Capítulo I

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Parte 1: E agora o fim está próximo
E, portanto, encaro o desafio final. ⎯ Trecho da música "My Way" do cantor Frank Sinastra.

Agnes diminuía a velocidade do carro, junto aos demais automóveis que paravam no sinal vermelho. As gotas finas da chuva saltavam no para-brisa, a neblina engolia a cidade, o vento forte despertava nas palmeiras o furor.

O sinal não custou muito a ficar verde, e elas tornaram movimentar nas ruas. Os arranha-céus, desapareciam no cenário chuvoso. Kiara debruçada no banco de trás, era entretida pelas as gotas descendo no vidro. O corpo inteiramente dolorido e um calafrio. Ela era orgulhosa de mais para se queixar das dores.

⎯  Mais cinco quarteirões!⎯  Alerta Agnes, para Kiara se preparar.

Ela morava em um dos bairros mais privilegiados; Wisttaly Anson. Condomínios excessivamente grandes, impecáveis. Era perfeito, e artificial. As coisas terríveis que via nos jornais sobre o mundo, pareciam ser irreais naquele lugar.

Nunca tera saído do estado, nem uma vez; o mundo poderia ser extenso, mas para Kiara ele era minúsculo, e sentia-se sufocada nele. Não havia sentido no que vivia, e ela vivera pouco, e estava tão exausta.

Comprimida pela angustia opressora, a face queimava, segurava para não derramar as lagrimas. Encolhia-se no banco, uma reação costumeira. Sucumbindo a si mesma, uma sensação tão devastadora.

⎯ Quando isso vai acabar? ⎯ sussurrou ela, implorando por uma reposta do ser celestial. Agnes estava presa em seus devaneios, que não ouviu a suplica sufocada da garota.

Estacionava, os portões de grades brancas, abria. Perfurava as próprias mãos com as unhas, queria que o espaço entre o portão e a casa, fosse como o infinito, e eternizasse. Não suportaria a sua família, eles a enojava.

Dereck, era o único da família por quem ela realmente demonstrava empatia. Ele a tratava como filha mais nova, e não como a doença familiar, ou a garota que estragou as comemorações, a que quase nunca estava em casa. Para Dereck, ela só era Kiara, a adolescente pelo qual o pai se preocupava.

Agnes conduzia ela através da cadeira de rodas, percorrendo pelas lápides que separavam do jardim. Kiara observara os arbustos com rejeição, amaldiçoara eles por ter amortecido sua queda, e a impedido de morrer. Criaturas desprezíveis!

⎯  Irei fazer um artigo de coisas que se deve evitar quando planeja um suicídio. Arbusto é um dos primeiros. ⎯ diz Kiara lamentando, descarregando sua enorme frustração nos arbustos.

Assim que atravessaram a porta, depararam com um ser. O homem de terno sem blazer, cabelos negros e com alguns fios grisalhos. Numa postura rígida, assim também a face.

⎯ Obrigado, senhorita Vincenzo. Daqui eu me encarregarei dela. ⎯  Ele diz formal, alimentando o seu gosto por autoridade. Agnes antes de dar as costas a Kiara, abriu um sorriso, e sussurrou um Vai ficar tudo bem.

Agnes não sente os olhos do patrão sobre si, apenas fixos na garota. Ela mal podia imaginar o sermão, e os olhares. Dereck Anderson era um homem de abundante íntegridade, um sujeito de aparência firme. Mas ele tinha fraquezas quanto as suas decisões conscientes, quando a sua mulher, ou até a filha mais nova estavam por perto.

Dereck levava a garota em direção ao escritório, empurrando a cadeira de rodas em ritmo normal. Kiara respirava lentamente, a impulsividade incontrolável oscilava, enquanto andara pelos corredores silenciosos, somente o chiar das rodas no assoalho; pressentia o terror que encontrará.

Ali a poucos metros, o clima da casa mudava, o ar tornou-se pesado, e cada vez mais difícil de respirar. Dar-lhe as explicações, conversar sobre o que havia acontecido era a parte mais complicada, desejava ter morrido mais que nunca. E chegava-se o fim do corredor.

Sem Cores, Sem DoresWhere stories live. Discover now