As crônicas de Maya - A saga do Império Izar - Parte I

A calmaria antes da tempestade

Um grupo de oficiais estava reunido em uma fechada sala sem janelas da qual o único acesso era uma porta de aço que deslizava para o lado. Xi Zhang estava sentado entre o Mush Jiro Zhang e o Tash Pak Lulou, além deles se encontravam os cinco jovens recrutas líderes das unidades e os Tash sobre o comando de Jiro Zhang.

Alguns não militares estavam presentes também, esses eram os chefes de setores dos funcionários da Fábrica. Pelo menos vinte pessoas estavam reunidas, debatendo sobre o que deveriam fazer com a situação atual.

- Já informamos o Patriarca sobre o encontro de vocês com os Dragões da Montanha. – Jiro Zhang falou calmamente. – Ele me informou que as tropas na passagem tiveram pequenos confrontos com pequenos grupos de Dhagoras desgarrados, mas que ainda não tiveram contato com a Rainha.

- Me pergunto quantos dos filhotes desgarrados estão por aqui. – Um Tash comentou.

- Desde que não seja a Rainha, nós estaremos bem. – Outro disse animadamente.

Jiro Zhang assentiu para seus subordinados e continuou.

- No momento devemos nos preocupar mais com o bem-estar dos refugiados. Todos já foram devidamente alocados?

- Meu pessoal esvaziou alguns armazéns para que o povo pudesse se acomodar. - Um dos chefes de setor respondeu. – Por sorte a maior parte do enerjom reunido já foi transportado para fora daqui, então temos espaço de sobra.

- Perfeito. E nossas defesas?

- O armamento da muralha está funcionando corretamente. – Um dos Tash respondeu em seguida. – Com a chegada dos reforços nós devemos conseguir defender completamente a Fábrica de qualquer perigo.

Jiro Zhang assentiu e fechou os olhos em reflexão, fazia tempo que ele não tinha entrado em uma situação de alerta como a que estava passando nesse momento, ainda mais depois que ele tinha assumido o posto como Mush da Fábrica.

- Por hora, meus homens cuidarão das defesas nos muros. – Jiro Zhang disse abrindo seus olhos e então olhando para Pak Lulou. – Os chefes de setores irão apresentar a Fábrica para vocês, assim vocês poderão se acostumar melhor com o lugar e poderão reagir de acordo com a situação.

- O que devemos fazer por agora? – O Tash Pak Lulou perguntou.

- Descansem um pouco. – O Mush falou dando um sorriso. – Eu sei o quão cansativo é subir aquela maldita ladeira.

Pak Lulou assentiu e se levantou, seguindo com os cinco líderes dos recrutas e Xi Zhang para fora da fechada sala de reunião. Na mesma hora os Chefes de setores da Fábrica e os Tash também se levantaram, restando somente o Mush Jiro Zhang ainda sentado. A porta de aço deslizou para o lado com um silvo e todos começaram a sair, mas nessa mesma hora a voz de Jiro Zhang soou de dentro da sala.

- Jovem Xi, permaneça um pouco.

Xi Zhang travou a meio caminho da porta e ficou olhando enquanto todos saiam lentamente da sala. Assim que a porta se fechou novamente com um silvo o jovem se virou para encarar o Mush Jiro Zhang.

- Podemos retirar um pouco as formalidades. – O velho Zhang falou, dando a Xi Zhang um sorriso paternal.

O rapaz sorriu e se curvou levemente para o homem.

- Já faz muito tempo, Grande Tio.

- Eu ouvi sobre suas conquistas na Academia. Você vem trazendo grandes honras para a Família... apesar de toda dor de cabeça que veio junto. – Um risinho escapou do velho veterano.

Xi Zhang abaixou a cabeça um pouco sem graça, aquele era um assunto um pouco delicado para ele no momento.

Percebendo isso, o velho Mush trocou rapidamente de assunto, pergunta para Xi Zhang sobre seus dias na Academia e sobre os companheiros que ele tinha conseguido. Eles lamentaram a situação recente com tantas mortes acontecendo por causa dos Predadores da Noite e após um comentário de Jiro Zhang sobre o campeonato de Hasha, o jovem Xi ficou um pouco para baixo por causa de seu cancelamento, aquela era uma ótima oportunidade para revelar suas habilidades.

- Não precisa ficar depressivo por causa disso. – Jiro Zhang falou enquanto se levantava de sua cadeira. – Você pode não ter lutado nas arenas de Hasha, mas revelou uma ótima visão ao perceber o risco que nosso povo corria por aqui e por ter vindo com um plano para proteger a todos.

- Mesmo assim houveram baixas. – Disse Xi Zhang suspirando.

- Sempre haverá baixas, jovem Xi. – O olhar de Jiro Zhang ficou um pouco mais sombrio. – Não é algo confortável, mas é uma verdade dura de nossa realidade. As pessoas morrem, muitas vezes sobre nosso comando, sobre nossa responsabilidade. Saber lidar com isso é o que diferencia um bom oficial de um oficial medíocre.

Xi Zhang assentiu distraidamente, mas seus olhos brilhavam com a compreensão que ele tinha das palavras de seu parente.

Eles trocaram mais algumas palavras e então Xi Zhang foi liberado. Do lado de fora da sala se estendia um longo corredor iluminado por tubos de enerjom, que lançavam uma fraca luz azulado pela passagem.

Xi Zhang encontrou um funcionário da Fábrica pelo caminho e pediu para que ele o guiasse até onde estavam os recrutas que tinham vindo para reforçar as defesas da Fábrica. Pelo caminho ele viu outros funcionários andando de um lado para outro, continuando normalmente com seus afazeres.

Ele viu em alguns pontos um ou outro soldado de guarda, menos do que seria normal ver em uma instalação como aquela, mas levando em conta o perigo externo que eles estavam sofrendo no momento, era normal a vigilância interna estar com um pouco de falta de gente.

Não demorou para que ele chegasse, sobre as indicações do funcionário, em uma grande sala que era usada como armazém. Pelo menos vinte metros de largura e cinquenta de comprimento, com dez de altura. O lugar era gigantesco, e estava completamente vazio, não fosse pelos vários sacos de dormi onde os recrutas estavam descansando espalhados pelo chão.

Xi Zhang ficou tentado a acordar seus subordinados. A conversar com eles, descobrir o que estavam sentindo e pensando após tudo o que tinha acontecido na última noite. Mas ele também sabia que eles estavam cansados após a longa marcha e depois de toda a tensão com o encontro com os Predadores da Noite.

Ele deu um singelo sorriso para os jovens desacordados, roncando levemente dentro daquele cômodo iluminado por enerjom e se sentou com as costas contra a parede, relaxando com aquela calma momentânea.