❝Sittin On The Dock of The Bay❞part/9

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"Quero ir quando eu quiser. É de mau gosto ficar prolongando a vida artificialmente. Fiz a minha parte, é hora de ir embora e eu vou fazê-lo com elegância" É uma perfeição de filosofia a ser seguida, ela gosta do modo com que ele se encaixa na atual realidade em que vive. Albert é mesmo um homem que portava ciência.

Num dia cinzento de outono, as camadas grossas das nuvens despertavam uma nevoa sobre as demais arvores da cidade. Kiara desvanecida entre as cobertas que haverá ao redor de si.

O vento esvoaçava as cortinas da janela, a mesma tera esquecido a janela aberta na noite passada. Caminhava em sua face uma brisa gelada, acompanhadas de minúsculas gotas de água que eram borrifadas do céu suavemente, adentrando o recinto. Abrirá os olhos ainda sonolenta, levantando-se.

Passara ao longo do quarto sobre os tapetes de lã, com diligência nos passos, aparentemente indo até as cortinas. Bocejou mau humorada, esfregando os dedos nos olhos retirando o que restará do contorno preto na linha d'água. Agarrou o tecido nas mãos, impelindo um contra o outro, para bloquear a brisa.

Ela vestiu seu uniforme do regimento escolar, e retirou toda e qualquer maquiagem da pele. Somente reparou os cílios com rímel, e um batom nos lábios. Penteou o cabelo curto, e apanhou o celular e a bolsa.

Kiara descia a escadaria da varanda, a flora inteira do jardim pintada com pequenas e sinuosas gotas do sereno. Usava o tempo de sua varanda até o carro preto a sua espera, para enfiar um dos braços na jaqueta jeans customizada.

Jason Resten aparentava austero, olhando o retrovisor a nova passageira no banco de trás. Suas mãos, a direita no volante e a outra servindo de apoio para sua cabeça, o cotovelo dele está firme no que seria a janela do carro.

Ele localiza a garota flamejante atravessando o portão, e o mesmo destrava o carro quando o vislumbre dela aparece do outro lado do carro, uma nítida imagem da flamejante no vidro da janela, abrindo a porta do passageiro com incipiência.

Faz muito tempo que não estão juntos no mesmo lugar, respirando o mesmo ar. É desconcertante ouvir o ruído de suas respirações pelo longo percurso até o colégio.

Peter Meyer terminou o relacionamento com a castanha, a garota flamejante deduz pelos olhos inchados e o modo deprimente que Alyssa Resten, vigia as gotas na janela do seu assento.

Em um momento o olhar de Jason e Kiara se cruzam, mas eles permanecem em silêncio. O Cadillac para diante do sinal amarelo no semáforo, e o para-brisa zanza de um lado para o outro removendo as gotas do sereno, que agora parou de pairar. A umidade está alta.

⎯ Mamãe adorava o outono, adorava a chuvas finas, dizia que era dias de ouro para assistir TV e comer coisas quentes.⎯  Ela sorri amargurada. Jason estava inerte olhando para o volante como se procurasse por algo em sua cabeça, e Kiara o encarava sem conseguir discerni o que o rosto dele queria dizer.

Uma linha se forma na boca dele, comprimindo os lábios. Ele se incomoda com as palavras, está farto e mais austero.

⎯  Ela teve uma overdose, Kiara.⎯ Ela não captava de quem o jovem falara, mas sentia o quanto era doloroso falar daquilo. ⎯  Heroína, era viciada em heroína!

⎯  Quem?⎯ diz a flamejante, sentindo que talvez aquele assunto não a perteça.

⎯  Jason, não começa.⎯  Alyssa interveio indelicada, forçando uma desafeição. Sua fronte tensa anunciava de que temia que ele extrapolasse.

Kiara está aturdida, um estado de ambiguidade se desampara sobre aquele ar desconcertante que contorna o automóvel.

Havia poucos mais de quinze minutos para que eles estivessem na escola, é o que o timer no rádio do carro informa. O semáforo ainda imovimentável no amarelo fulgurante.

