O peso da responsabilidade.

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A cela era pequena. Um cubículo apertado que mal dava para ficar de pé e nem tinha espaço para deitar direito. Xi Zhang estava sentado com as costas apoiadas contra o metal frio das paredes. Seus joelhos pressionavam seu peito enquanto sua cabeça pendia desanimada para frente.

Ele sabia que a culpa era dele mesmo por estar nessa situação. Um homem tinha morrido e outros dois tinham sido feridos por causa da falta de disciplina dele.

No escuro da cela, ele teve bastante tempo para pensar. Para se auto julgar pelas próprias ações impensadas. Ele pôde calcular tudo que tinha feito de errado. You tinha fugido porque ele tinha sido apressado, impulsivo. Ele não tinha conseguido manter o autocontrole de suas emoções.

Eu sou um fracasso. Pensou o jovem com tristeza. Como planejo me tornar um dos melhores oficiais do império, se nem consigo me controlar diante de um simples traidor?

A dor pelo peso da responsabilidade estava sendo maior do que Xi Zhang imaginava. Ele tinha visto muitas pessoas morrendo no Teste, mas agora tinha sido diferente. No teste, ele e os outros alunos tiveram que fazer de tudo para sobreviver, mas lá ele não tinha responsabilidade pela vida de ninguém, ele era só outra vítima. Já na caçada contra You, ele tinha levado seus companheiros para uma situação de risco por escolha própria.

Um estalo assustou o jovem Bronze que ergueu cabeça no momento em que a porta de sua cela foi aberta. Um feixe de luz adentrou as trevas do cubículo trazendo dor aos olhos do garoto.

Xi Zhang grunhiu diante da luz repentina, fechando os olhos com força e desviando o olhar para o lado.

- Traga-o! - Ele ouviu uma voz distante e então sentiu quando duas pessoas se inclinaram sobre ele e começaram a puxa-lo para fora.

Ele foi levado por um corredor. Podia ver alguém caminhando a sua frente. Um vulto indistinto enquanto sua visão voltava ao normal. Ele ainda tentava recuperar o foco após o tempo que passou na escuridão da cela.

- Podem colocar ele aí. - A voz do Tash Yga Wen soou de repente, fazendo Xi Zhang se arrepiar.

O jovem Bronze foi jogado em uma cadeira de madeira de encosto alto de frente para o oficial. Eles estavam em uma pequena sala com uma mesa de metal no meio. Yga Wen de um lado da mesa e Xi Zhang do outro com três soldados atrás dele.

- O que achou de sua estadia na solitária, Xi Zhang? - O jovem percebeu que o Tash estava bem sério atrás da mesa e sobre a mesa se encontravam as placas de metal com os hologramas que continham informações do atentado ao teste.

- Bem merecida, senhor. - Xi Zhang respondeu humildemente. - Como estão Za Ron e Kyo Fol'Kam?

- Za Ron já está praticamente recuperado. O corte em seu ombro não foi tão profundo. – Yga Wen então olhou para um ponto atrás de Xi.

- A explosão só me deixou atordoado. – Kyo Fol'Kam falou logo atrás do jovem Bronze. - Já estou bem.

Xi Zhang sentiu um alívio no peito, mas só um pouco. Ele ainda sentia o peso da morte de Tropeço em sua consciência. E Yga Wen via tudo isso escrito no rosto do jovem.

- O que você pode me dizer sobre esse tal de You? - O Tash não estava no clima para ficar enrolando o assunto. - Eu dei uma estudada no conteúdo das placas, mas espero que você possa me dizer mais sobre esse traidor e sobre seu contato com Arkagim.

Xi Zhang olhou para as placas, os pensamentos perdidos enquanto se lembrava do derramamento de sangue no teste e no beco em Fuujitora. Ele ergueu a cabeça e olhou diretamente para seu superior.

- Meu primeiro contato direto com You foi aqui em Fuujitora, mas sei que ele era um dos guardas responsáveis pela vigilância da base abandonada onde o teste da academia foi feito. Aquele animal executou os outros três vigias e desarmou os sistemas de defesa da base, permitindo com isso a invasão de Arkagim e seus homens.

- O que levou a morte dos alunos. – Yga Wen falou, não perguntando, mas sim afirmando.

- Sim, perdi alguns colegas por causa daquele atentado. - Xi Zhang então olhou para as mãos, como se estivesse as vendo banhadas em sangue. - Quando eu vi You nas ruas de Fuujitora, eu não consegui me controlar.

- Percebi. - Yga Wen olhou para Xi, pesando suas próximas palavras. - E sobre Arkagim, o que pode me dizer sobre ele?

- Ele é frio e calculista. E parece ser bastante habilidoso com a almashas. Enfrentei alguns dos subordinados dele, alguns eram bastante habilidosos.

Yga Wen olhava seriamente para Xi Zhang. Ele já sabia de tudo aquilo que o garoto estava falando, mas precisava saber se Xi Zhang entendia o perigo que aqueles homens representavam. E pelo que ele percebeu, o garoto entendia até bem demais.

- Um pouco antes de você se encontrar com You. - O Tash começou a falar. - Um transporte blindado com três unidades de escolta foi atacado por um grupo de mascarados. Mais de cinquenta homens foram mortos do lado inimigo e vinte dos nossos ficaram severamente feridos ou foram mortos.

- O senhor acha...

- É uma opção, ainda mais com a aparição de You na cidade.

- Então...

- Mas não agiremos sem pensar. Investigaremos isso e caçaremos esses animais se eles estiverem em Fuujitora. - O Tash então olhou para o garoto sentado à sua frente.

Ele podia ver a dor e o peso da responsabilidade da morte de Tropeço nos olhos de Xi Zhang, mas também conseguia ver algo mais. Um brilho de desafio, uma vontade inquebrável de caçar aqueles que derramaram o sangue de seus companheiros e fazer justiça.

- Você está liberado, Xi Zhang. Kyo Fol'Kam irá acompanha-lo até seus aposentos.

Kyo Fol'Kam se adiantou, ajudando Xi Zhang a se levantar e arrastando-o para fora da sala antes que ele pudesse falar mais alguma coisa.

Yga Wen ficou de pé atrás da mesa. Acompanhando com o olhar enquanto seu aspirante a oficial era levada embora.

- Tudo bem em não contar para ele que as unidades atacadas eram compostas pelas unidades onde os outros alunos estão? - Um dos soldados que permaneceram na sala perguntou ao Tash. - Um deles não era da classe de Xi Zhang?

- Não há necessidade de preocupar a mente do garoto com assuntos desnecessários. – Yga Wen se recostou contra a cadeira onde estava, sussurrando em seguida de uma maneira que ninguém escutasse. - Seu irmão causa tanta confusão quanto você.

As crônicas de Maya - A saga do Império Izar - Parte IWhere stories live. Discover now