Castigo.

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Xi Zhang sabia que as coisas terminariam assim, desde o momento em que tinha decidido revelar a presença da rede de informações em Fuujitora, ele já tinha uma ideia de que seria repreendido pelo alto escalão da Família. O próprio Rendo Zhang o tinha alertado sobre o que essa decisão lhe traria.

Mas mesmo assim ele não se arrependia, sabia que tinha tomado a escolha certa a se fazer naquela hora. E por causa dessa convicção, ele encarou os três homens diante dele sem hesitar.

- Quanta ousadia. – Raim Zhang disse descendo as escadas. – Não vejo arrependimento nesse seu olhar, Xi.

- Isso é porque ele não se arrepende. – O Grande Conselheiro Shishuara falou calmamente, ele ainda estava sentado na primeira plataforma e olhava para Xi Zhang com os olhos quase fechados.

Shishuara Shum era o único membro do conselho da Família Zhang que não era um Zhang. Ele era um dos homens mais velhos que faziam parte do conselho, com mais de setenta anos, magro como um graveto e com a pele completamente enrugada como um maracujá envelhecido.

Ele tinha se casado com uma mulher de alto status na Família muitos anos antes e tinha escalado com sangue e suor seu atual posto como o Conselheiro responsável pela rede de informações dos Zhang.

- Levando em conta o que aconteceu em Fuujitora, você fez a escolha certa para evitar casualidades de inocentes. – O Grande Conselheiro deu um leve aceno para Xi Zhang. – Mas não era essa a função de nossos espiões em Fuujitora, assim como não é essa a função de nenhum de nossos espiões em nenhum lugar da Província.

- Por causa de suas ações, o Senhor de Hasha vem nos pressionando. – Raim Zhang falou com a voz pingando desaprovação.

- O Prata de Hasha? – Xi Zhang perguntou alarmado.

- Sim. – Shishuara Shum tomou a voz da conversa mais uma vez, lançando um duro olhar para Raim Zhang. – O Senhor Jinx de Fuujitora não ficou muito contente em encontrar nossos agentes em sua cidade, mas não criou muitos problemas já que salvamos a cidade dele.

- Mas mesmo assim, criou alguns. – O Patriarca se pronunciou enquanto se levantava de seu posto no topo da escada. – Ele enviou algumas reclamações ao nosso Senhor e fomos forçados a retirar nosso pessoal da cidade. Suas ações cegaram uns dos olhos do Senhor de Hasha e ele não está nada contente com isso.

Xi Zhang queria responder, queria perguntar se teria sido melhor deixar que Arkagim e seus homens agissem livremente, que matassem os cidadãos inocentes de Fuujitora, assim como ao Senhor da Cidade, mas sabia que isso só pioraria as coisas para ele. Por isso ficou em silencio, as costas eretas e os olhos cravados no semblante severo do senhor seu pai.

- Você conseguiu grandes conquistas nesse ano na Academia, Xi. – Xen Zhang disse ao filho enquanto se juntava a Raim Zhang e Shishuara Shum na primeira plataforma. – Mas não podemos só recompensa-lo por seus feitos. Você já deve saber que será devidamente castigado.

- Sim, Patriarca. – O jovem respondeu, sempre que estava no Grande Salão ele chamava seu pai de Patriarca. Mesmo quando estavam a sós era difícil chama-lo de pai.

- Ótimo. – O Patriarca deu as costas a ele e começou a se afastar em direção a uma passagem lateral na primeira plataforma. – O Grande Conselheiro Shishuara e o Comandante Raim já decidiram qual será sua penitencia, cumpra-a de cabeça erguida.

- Sim, Patriarca. – Xi Zhang fez um cumprimento respeitoso para seu pai e depois se virou para encarar seu irmão mais velho e o velho conselheiro, mas antes que qualquer um pudesse dizer qualquer coisa, uma voz surgiu atrás deles, interrompendo o momento tenso.

- Hm? O pai já saiu?

Xi Zhang se virou e viu um rapaz um pouco mais velho do que ele se aproximando pela entrada principal do salão. Ele trajava o uniforme dos soldados da Família Zhang, mas diferente dos outros, sua armadura blindada era protegida com um escudo de enerjom.

- Quinto irmão. – Raim Zhang falou com sua expressão mais azeda do que antes. – Você não deveria estar patrulhando nossas fronteiras?

- Primeiro irmão, não seja um velho ranzinza. – Xin Zhang falou com um largo sorriso no rosto. – Nosso pequeno herói voltou para casa, não é hora de ficar se estressando por nada, e além disso, eu já terminei a patrulha com os outros Kar.

- Quinto irmão. – Xi Zhang saudou o irmão que ele era mais próximo e depois se virou para seu irmão mais velho e para o velho conselheiro. – Eu aceito livremente minha penitencia, por favor, me informem o que devo fazer.

- Hunf! Pelo menos você reconhece seu lugar. – Raim Zhang disso enquanto lançava um rápido olhar para Shishuara Shum. – O Grande Conselheiro Shishuara decidiu que você vai ser incumbido do treinamento de um grupo de recrutas, além disso, recebera dez golpes todas as manhãs.

Um tremor quase imperceptível passou pelo rosto de Xi Zhang ao ouvir a última sentença de seu castigo. Os golpes eram um estilo de castigo militar que fortalecia o corpo, coração e mente dos soldados. Tinha como principal função o disciplinamento de soldados que tendiam a desobedecer as ordens de seus superiores.

- Eu escutei e acatarei a decisão do Grande Conselheiro e do Comandante.

Xi Zhang se curvou respeitosamente para os dois homens na plataforma e se virou para sair dali. Assim que fez isso, ele se deparou com o rosto triste de seu quinto irmão.

- Onde pensa que vai, Sexto irmão? – Raim Zhang perguntou friamente. – Hoje já conta como um dia de penitencia.

O rosto de Xi Zhang ficou completamente branco ao ouvir aquelas palavras, mas ele não podia fazer nada para impedir o que estava por vim.

Raim Zhang se virou e voltou para a segunda plataforma onde se agachou e pegou algo no chão. Quando se levantou, ele segurava uma espada de madeira usada para treinamento.

- Em posição. – O primeiro filho do patriarca falou enquanto erguia a espada de madeira.

- Serio, Raim? Ele acabou de chegar. – Xin Zhang tentou protestar.

- Calado, Kar Xin. – Raim Zhang falou cortando rapidamente as palavras de seu quinto irmão. – Aqui não há favorecimentos a ninguém.

Xin Zhang balançou sua cabeça com tristeza e Shishuara Sham simplesmente observava a tudo em silencio, sem esboçar nenhuma reação.

Xi Zhang foi calmamente até ficar ao lado do primeiro degrau e dobrou um pouco os joelhos enquanto dobrava os braços nas laterais do corpo. Ele respirou fundo e trincou o maxilar.

Vendo que seu irmão mais novo estava pronto, Raim Zhang assentiu de maneira satisfeita e golpeou as costas de Xi Zhang com a espada de madeira. Um som seco ressoou pelo grande salão quando a arma de madeira acertou as costas de Xi Zhang e um grunhido escapou das profundezas de sua garganta.

- Prepare-se, Xi. Isso é para seu próprio bem. – Raim Zhang recuou a arma e golpeou novamente. – Ainda faltam oito.

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As crônicas de Maya - A saga do Império Izar - Parte IWhere stories live. Discover now