⎯ Fala para ela, Aly. ⎯ Ele funga numa risada, balançando a cabeça em um gesto equívoco. ⎯  Vocês não são amigas?

Kiara entreolha a castanha, e logo em seguida o rapaz no volante. Ela não está compreendendo o que eles dizem, não sabe em quem deve depositar o seu olhar confuso diante do conflito enigmático. Jason está martirizando a irmã, aquela reação condizia tão bem com a expressão austera dele.

⎯  Não podemos falar desse assunto. Papai já nos avisou sobre isso.⎯  Alyssa pronuncia como uma regra legislativa, esperando que ele fosse reverente aos desejos do pai.

⎯ Você é igual ao Richard, são dois hipócritas, fingindo que ela nunca existiu, e falando o que ela gostava. ⎯ Vociferou ele, apertando o volante nas mãos, excluindo a figura da flamejante que está quieta e desconfortável pela situação.

Umas ondulações tomam o ar do carro, ficando uma coisa espessa de se respirar. Os aquecedores devem estar ligados, porém, o clima fica frio lá dentro, como se seus corpos expelissem a forma solitária que se sentem através da temperatura.

⎯ Para com isso, Jason. ⎯  disparou urgente, sua voz desestabiliza e sai em um grunhido. Ela quer muito que ele pare de falar daquilo.

⎯  Aquele homem, ele a baniu de casa, e nos disse que nunca mais á veríamos de novo. ⎯ Jason falava de sua mãe, sua voz áspera e amarga. Seu punho fechava, e os suas órbitas ganhavam um vermelho de ódio, e as suas iris castanhas ganharam uma escuridão de angustia.⎯ Faz mais de sete anos. Agora conte a sua amiga a novidade.

⎯  Não, para de falar da mamãe!

⎯ Não sabemos onde nossa mãe está, isso porque o pai maravilhoso de Alyssa a largou em algum lugar desse mundo.⎯  Jason Resten e a sua mandíbula pulsante, os músculos de seu rosto se movem e a sua revolta impossível de ser comedida.

⎯ Porque você é tão babaca as vezes? Você não era assim, Jason.⎯ Rebateu a castanha, insultuosa.

Kiara está naquele fogo cruzado, sem saber ao certo o que fazer. Ele suspira, um suspiro exausto. A atenção dos seus olhos castanhos não está mais no volante, mas nas pessoas que passam na faixa. Mesmo que sua visão seja tomada por imagens distantes, de uma mulher alta e de cabelos escuros, que acaricia o seu rosto.

⎯  Fazíamos muitas besteiras quando pequenos, éramos tão ingênuos. Fazíamos algo errado e ela nos dava advertência, tocava em nossos narizes... e dava uns beijinhos na testa. ⎯  Sua voz em algum momento revela um desiquilíbrio emocional. Ele aparentava tão injustiçado, e sentia-se como tal. Suas mãos não esmagam mais o volante, elas perdem vigor.

⎯ Fiz tantas merdas inapropriadas, e sendo tão estupido esperando que ela entrasse pela a porta, tocasse no meu nariz, e me desse aquele beijo, e falasse Não há problema.

Kiara Anderson ficará muda ouvindo a melancolia na voz do garoto. A única vez que ela viu raiva e a tristeza no rosto de Jason Resten, foi quando ele descobriu que a sua tia paterna Marta Donnis, havia sido morta por dois golpes na cabeça durante um assalto.

Ela simplesmente não conseguia olhar Jason, como um garoto idiota que ele fingia ser. Kiara o via o garoto de olhos castanhos, e face agora rubra, exatamente como era. Um até então, sobrevivente no ciclo doloroso da vida.

Angustiados e sozinhos, eles eram exatamente iguais. Eles tinham vazios, feitos por algo, ou por alguém. É tão egoista de sua parte achar que apenas ela possuía dor, e agora ela ver com mais nitidez.

Sem Cores, Sem DoresWhere stories live. Discover now