O Ancião

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Uma maldita e fraca chuva caia sobre o acampamento deles, fazendo com que muitos se aconchegassem uns contra os outros em busca de um pouco de calor e conforto dentro do declive no terreno rochoso.

Paredões de pedra cercavam eles, meio inclinados para fora, o que dava uma leve proteção contra os ventos gélidos que percorriam as terras abertas em volta deles.

O Ancião estava sentado sobre uma pequena rocha com um grupo de integrantes mais velhos em volta dele. Todos magros, cansados e com roupas em farrapos.

Um olhar atendo revelaria que todos possuíam facas longas presas aos seus cintos e que um deles, um homem de costas curvadas e ombros largos possuía uma velha picareta repousando ao lado do pé direito.

- Estamos ficando sem suprimentos, meu velho. – Sua esposa, uma mulher tão velha quanto ele, comentou ao seu lado enquanto mordiscava uma raiz seca enquanto olhava para a chuva. – Felizmente não temos problemas com falta de água, mas não temos mais carnes e as raízes e ervas já estão chegando no fim.

Um suspiro coletivo soou de todos os velhos reunidos em volta do Ancião. Eles eram um grupo eclético com o mais novo deles tendo cinquenta e um anos. Eram três homens contando com o próprio Ancião e quatro mulheres contando com a esposa dele.

- Eu disse para não aceitar mais bocas. – O velho com a picareta ao seu lado falou de maneira ranzinza. – Suas escolhas vão acabar nos matando.

Suas palavras fizeram com que um casal de velhos abaixassem a cabeça constrangidos. O Ancião deu ao velho com a picareta um olhar desaprovador e cansado, eles já tinham discutido isso várias vezes no passado e as coisas sempre terminavam de maneira amarga.

- A decisão já foi tomada. – O Ancião falou friamente enquanto encarava o velho com a picareta que o olhou desafiadoramente por um momento antes de desviar o olhar.

Suspirando internamente, o Ancião deu um rápido olhar de canto de olho para o casal constrangido e desanimado no canto. Eles eram os únicos que não tinham vindo da mesma aldeia que eles e lideravam um punhado de outros refugiados que tinham sobrevivido ao último ano caótico que tinha se abatido sobre eles.

O ancião não fazia ideia do que o velho com a picareta estava esperando que ele fizesse quando encontraram o casal e seu grupo, eles eram vizinhos, o Ancião jamais os deixaria para trás enquanto Exilados e Predadores espreitavam por todos os lados. Ficar sozinho nos últimos dias era sinônimo de uma rápida morte, e nem sempre uma indolor.

Mas pensar nisso agora não resolveria o problema que eles tinham em mãos. O Ancião sabia que os suprimentos que eles conseguiram reunir nos últimos meses de fuga estavam chegando ao fim e ele já tinha discutido com os outros várias vezes que já era hora de tentar encontrar alguma aldeia ou cidade que ainda estivesse de pé, mas o problema era que eles não tinham ideia de para onde deveriam ir para encontrar qualquer outra alma viva.

Eles passaram tanto tempo fugindo de um lado para o outro no ultimo ano que já não tinham mais ideia de onde estavam no momento e por mais que pudesse ter uma ideia de para que lado andar para encontrar uma cidade, aldeia ou forte do império, o tempo que levaria era desconhecido e por tanto, muito preocupante com o nível de suprimentos que possuíam no momento.

- Não adianta pensar muito, meu velho. – Sua esposa falou novamente enquanto esticava uma mão enrugada para tocar na sua calejada por anos de trabalho duro. – Só temos duas escolhas no momento, noroeste ou sudoeste.

- Os Gu ou os Zhang. – Uma outra velha comentou, uma mulher magra e pequena com olhos pequenos e remelentos. – Se eles são nossas únicas opções, então nosso destino está claro.

As crônicas de Maya - A saga do Império Izar - Parte IWhere stories live. Discover now