eddie... Eu sou o Eddie... Ou pelo menos era. - ele terminou de falar, esperando ouvir a voz da mulher em sua frente, mas ela permaneceu em silêncio. Seus doces olhos fixados nos olhos vermelhos dele, como se estivesse olhando sua alma, procurando qualquer sinal de mentira. - por favor, fala alguma coisa... - ele implorou num tom baixo.
- prova. - Sn falou cruzando os braços sobre seu peito, vendo o lábio da criatura em sua frente se curvar em uma sorriso de canto de boca, como se ele esperasse pela fala dela.
- nosso primeiro encontro deveria ser em um restaurante ao pé da estrada, bem longe daqui. Iríamos reclamar de como a comida era horrível e como o banheiro fedia mais que as meias do Henderson... Mas seria perfeito, por que seria nosso primeiro encontro. - ele falou com um sorriso nos lábios, em seus olhos vermelhos, uma luz, uma esperança de um dia fazer essa ideia se tornar real. E apesar de seus olhos ainda terem uma aura de predador, Sn pode ver o brilho do doce e gentil Eddie que ela conhecia desde sempre.
- Eddie? - Sn perguntou mesmo sabendo a resposta, ela ainda precisava ouvir que aquele em sua frente, era Eddie.
- em carne em osso, baby. - ele respondeu com um sorriso nos lábios, vendo Sn se aproximar, seus olhos vendo cada detalhe de seu rosto, como se estivesse conhecendo o novo Eddie.

Ele viu a mão de Sn ir lentamente em direção ao seu rosto, ele fechou os olhos quando sentiu o toque quente das pontas dos dedos dela, antes de sentir as palmas das mãos dela abraçando suas bochechas delicadamente. Ele ainda sentia os dedos dela acariando sua pele fria e acinzentada, e de alguma forma impossível, ele jurou sentir seu coração bater mais rápido.

SN abraçou Eddie com toda a força de seu corpo, sentindo não só os braços dele abraçarem ela de volta, mas suas asas também envolviam o corpo dela.

- eu achei que eu tinha te perdido... Eu... Eu achei que nunca mais fosse te ver... Ou se abraçar... Como eu ia contar pro seu tio, que... Você tinha morrido. - falou abafada pelo corpo dele, seu tom choroso  não podia passar despercebido por ele.
- você está chorando por mim, Sn? - Eddie falou em com um toque de humor, se afastando o suficiente pra que pudesse ver o rosto dela, suas mãos frias limparam suas lágrimas, enquanto suas asas ainda envolviam o corpo dela.
- é claro que eu estou chorando por você, seu idiota! - Sn respondeu batendo fraco contra o peito dele, não deixando de ver o sorriso que ele mantia ao ouvir o que você tinha dito. - estou chorando por você desde que você fez aquela coisa estúpida de tentar ser um herói! - ela continuou no mesmo tom irritado, porém nem tanto. - eu sequer sabia que podia chorar tanto assim! E que merda de ideia foi aquela, Munson?! Por que caralhos você fez aquilo! Você não tinha a porra do direito de- Sn sequer teve a oportunidade de continuar sua fala, já que, os lábios de Eddie se chocaram contra os seus em um beijo carinhoso, cuidadoso, e claro, extremamente amoroso.

Suas bocas se abriram levemente, permitindo que suas línguas tocassem uma a outra em um beijo que fez todo o corpo de Sn tremer. Seus joelhos fraquejaram, e se não fosse pelas... Asas dele, tinha certeza que teria caído ali mesmo. Sentia as mãos dele em seu rosto, o frio do metal dos anéis dele em sua bochecha, causando mais arrepios ainda.

- desculpe querida, você ia dizendo? - Eddie falou com aquele maldito sorriso que fazia seu coração bater mais e mais rápido.

SN apenas ignorou o comentário dele, puxando Eddie para um novo beijo, não conseguindo entender como ela tinha feito pra ficar tanto tempo sem aqueles lábios contra o dela.

Eddie certamente não ficou contra isso, deixando que Sn juntasse seus lábios novamente. Ele podia ouvir o coração da mulher batendo forte e rápido, o cheiro doce de sua pele, o calor de seu sangue correndo sob sua pele... E então, ele sentiu sua sede voltando.

Eddie praticamente pulou para longe, fazendo Sn o olhar completamente confusa.

- eu... Eu sinto muito. - Eddie falou e então, desapareceu dali. A única pista que podia ter, foi a janela deixada aberta.

SN correu para a janela, vendo apenas a silhueta das asas dele contra a luz vermelha dos raios no céu. A mulher andou pra trás, parando somente quando chegou em sua cama, fazendo com que caísse sentada ali no colchão, seus pensamentos a mil por hora, ainda tentando entender o que tinha acabado de acontecer. Eddie parecia feliz pelos beijos, afinal, ele havia começado.

Só tinha uma forma de descobrir... E Sn iria atrás disso até acha-lo novamente.

IMAGINES ALEATÓRIOS PARTE 2Onde histórias criam vida. Descubra agora