A caminho de Hasha

218 43 1
                                    

Em um piscar de olhos dois dias tinham se passado e no início do segundo dia o jovem Xi estava partindo com sua Família para Hasha na nave particular da Família Zhang, a mesma nave que tinha levado ele de volta para Zonam após suas aulas na Academia.

Xi Zhang sabia que a viajem deveria durar até o anoitecer para eles chegarem até a cidade dos Pratas. Hasha ficava a dois dias de viajem por terra dependendo do meio de transporte usado para a viajem, mas por ar era uma história completamente diferente, menos de vinte horas eram necessárias para fazer todo o percurso.

Xi Zhang estava logo atrás de seu pai na grande cabine do piloto onde o Patriarca dos Zhang e mais dois Conselheiros observavam atentamente o caminho a frente deles.

- Como está a condição da viajem? – Xen Zhang perguntou ao piloto.

Ele estava de pé, costas eretas, braços cruzados nas costas e os olhos focados nas montanhas a frente deles.

- A chuva está ficando um pouco mais fraca, Patriarca. - O piloto respondeu enquanto observava alguns marcadores no painel a sua frente. Enerjom piscava suavemente em meio ao maquinário. – Não deve haver nenhum atraso.

- Ótimo. – Xen Zhang acenou para as costas do homem e depois se virou para seu filho enquanto pegava de um dos Conselheiros um cartão metálico platinado com quinze centímetros de comprimento e cinco de largura com a espessura de um dedo.

O Patriarca deslizou o dedo pelo cartão e uma fraca luz azul clara se acendeu sobre ele, revelando uma grande porção de informações.

- Segundo esse relatório. – Ele começou a falar, os olhos pousando um momento no cartão e depois sobre seu filho. – Você aguentou ao seu castigo sem queixas. Resistiu aos golpes e treinou bem sua unidade de recrutas. – Ele devolveu ao Conselheiro o cartão e continuou falando. – Segundo Raim, você melhorou muito sua esgrima e seu ju'gam, espero que você consiga bons resultados no torneio.

- Principalmente levando em conta os problemas que você trouxe para a Família. – Um dos conselheiros, um homem com mais de cinquenta anos e de cabeça raspadas, acabou falando.

O Patriarca deu ao homem um olhar frio que o silenciou no ato e então se virou para seu filho mais novo mais uma vez.

- O Senhor da Cidade de Hasha está insatisfeito com o que aconteceu em Fuujitora, mas ele será forçado a se conter se você alcançar um bom resultado no torneio. Pelo seu próprio bem... é melhor você conseguir um bom resultado.

A um gesto de seu pai, Xi Zhang se virou e deixou a cabine do piloto após fazer um respeitoso cumprimento para o Patriarca e os dois Conselheiros.

Assim que Xen Zhang ouviu os passos de seu filho se afastando, ele se virou e lançou um duro olhar para o Conselheiro que tinha falado mais cedo.

- Tenha cuidado com suas palavras, Conselheiro. – Diante do tom ameaçador do Patriarca, o homem recuou um passo com suor começando a escorrer por sua testa. – Meu filho não fez nada de errado para ter que aguentar suas provocações.

- Perdão, Patriarca. – O homem rapidamente se curvou para Xen Zhang em sinal de submissão. – Acabei ultrapassando os limites de meu posto.

Xen Zhang permaneceu olhando para o Conselheiro por um tempo, o vendo se contorcer com evidente desconforto sob seu olhar. Com um 'hunf' seco ele dispensou os dois Conselheiros e permaneceu observando a paisagem a frente da nave.

Alienado a essa fria troca de palavras entre seu pai e um Conselheiro da Família, Xi Zhang continuou a perambular pela nave muito mais lotada agora do que estivera quando ele retornou para casa semanas antes.

Guardas vigiavam as passagens, Conselheiros e alguns membros de renome dos Zhang perambulavam por aqui ou por ali, conversando sobre assuntos da Família, mas estranhamente, ele não encontrou os outros competidores.

Ele sabia que todos tinham recebido um pequeno quarto na nave para poderem descansar sem preocupações para o torneio que se aproximava. Lembrando disso, ele decidiu que era hora de voltar para seus aposentos para poder descansar um pouco.

Lá, ele se sentou em posição de lótus sob o tapete que cobria o chão, as mãos descansando sobre os joelhos enquanto ele fechava os olhos e controlava sua respiração. Em sua mente, ele apagava qualquer pensamento sem importâncias, qualquer trivialidade que pudesse mexer com seu subconsciente.

Ele afastou todas as memórias do último ano. Deixando todo o desespero do teste de sangue para trás, assim como toda a adrenalina das aulas externas. Nada disso importava enquanto ele meditava e controlava sua respiração que ia ficando cada vez mais longa.

Aquele era um antigo treinamento para controlar o fôlego em momentos de emergência, assim como para controlar a mente e evitar perder o controle em momentos críticos.

Ele não soube por quanto tempo ficou naquela posição, mas quando ouviu uma correria no corredor fora de seu quarto, ele percebeu que suas pernas já estavam dormentes e que suas costas latejavam um pouco.

Com um suspiro ele se levantou, sentindo as pernas formigarem a cada passo que ele dava. Com uma cara de desconforto ele mancou para fora de seu quarto se apoiando na parede metálica da nave. Ao sair de seu quarto ele acabou ouvindo algumas pessoas falando ansiosas que eles já estavam perto de Hasha.

Xi Zhang caminhou até uma janela e viu que a noite já tinha chegado para eles, que as estrelas já brilhavam tranquilamente no escuro céu noturno.

Observando aquelas luzes brilhando no céu, uma ideia se formou de repente na mente do jovem que foi caminhando com passos cada vez mais confiantes em direção a um objetivo em especial.

Xi Zhang caminhou rapidamente pelos corredores estreitos da nave subiu para o último andar dela seguindo até o lado direito onde uma porta que já se encontrava aberta levava para uma sacada protegido por um vidro grosso em forma de cúpula.

Na sacada, outros dois jovens se espremiam para observar aquilo que Xi Zhang tinha vindo ver. O jovem se aproximou, percebendo que um dos garotos era Hono Zhang e o outro um primo das linhagens secundarias da Família.

- Sexto jovem mestre. – O primo o saldou assim que o viu, sendo seguido logo depois de Hono Zhang que lançou um demorado olhar avaliador para Xi Zhang. – A que devemos a honra?

- Nada de mais. – Xi Zhang comentou dando de ombros e avançando até ficar espremido entre esse primo e a grade de ferro da sacada. – Só vim ver o mesmo que vocês.

Então ele olhou para o horizonte, onde em meio a dois grades picos montanhosos, mal distinguidos durante a escuridão da noite, se estendia uma grande cidade que brilhava como uma joia em meio as sombras noturnas.

Aquela era Hasha, a cidade da Linhagem Prata dos Xa da Província das Chuvas Cortantes. Uma cidade conhecida em todo o Império Izar pelos torneios que proporcionava durante tempos de festividades. O lugar onde Xi Zhang iria deixar seu nome marcado, ou pelo menos esses eram os planos dele.

As crônicas de Maya - A saga do Império Izar - Parte IWhere stories live. Discover now